O escolhido

Você já se imaginou batendo uma bolinha com Roger Federer? E que tal fazer um treinamento com o suíço antes de ele encarar uma final de Grand Slam? Um juvenil brasileiro já viveu este sonho


“WHAT’S UP? How are you doing? (E aí? Como você está?)”, diz Roger Federer ao passar por um jovem tenista brasileiro em seu caminho para o players lounge do US Open. O garoto responde timidamente, mas vibra por dentro ao ser reconhecido por seu ídolo. “Ele é gente boa”, afirma Henrique Cunha, 17 anos, natural de Jaú, um município pacato, com pouco mais de 100 mil habitantes, no interior de São Paulo. Há cinco ou seis anos, o menino era uma atração em sua cidade ao se destacar nas categorias de base do tênis nacional. Na época, ele já vencia os garotos mais velhos com relativa facilidade, incluindo este repórter.

O tempo passou, o garoto cresceu e o esporte o levou aos principais torneios do mundo. “Este ano joguei Roland Garros, Queen’s, Wimbledon, US Open...”, enumera o juvenil. Nestes locais, ele teve a oportunidade de conviver por alguns momentos com os melhores jogadores do mundo, dentre eles, o melhor do mundo, que agora, ao passar por ele, sabe quem ele é e o cumprimenta.

O suíço costuma escolher a dedo alguns tenistas para participar de seus treinos durante as competições, visando se preparar para o seu próximo adversário. Quis o destino que um dia antes da final de Roland Garros, quando enfrentaria Rafael Nadal, Federer requisitasse a seu agente um tenista canhoto para um treinamento específico.

Como o torneio estava chegando ao fim, os poucos jogadores que ainda estavam em Paris eram juvenis. Por sorte, Cunha, que estava com a equipe da ITF para a disputa da Gira Européia, tinha o perfil desejado.

UM DIA DE SONHO
A partir daí, ninguém melhor que o próprio garoto para contar a história:

“Eu estava no hotel. Era para acordar em um horário, mas o treinador bateu no quarto mais cedo. Ele veio falando em inglês. Não entendi nada, um inglês ruim. Só entendi que era para estar 9h no café. Fui. Chega o (Ivan) Molina (técnico da ITF) que fala espanhol e diz: ‘Você vai aquecer com o Alejo (juvenil colombiano AlejandroGonzalez). Aquece bastante saque que você vai treinar com o Federer depois’. Eu falei: ‘Peraí! Não ouvi direito’. ‘Você vai treinar com o Federer e ele quer treinar bastante devolução, então, você treina saque’. Aqueci com o Alejo uns 40 minutos e fiquei mais uns 20 só sacando.”

“O treino (com Federer) era meio dia. Fui para o vestiário fazer uma concentração ali. Igual jogo (risos). Coloquei camisa, fiz tudo. Aí, o Molina e eu fomos até o vestiário da quadra central. Abre a porta e estava o técnico da Copa Davis da Suíça (Severin Luthi), que estava acompanhado o Federer naquela semana. ‘Espera dez minutos que o Roger está terminando de se aquecer’. Deixei minhas coisas no vestiário e nunca vi um tempo passar tão devagar na minha vida (risos). Ficava andando, não sabia o que fazer. Daí, de repente, chega o cara”.

“Fomos apresentados e já subimos para a quadra. Ele abriu o tubo de bola, eu já estava indo para o fundo, e começamos a bater. Falei: ‘No começo não posso errar!’ Imagina se ele solta a bola e eu erro? Daí acaba (risos). Troquei umas bolas bem, só que era assim: a gente batia uma, duas, três e, na quarta, ele dava um winner, ou dava uma curta perfeita... Ele joga tão fácil que, às vezes, quando vai matar um ponto em que você correu como um louco, ele faz uma firula de tanta habilidade. Treinamos meia hora no fundo. Depois ele ficou voleando e eu fiquei batendo. Ele só voleava no meu pé, mas tudo bem... (risos). Sem contar o slice. Eu relava o joelho no chão para bater o slice do cara. Por isso que ele ganha Wimbledon toda vez, imagine na grama? O slice vem (com o peso de) uma batida, só que com efeito contrário.”

“Ele sacou uns 20 saques. Daí, eu saquei. Ele pediu pra sacar em qualquer lugar e, depois, só na esquerda, tanto primeiro quanto segundo serviço. Foram uns 20 minutos dele treinando devolução. Eu treinei bem até. No fim, o agente veio perguntar se eu não queria aquecer com o Federer no dia seguinte (da final). Só que tinha vôo marcado.

Falei: ‘Eu mudo a passagem!’ Mas o Molina não deixou. Aí tive que ir embora. Se não...” Se não, o garoto viveria mais um dia de sonho ao aquecer Federer para jogar a final contra Nadal em Roland Garros. Quer sonhar mais do que isso?

De recordação deste dia incrível, Cunha guarda fotos e uma bola autografada pelo ídolo. Apesar de ter sido reconhecido pelo suíço em Nova York, Federer concedeu a honra de treinar com ele antes da final ao jovem lituano Ricardas Berankis (campeão juvenil do torneio), que, assim como o jovem brasileiro, seguramente nunca mais esquecerá este dia.

Da redação

Publicado em 18 de Outubro de 2007 às 09:05


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