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Mononucleose

A doença que já atrapalhou a carreira de muitos grandes tenistas, entre eles Roger Federer


A MONONUCLEOSE, TAMBÉM conhecida como “doença do beijo”, é uma enfermidade de baixa mortalidade, produzida pelo vírus “Epstein-Barr”. Sua transmissão ocorre principalmente através da saliva, ou seja, o vírus pode ser transmitido pela tosse, espirro, objetos como copos e talheres, ou qualquer outro modo onde haja contato com a saliva de uma pessoa contaminada, como o beijo, por exemplo.

A porta de entrada do vírus é a mucosa da boca e da faringe. As células do tecido linfoide são o alvo da infecção pelo “Epstein-Barr”. Depois de atingir a faringe e infectar o tecido linfoide, o destino do vírus são os linfócitos B, onde há um receptor específico. Por eles, o vírus se prolifera e invade a corrente sanguínea, disseminando-se pelo fígado, baço, medula óssea e gânglios linfáticos.

O período de incubação da mononucleose, ou seja, em que o vírus fica alojado no organismo antes da sua manifestação, não é definido com exatidão, mas situa-se entre quatro e seis semanas, em média – em crianças pequenas, esse período costuma ser um pouco mais curto, de duas semanas aproximadamente. No entanto, algumas pessoas podem adoecer muito tempo depois.

A incidência da moléstia tem seu pico entre 15 e 25 anos, ou seja, entre adolescentes e adultos jovens – idade em que o beijo está diretamente implicado na transmissão do vírus. Em alguns países, mais de 90% da população adulta já apresentou contato com a mononucleose. Na maioria dos casos, as pessoas têm o primeiro contato na infância, mas a infecção passa despercebida porque o vírus não costuma causar doença quando a criança o adquire. Na verdade, menos de 10% das crianças que se contaminam com o “Epstein-Barr” desenvolvem algum sintoma. Dessa forma, a maioria da população já teve contato com o vírus da mononucleose e já possui anticorpos, estando imunes ao vírus. Após os 30 anos, a mononucleose é rara, uma vez que virtualmente todos nesse grupo já terão sido expostos ao vírus em algum momento da vida.

Manifestações clínicas

Os sinais clínicos mais frequentes da mononucleose incluem febre, comprometimento de toda a garganta, aumento dos gânglios linfáticos e fadiga intensa, que persiste por várias semanas após a melhora do quadro. Outro sinal característico é o aumento do baço (o órgão aumenta tanto de tamanho que pode ser palpável abaixo das costelas, à esquerda do abdômen). Quando ocorre esse aumento, é necessário manter repouso devido ao risco de ruptura. E por mais que seja rara, a ruptura do baço acontece e pode levar à morte devido ao intenso sangramento. O acometimento do fígado não é comum, mas podendo levar a um quadro de hepatite em até 20% dos casos. Outros sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, dores musculares, tosses e náuseas também são comuns.


Robin Soderling ainda não conseguiu voltar ao circuito depois de ter contraído mononucleose. Jelena Dokic (centro) e Justine Henin (logo abaixo) também sofreram com a doença

Tratamento e tempo de recuperação

O tratamento da mononucleose é feito como nas várias doenças causadas por vírus, ou seja, não há tratamento disponível e nem mesmo é necessário uma vez que, na maioria dos casos, ela é autolimitada, o que quer dizer: a manifestação da doença acaba em determinado momento sozinha. São utilizados medicamentos visando o alívio dos sintomas por meio de analgésicos, antitérmicos e, se necessário, medicamentos contra enjoo. É recomendado para aqueles que apresentam baço inchado que não pratiquem esportes ou atividade que representem risco de ruptura.

O tempo de recuperação é lento, podendo levar algumas semanas. O mal-estar e a indisposição duram semanas para passar e os gânglios, um ou dois meses para retornarem ao tamanho normal. A alta pode demorar devido ao comprometimento do fígado. O repouso deve ser mantido até o exame clínico, deixando claro que o baço voltou à normalidade. A recuperação completa ocorre, em média, dois meses depois na maioria dos pacientes.

Como evitar a doença

A doença apresenta imunidade permanente, sendo muito difícil apresentar manifestações em uma segunda infecção. Não há necessidade de isolamento dos doentes uma vez que a infecção ocorre apenas com contato muito próximo ou íntimo. Embora a vacinação tenha uma abrangência que vai além da infecção, esse recurso ainda não existe com a eficiência e segurança recomendáveis.

Complicações e prognóstico

Em alguns casos, podem acontecer complicações devido à mononucleose, como a obstrução da via aérea superior ou infecção bacteriana. Outras complicações raras são descritas, tais como hepatite fulminante, miocardite, pericardite com alterações eletrocardiográficas e pneumonia. Estima-se que a mononucleose evolui para óbito em cerca de 1 caso em 3.000 adoecimentos.

Diagnóstico

O diagnóstico da mononucleose pode ser feito por sintomas e achados que o médico faz durante o exame clínico, além de dados que ele levanta durante a entrevista ao paciente. O diagnóstico com precisão é feito através de hemograma, com aumento dos leucócitos. Quando o fígado é acometido, pode haver elevação das enzimas hepáticas chamadas de TGO e TGP. O diagnóstico definitivo, porém, é feito através da sorologia, com a pesquisa de anticorpos.

Mononucleose: Retorno À prática esportiva

Critérios para avaliar a volta do atleta à prática esportiva:

Treino leve em três semanas se:

  • O baço estiver pouco inchado e não doloroso;
  • O paciente estiver sem febre;
  • A função hepática estiver normal;
  • Não houver complicações.
Treino intenso ou esportes de contato um mês após o início do quadro clínico se:
* Não houver esplenomegalia, com comprovação ultrassonográfica (<14 cm no seu maior eixo);
*Devem ser usados protetores em alguns casos.

Retorno para o esporte e tolerância ao exercício

Entre as infecções respiratórias agudas, a mononucleose é a mais prejudicial para o atleta, levando-se em conta a sua evolução demorada. Sem dúvida, o mais importante para o médico é determinar o momento no qual o atleta pode retornar à prática esportiva.

Podemos aconselhar o retorno ao treinamento com intensidade moderada, a partir da terceira semana, quando estiverem presentes as seguintes condições: que o paciente esteja sem febre, a função hepática esteja normal, o baço esteja de tamanho normal e sem dor a palpações. A partir de um mês após iniciado o quadro clínico, será autorizada a realização de treinos intensos ou esportes de contato. Os indivíduos praticantes de esportes extenuantes ou de contato (futebol, ginástica, rúgbi, hóquei) ou atividades associadas ao aumento da pressão intra-abdominal, em especial o tênis, têm risco mais elevado de lesão no baço, sendo necessária atenção especial, com prazos maiores de repouso até o retorno.

O público praticante de esportes frequentemente apresenta tolerância diminuída quando retorna à prática de exercícios físicos. Um estudo realizado com adolescentes mostrou que após seis meses infectados com a mononucleose, os jovens apresentaram tolerância reduzida ao exercício físico, com diminuição da capacidade física e alterações pulmonares. Dessa forma, o retorno para a prática de esportes nas mesmas condições de antes da doença pode levar um tempo maior para algumas pessoas.

Tênis e mononucleose

No mundo do tênis, vários jogadores conhecidos já foram diagnosticados com a mononucleose, dentre eles: Jelena Dokic, Jarmila Gajdosova, Mario Ancic, Radek Stepanek, Justine Henin, Andy Roddick, Robin Soderling, e até Roger Federer. O caso mais recente foi de Soderling, diagnosticado com a doença em meados de 2011. Desde então, a imprensa informa que o jogador tenta retornar ao circuito profissional, mas ele apresenta recaídas, com cansaço extenuante e fadiga muscular durante os treinamentos, limitando o seu desempenho e sua volta ao circuito profissional.

Não existem estudos mostrando a relação da manifestação da mononucleose em jogadores de tênis. No entanto, os especialistas na área não atribuem o tênis como fator para o aparecimento da mononucleose. Porém, pelo fato de o tênis ser um esporte de altíssima intensidade, o retorno às quadras nas mesmas condições que jogava antes de contrair a doença pode levar um período maior para o atleta. A maioria dos tenistas que ficaram de fora do circuito devido à doença, permaneceram afastados por um período médio de dois a três meses antes de retornar às competições. Porém, cada organismo responde de uma maneira diferente e alguns jogadores podem demorar mais tempo para retornar ao circuito.

Por Jefferson Cabral

Publicado em 9 de Maio de 2014 às 00:00


Saúde/Nutrição doença mononucleose tenista Roger Federer Robin Soderling

Artigo publicado nesta revista

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