O atual técnico de Fernando Gonzalez já treinou John McEnroe, Marcelo Ríos, Yevgeny Kafelnikov e Tim Henman. Nesta entrevista, ele deu uma aula de tênis
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O que você vai ler a seguir é uma entrevista. Mas também poderia ser uma matéria de instrução. Vou tentar explicar: Antes de Roland Garros 2008, solicitei uma entrevista com o norte-americano Larry Stefanki, um dos mais renomados técnicos de tênis do mundo. Antes de treinar o chileno Gonzalez - que ele levou ao quinto lugar na ATP em 2007 -, ele já esteve ao lado de John McEnroe, Tim Henman, Marcelo Ríos e Yevgeny Kafelnikov, os dois últimos quando atingiram o primeiro posto do ranking. Stefanki aceitou marcar um encontro durante o Aberto francês. Encontro-o, obviamente, na quadra de treino com Gonzalez. Curiosamente, o chileno batia bolas com Thomaz Bellucci. Vou até Stefanki e marcamos a entrevista para depois do almoço. Apesar de tantas conquistas como técnico - como jogador, na década de 80, teve apenas um título de simples e alcançou o 35º lugar na ATP -, ele é uma figura simples. Ao contrário de outros treinadores de sucesso, não gosta de aparecer.
Às 14h, como combinado, ele surge. Pergunto quanto tempo teremos para conversar e Stefanki só diz que Gonzalez marcou treino às 15h. Começamos. Em uma hora de bate-papo, ele responde pouquíssimas perguntas. Para alguém que é tido como tímido, o norte-americano surpreende e fala sem parar. A cada questão, o técnico se estende explicando detalhadamente sua visão do tênis atual. No fim, o que era para ser uma entrevista, tornou-se, na verdade, uma aula. Digressivo, Stefanki misturou trechos de experiências como tenista e treinador, com a maneira com que entende o esporte, falando sobre técnicas, táticas e personagens do tênis. Enfim, após horas de edição, destrinchamos tudo o que ele disse e aqui está. Quer entender do que se trata o tênis atual, confira o que Stefanki tem a dizer.
"Tênis é footwork e jogo de corrida em um retângulo. Se você não gostar de ir para frente e para trás, e vice-versa, repetitivamente, não vai se dar bem" | |
John McEnroe |
Como começou seu interesse por tênis?
Vim de uma família muito grande, com nove filhos. Tenho dois irmãos mais velhos e eles começaram a jogar tênis. Mas fiz futebol, beisebol, basquete, joguei todos os esportes. Era muito bom em tudo, mas beisebol era o meu melhor. Eu era pequeno, mas podia correr. Era rápido, muito rápido.
Por que deixou o beisebol?
Beisebol era meu grande amor, mas chegou um ponto em que fiquei cansado de os técnicos formularem opiniões com as quais não concordava. Eles são muito subjetivos em esportes de equipe. Eles têm muitas justificativas de porque alguém não é bom... Ele é muito pequeno, diziam. Aí, meus irmãos começaram a jogar tênis. Finalmente, quando estava com 12, 13 anos, disse: "Ok, tênis". No tênis, você perde ou ganha. Nenhum técnico pode dizer: "Você não é bom o suficiente, não vai jogar amanhã". E amava o fato de ser um jogo de corrida. Eu era um corredor. Sempre fui.
É preciso ser rápido para jogar?
Você tem que correr se quiser jogar. Se não, vai ter um problemão durante a carreira. Porque tênis é footwork e jogo de corrida em um retângulo. Se não gostar de ir para frente e para trás, e vice-versa, repetitivamente, não vai se dar bem. Para o tênis, é uma grande vantagem quando se nasce "com rodas". Se não, é difícil crescer como atleta. Você terá que ter golpes incríveis de todos os lugares. Mas esse jogo tem tantas dinâmicas, por isso me encantei.
Quais dinâmicas?
A dinâmica do jogo de tênis é como nenhum outro por causa da geometria, das alturas, dos efeitos, do reconhecimento dos efeitos, do que o oponente está fazendo. Você tem que reconhecer o que os caras estão fazendo com a bola. Por que ele está fazendo isso? O que a raquete dele está fazendo com o spin? Se observar realmente de perto o oponente - o que um monte de caras não fazem mais, pois apenas batem - você pode criar muito menos tempo para seu oponente. E John McEnroe era um dos melhores nisso.
O que McEnroe fazia?
Quando todos pensavam que ele era extremamente rápido, ele não era. Ele podia reconhecer o que o cara ia fazer, dependendo de onde estava na quadra. Reconhecimento de ângulos. Ele processava no cérebro as opções que o oponente tinha e, por isso, parecia rápido. Ele cobria certas áreas antes mesmo de o cara tentar o golpe. Ele podia dizer o que o outro ia fazer antes de fazer. É quase como um jogo de xadrez em que você vê alguns lances à frente.
"Tênis é footwork e jogo de corrida em um retângulo. Se você não gostar de ir para frente e para trás, e vice-versa, repetitivamente, não vai se dar bem" |
É verdade que você dava alguns drills para McEnroe?
Não necessariamente. Mac tinha todos os golpes. Ele entendia bem o jogo geometricamente e acreditava em pegar a bola na subida. Mac perdeu seu tempo de reação e sua velocidade. É para isso que você dá drills: quando perde a velocidade, fica velho. Ele tinha 30 anos quando começamos, mas ainda era 36 do mundo. E voltou a ser oitavo no último ano. Mas a meta era vencer um Grand Slam ou parar. Então, como isso não aconteceu, ele se aposentou. Mas foi excepcionalmente bem. Forcei Jony a fazer drills e trabalhar duro na preparação. Ele nunca gostou de correr. O melhor comentário de Jony para mim foi: "Larry, sofrimento ama companhia. Se você não estiver lá comigo, indo para o sofrimento, não vou fazer". Então, todos aqueles drills, o trabalho na academia, fazíamos juntos.
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E como McEnroe ganhou velocidade?
Se você quer criar mais tempo para bater na bola, precisa ficar mais rápido sem ela. Não diga: "O cara bate muito forte". Faça algo a respeito! Entre em forma e mantenha os pés em movimento. Você precisa ficar na ponta dos dedos. Tem que reagir mais rápido quando não está com a bola. E tudo em Jony era sobre preparação e reação. Quando você perde isso, seu equilíbrio fica ruim e você fica lento, tudo porque quer que a bola venha até você, ao invés de fazer algo para acelerar.
O que fazia de John McEnroe um jogador especial?
Mac tinha muito controle da bola. Os efeitos, as alturas, controlar a bola de tênis, ser capaz de acertar certas áreas da quadra ao invés de apenas golpear. Acredito muito na duplicação, ser capaz de controlar o vôo da bola de tênis. Os caras hoje batem na bola, mas não controlam o vôo dela. Isso é uma grande diferença. Mac não se preocupava tanto com a velocidade. Ele acertava alvos. Ele dizia: "Larry, não vou para aces. Não vou para a linha. Vou para áreas do quadrado. Tento acertar certas áreas e, se naquele dia estou acertando perto da linha, é um grande dia". Isso leva à consistência. Os caras hoje estão muito apaixonados pela velocidade e pelas linhas. Entendam: "Ninguém é tão bom assim". A linha tem cinco centímetros. Você está batendo uma bola a 220 km/h e tentando colocá-la na linha? Não é fácil, é quase um acidente.
"Se você quer criar mais tempo para bater na bola, precisa ficar mais rápido sem ela" |
Uma vez Bjorn Borg disse: "Se acerto a linha é porque errei a batida, pois estava mirando um metro dentro da quadra"...
Aquela área de um metro dentro da quadra é muito melhor para se tornar consistente. E especialmente para um cara como Borg, que provavelmente teve as melhores pernas que já jogaram tênis. Ele corria e se movia melhor do que qualquer um até hoje. E mentalmente, era muito forte. Com esses dois componentes: frieza mental e um par de pernas; ele destruía os caras.
Ele era melhor que Nadal hoje?
Bjorn tinha outro nível. Nadal tem um corpo grande, Borg não. Era mais como uma gazela. Podia agüentar por cinco ou seis horas sem problema. E Nadal se move bem para um corpo tão grande, mas ele não faz isso parecer fácil. Borg era totalmente diferente. Joguei contra o cara no seu último US Open, em 1981 - ainda era número dois ou três do mundo - e ele cobria a quadra melhor do que a maioria dos caras, desde Federer até Nadal. Ninguém conseguia se mover como ele, era inacreditável. Borg teve domínio absoluto em Roland Garros, como Nadal, mas dominou mais, no sentido de que não cedia games.
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Rafael Nadal | Roger Federer | |
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Você acha que Borg, se jogasse atualmente, ainda seria um campeão?
Sim, Rod Laver, Borg, Mac, se tivessem começado na mesma época seriam campeões agora, porque muito tem a ver com a mentalidade. No início dos anos 80, havia muito mais grandes campeões do que agora. Os abismos agora são fenomenais. Entre os homens há muitos bons jogadores, mas houve grandes jogadores em melhores períodos do que agora, no sentido de consistência.
Mesmo quando falamos de Roger Federer, que muitos consideram o melhor da história?
Mas é apenas uma pessoa. Houve melhores períodos. Se você voltar, houve Borg, Guillermo Vilas, Mac, Jimmy Connors. Todos podiam ganhar um Grand Slam. Antes era de oito a dez caras. Atualmente não é assim... E se Federer não ganhar Roland Garros, o que vai ser dele? Se vencer Roland Garros, algum dia, pode ser o melhor da história. Se não, você vai voltar para Pete Sampras. E, mesmo sabendo que Sampras ganhou Wimbledon por sete anos, ele não serve como o melhor. Mas, Roger é o melhor que já vi em um período de quatro anos. O melhor ano que já vi um jogador ter foi Jony Mac, em 1984, com 83 vitórias e três derrotas. Este ainda é o melhor recorde. Mas, a consistência de Roger, você não pode negar. Nunca vi um cara ser tão bom e consistente durante quatro anos seguidos. Mas vai ter de superar o fato de nunca ter ganho em Roland Garros se quiser ir adiante. Se não, fico com "Rocket" (apelido de Rod Laver) como o melhor da história. Ele ganhou o Grand Slam duas vezes.
Sei que você é fã de Laver...
Quando vejo os filmes de Laver nos anos 60, ele jogava muito. Era pequeno, batia em cima da bola e todos os outros pareciam dinossauros. Todo mundo batia flat e devagar. "Rocket" tinha muita ação de pulso e estilingava a bola. Estava à frente de seu tempo. Foi ele quem originou efetivamente o tênis com topspin. Todos batiam com underspin ou flat. Mas, Agassi também ganhou os quatro Grand Slams. Ganhou nas quatro superfícies e, quando se faz isso em sua carreira, você fica um nível acima.
Voltando às dinâmicas, o que mais lhe atrai no tênis?
Acredito que o jogo de tênis deveria ser sobre tirar tempo de seu oponente. Capitalizar nas bolas curtas, pegá-las na subida e vir para frente. O jogo tem duas dinâmicas: defesa e ataque. E reconhecer quando você está na defesa - pois sempre tem que jogar um pouco na defesa - e fazer a transição de defesa para ataque. Os caras que conseguem reconhecer isso normalmente são melhores jogadores, que chamo de multidimensionais. Gosto de caras que sabem jogar dentro do retângulo todo, não se limitando a apenas um pedaço dele, ou um lado, batendo forehands. Isso é muito limitante. Em certo ponto, você fica contra a parede, porque não pode ir para frente, volear, tirar tempo do oponente, não capitalizando em muitas das oportunidades de ataque. Atualmente, as pessoas pensam que o jogo é muito rápido. Mas, se você perceber cedo o suficiente - e você deseja perceber isso tão cedo quanto a bola quica do outro lado da quadra -, pode tirar tempo do seu oponente e ganhar atalhos.
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Mas você precisa sempre ser ofensivo?
Acho que você pode jogar esse esporte por mais tempo quando tem mais desta mentalidade ofensiva, ao invés de apenas ficar no fundo e ver seu corpo "quebrar" quando ficar velho. Se você é muito defensivo, não pode criar nenhuma oportunidade de finalizar o ponto rapidamente. Na história do tênis, muitos caras, como Mats Wilander e Borg, se aposentaram cedo porque não tinham em que se apoiar, no sentido de jogar na quadra toda. Eles não podiam jogar pontos curtos, terminar cedo, se poupar para quando ficassem velhos. Veja como Hewitt foi bom. Agora ele tem problemas nas costas e está sofrendo fisicamente. Ele é um dos caras mais rápidos que já vi. Mas, quando você começa a perder velocidade, precisa de algo para se apoiar. Poderia ser um grande saque, pegar o segundo serviço na subida e avançar... E essa dinâmica meio que se perdeu.
"Você tem que jogar num estilo que faça a outra pessoa desconfortável. Você não vai deixar Nadal ou Borg desconfortáveis trocando bolas. Eles amam isso" |
Mas como vencer Nadal?
Quando você pega a bola na subida, tira muito tempo de um cara como Nadal, que joga seis ou sete metros atrás da linha de base. Isso é muito corajoso e acho que Roger deveria fazer mais quando joga contra Nadal. Você tem que arriscar, pois não vai vencê-lo na defesa apenas. Você não joga com Nadal tentando empurrá-lo para o fundo, pois ele vai ficar lá o dia todo. Você entra e pega na subida. Tem que fazê-lo entrar na quadra com dropshots, tirando-o da base. Se tentar vencê-lo no jogo dele, não acho que seja interessante. Mac me disse, em 1984: "Não vou ficar atrás com Lendl nunca mais. Não vou tentar trocar bolas com ele". O que ele fez? Chip-andcharge. Quando Mac começou a dominar contra Lendl, ele apenas colocou na cabeça: "Não vou ficar atrás. Toda vez que tenho que começar o ponto de trás, tenho trabalho. Então, se a bola mais curta numa troca é o segundo serviço, vou pegá-la na subida e vir para frente". Assim você não dá ritmo. É como jogar com Borg ou Wilander. Quanto mais bolas eles baterem numa troca, melhores eles são. Mas, se você os força a passálos, não é fácil. Não estou dizendo que vai ganhar todos os pontos, mas suas chances são maiores quando está numa posição em que é melhor. Roger, como Mac, é ótimo na parte da frente da quadra, na "terra de ninguém". Se for jogar esse tipo de tênis, tem que se expor para estar lá. Se recuar, vai ficar cansado e ele vai lhe aniquilar. Roger precisa estar onde tem mais chances. Bata e venha e faça os pontos serem mais curtos. O último cara que venceu Borg em Roland Garros foi Adriano Panatta. O que ele fez? Ele sacou bem e chip-and-charge. Você tem que jogar num estilo que faça a outra pessoa desconfortável. Você não vai deixar Nadal ou Borg desconfortáveis trocando bolas. Eles amam isso.
Fernando Gonzalez | Marcelo Rios |
Como você faz Roger Federer ficar desconfortável? Jogue como Nadal, e seja canhoto. Saque quique, todos os golpes com muito spin alto. Numa quadra com quique alto, isso deixa Roger louco. É isso que Nadal faz. E Roger continua pegando a bola acima do ombro e se recusa a pegar mais na frente. Você vai errar algumas bolas, mas tem que ser capaz de agüentar isso. Vou arriscar e vou fazer alguns erros. Mas não é porque cometi alguns erros que paro de fazer isso. Você tem que estar comprometido com o plano de jogo se quiser vencer. A não ser que Roger decida fazer como Mac em 84, ele vai sofrer. Ele é um jogador de bolas baixas, por isso vai bem nas quadras rápidas. É por isso que Sampras também não podia jogar em Roland Garros. Ele tentava pegar a bola alta, ao invés de ir para frente e pegar na subida. Já Agassi não batia quando ela quicava e estava baixando, mas quando quicava e ainda estava subindo. Agassi venceu Roland Garros fazendo isso. E, no saibro, muitos caras acham que devem ser estritamente defensivos. Não acredito nisso. Estou procurando um jogador que avance. Caras que ganharam Roland Garros jogaram como Agassi. Digo, isso não é fácil, não me entenda mal. Não é fácil, mas, definitivamente, é possível.
"Quando se joga contra alguém com uma empunhadura severa de Western nos dois lados, o slice é muito bom, porque, quem joga assim, normalmente gosta da bola alta" |
É possível vencer Nadal em seu jogo?
É muito importante saber quais as suas vantagens e ficar com elas. Não estou dizendo que não terá de fazer ajustes. Mas, não vejo certos estilos funcionando com caras como Marcelo Ríos, Mac, Sampras, Federer. Eles pegam a bola cedo, usam empunhaduras convencionais, movem a bola rápido, sem muito spin, acertam alvos na quadra e tiram muito tempo. Você quer ter mais tempo? "Vá para trás", dizem. Não acredito nisso. Não é uma má opção se quiser apenas mudar de vez em quando. Mas, se você vai para trás - quando possui uma empunhadura de pegada na subida - é um grande erro, pois está dando mais tempo para os caras de defesa, está alimentando a força deles. Quando um cara como Fernando Gonzalez joga contra Nadal na quadra rápida, gosto das chances dele, pois Rafa não gosta de slice, da bola vindo baixa. Ele gosta dela alta, assim tem tempo para correr. Quando você tira esse tempo, seu jogo fica meio comprometido, porque ele não saca muito bem. Em todo game de saque dele, numa quadra rápida, você tem chances, porque ele não consegue muitos pontos de graça. No saibro, a historia é diferente. Ele fica 40 passos atrás da linha e adora bater aquelas bolas altas.
Você falou de usar slice. Como?
Acredito muito no slice, por causa das empunhaduras. Quando se joga contra alguém com uma empunhadura severa de Western nos dois lados, o slice é muito bom, porque, quem joga assim, normalmente gosta da bola alta. Nadal gosta dela alta. Se a mantém baixa, isso significa que ele não pode controlar tanto o ponto, pois tem que bater de baixo para cima. A maioria dos caras bate topspin, mas não pode bater slices. "Por que não desenvolvem um slice?" Se não, você está se limitando a ser unidimensional no lado do backhand. Poucas pessoas batem slice e, quando fazem, parecem açougueiros. Os slices não são fluidos, não vão muito fundo, é apenas um corte. Eles acham que deve ser um golpe de defesa. Eu não. Sou um cara da escola antiga, desde Laver, Tony Roche, Ken Rosewall, Roy Emerson, que batiam slices muito pesados. Eles usavam porque a bola ficava baixa e seus adversários tinham que bater para cima da rede.
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"Vou arriscar e vou fazer alguns erros. Mas não é porque cometi alguns erros que paro de fazer isso. Você tem que estar comprometido com o plano de jogo se quiser vencer" |
Quem melhor usa o slice hoje?
Acho que Federer usa muito bem, mas pode fluir um pouco mais. Gonzalez também. Acho que Emerson tem o melhor slice que já vi. Algo que penetra a quadra, não um golpe de defesa flutuante que vejo estes caras fazendo no saibro. Estou falando de uma bola que realmente entre na quadra e permaneça bem baixa. Com os grips que os tenistas têm hoje, é muito efetivo. Mas, a maioria nem treina isso. Wilander nunca teve um slice. Ele tinha um dos melhores backhands de duas mãos de todos os tempos, mas desenvolveu o slice e quase ganhou os quatro Grand Slams no ano.
Para você, qual o papel do treinador?
Treinar exige muita abnegação. Você não pode ser técnico e ser egoísta. Não se trata de você, mas de fazer os tenistas entenderem o que gostaria que eles fizessem. Mas eles têm executar. Esse jogo é sobre execução. Uma coisa é executar no treino, outra levar para o jogo. Foi o que falamos sobre reconhecimento. Reconhecer as bolas curtas e avançar, quando jogar na defesa, quando bater bolas altas com spin ou mais slices. Um técnico não pode bater uma bola por alguém. Eles têm que aprender as dinâmicas do jogo através dos treinos e das partidas. Na maioria das vezes, se aprende mais sobre o que poderia e deveria ter feito, perdendo. Muitos dizem: "Poderia e deveria ter feito isso". Mas não trabalham nisso. Dizem: "Nunca mais vou me expor àquela área, pois sou horrível nela". Então você será um profissional muito limitado.
Tentar ser mais completo?
A coisa toda como treinador é fazê-los um jogador mais completo. Você deve tentar se tornar melhor todos os dias, ao invés de ficar satisfeito com o que já faz bem. Há tantos aspectos neste jogo, então, teste a si mesmo. Leve a si mesmo para a zona desconfortável, significando que, se for para aqueles alvos, é a única maneira de se tornar melhor. Se ficar indeciso, é quando deve superar e dizer: "A próxima bola que cair nesta linha de saque vou pegar na subida e ir para cima". Quando perceber ela saindo da raquete adversária - e ela vai ficar curta na sua quadra - você já deveria estar se movendo. Precisa reconhecer e ver isso jogado na sua cabeça antes mesmo de acontecer. Isso é o que os grandes tenistas fazem. Eles vêem isso antes que a coisa toda aconteça. E a próxima parte da equação é execução. Tenha certeza de que você precisa fazer pressão. Quero ver seu oponente fazer uma passada no 5/6. Não importa no 2/2. Aí, qualquer um pode passar. Mas, ele pode fazer no 5/6? Você quer que o oponente pense: "Ele vai vir para frente em todos os meus segundos saques?" O que acontece quando você coloca pressão no seu adversário para acertar um serviço melhor? Muitas vezes, duplas-faltas. Você tem que fazê-lo se sentir desconfortável. Se não, provavelmente perderá. Você tem que mostrar para eles que não vai jogar apenas esperando. E é sobre isso que esse jogo se trata: criar pressão no momento certo. Não é esperar por erros. Você quer que o cara faça dupla-falta? Não. Estes são bônus. Nunca deve esperar por isso. Diga a si mesmo que isso nunca acontecerá. E, sempre que acontecer, veja como uma dádiva. Estes são os elementos que você tenta trabalhar como técnico.
"Você deve tentar se tornar melhor todos os dias, ao invés de ficar satisfeito com o que já faz bem" |
"Seu corpo envelhece, mas os sucos competitivos estão sempre dentro de você. Eles nunca vão lhe deixar. Tenho que trabalhar e melhorar todo dia, mesmo já tendo vencido torneios" |
O que está trabalhando com Gonzalez?
Na primeira vez que nos encontramos, ele disse: "Estou ficando entediado. Tudo que consigo fazer é bater um forehand. Quero jogar na quadra toda". Se quer jogar a quadra toda, neste estágio de sua vida, você terá de falhar em algumas coisas. Está disposto a cometer erros e falhar? Ele disse: "Não agüento ficar fugindo para bater o forehand". É porque você tem um grande buraco no seu lado esquerdo. Quando se tem buracos e fraquezas, tem que tentar melhorar. Fernando é muito esperto, consciente e não tem medo de errar. E, quando se é assim, você cresce como atleta. Quando se protege: "Não quero fazer isso porque vou errar", não será melhor. Todo mundo pode melhorar. Seu corpo envelhece, mas os sucos competitivos estão sempre dentro de você. Eles nunca vão lhe deixar. Tenho que trabalhar e melhorar todo dia, mesmo já tendo vencido alguns torneios. Você deve tentar trabalhar em algo para ficar melhor. E eu escolho a sua fraqueza. Não adianta ficar fugindo para bater um forehand. Você já tem este golpe. E não tem o outro. Trabalhe no outro por um tempo. Aí você se sentirá mais confortável.
Larry Stefanki Nascimento 23/07/57 em Elmhurst, USA |
Publicado em 28 de Agosto de 2008 às 09:07