Eita dupla boa, sô!

A parceria entre os mineiros André Sá e Marcelo Melo foi o grande destaque do tênis brasileiro em 2007. Nesta temporada, espera-se que eles possam ir ao Masters. Antes, porém, tentarão vencer diante da torcida na Bahia


CAMPOS DO JORDÃO E BELO HORIZONTE, mesmo separadas por 492 km, foram os pilares da formação da maior sensação do tênis brasileiro na última temporada. Foi no interior paulista que os belorizontinos andré Sá e Marcelo Melo começaram sua parceria. um SMS uniu esses mineiros. no challenger de campos de Jordão de 2006, Sá estava inscrito na chave de duplas ao lado do equatoriano Giovanni lapentti, mas este desistiu. enquanto isso, Melo voltava para o hotel cabisbaixo, pois não havia conseguido um parceiro. Foi quando seu celular vibrou com uma mensagem do amigo, convidando para que jogassem juntos. Os resultados vieram rapidamente. logo na estréia, conquistaram o título. na semana seguinte, na terra natal de ambos (Belo horizonte), levantaram outro troféu.

fotos: João Pires/FotojumpA história dessa união começou justamente na capital mineira há 20 anos. ainda como juvenil, Sá treinava no Minas tênis clube. um dos seus colegas era daniel Melo, irmão de seu futuro parceiro. “conheço o Marcelo desde que ele é pequeno. Pensar que a gente faria semifinal em Wimbledon é loucura”, diz Sá, de 30 anos. Para Melo, 24, esse passado em comum é uma das principais armas da dupla, pois gera uma forte confiança entre eles. Opinião seguida por Sá: “essa química vem desde o tempo que a gente se conhece. isso faz diferença. Sabemos o que o outro está sentindo”.

além do acaso e da história entre esses mineiros, outro fator foi fundamental para a união deles. ambos não passavam por bons momentos nas simples. em 2006, Sá lutava para não deixar o top 200. Já Melo estava perto do 500º lugar em simples e tinha dificuldades de vencer jogos até em Futures.

além dos títulos em campos e Belo horizonte, em 2006 a dupla ainda ficou com o troféu em Bogotá e o vice em Joinville e Gramado. no ano seguinte, eles não começaram jogando juntos, mas retomaram a parceria no fim de janeiro, quando foram às semifinais no challenger de Santiago e no atP de Viña del Mar. em Viña, desperdiçaram match-points para alcançar a final.

depois de outros dois meses sem grandes resultados e até jogando torneios diferentes, a dupla voltou a fazer uma boa campanha em meados de abril. conquistaram o título do forte challenger de Bermuda e ganharam confiança. na semana seguinte, conquistaram o primeiro título de atP, no saibro de estoril.

DE BH PARA O MUNDO
Em seguida, partiram juntos para Praga, mas disputaram o challenger com parceiros diferentes. apesar desse estranho fato, a capital tcheca foi decisiva para a união dos mineiros. até então, Sá montava seu calendário baseado no seu ranking de simples, buscando torneios que poderia jogar sem pegar quali. Já Melo procurava eventos mais fortes com foco nas duplas. ali assumiram o compromisso de ficarem unidos até o final do ano e escolheriam os mesmos torneios.

Quase um mês depois, a vida deles mudaria na inglaterra. Sá e Melo não estavam muito confiantes para atuar em Wimbledon, já que disputaram apenas duas partidas na grama antes do Grand Slam. logo na estréia, travaram uma batalha com direito a contato físico contra os franceses nicolas Mahut e Julien Bennetau. no quinto set, os brasileiros perdiam por 3/2 e os franceses tinham o saque. Melo pediu atendimento médico. Os adversários entenderam isso como uma tentativa de quebrar o ritmo da partida. depois de devolver a quebra, Benneteau deu uma ombrada em Melo na virada. Mesmo assim, os mineiros mantiveram a calma e venceram.

Se o triunfo em estoril colocou os mineiros em destaque no Brasil, o duelo seguinte em londres ajudou a chamar a atenção do mundo. eles venceram um jogo de cinco dias (devido ao mau tempo), salvaram seis match-points, quebraram o recorde de games disputados em único set em Wimbledon e derrotaram Kevin ullyett e Paul hanley por incríveis 5/7, 7/6 (7/4), 4/6, 7/6 (9/7) e 28/26.

Arnaldo Grizzo

Além da vitória, os mineiros também ganharam algo muito importante: o respeito e admiração dos seus colegas. Depois do jogo, receberam os parabéns de astros como Andy Roddick e Novak Djokovic. Sá lembra que ficou sabendo que muitos jogadores acompanharam a partida pelas tevês dos vestiários. “Acho que contei a história daquele jogo umas 50 vezes”, brinca.

Depois de outra vitória em cinco sets nas oitavas, Sá e Melo encararam Daniel Nestor e Mark Knowles, campeões de Roland Garros duas semanas antes. Os mineiros atuaram de maneira perfeita e precisaram de apenas três sets para avançar. Na semi, duelaram contra os franceses Michael Llodra e Arnaud Clement. Desta vez, tiveram azar e perderam, mas a fama já estava feita.

SEGREDO DO JEITINHO
E os mineiros parecem mesmo que gostam de desafios. Depois de três resultados ruins, voltaram a mostrar um belo tênis e alcançaram as quartas-de-final do US Open. No caminho, derrotaram Max Mirnyi e Jonas Bjorkman, ex-líderes do ranking de duplas. Entretanto, os brasileiros deixaram Nova York com uma notícia ruim. Melo, mesmo involuntariamente, foi pego no antidoping (durante o quali do AT P de Queen’s) e teria de ficar dois meses longe das quadras. Isso acabou com as chances da dupla – que estava entre as 15 primeiras no ranking – de ir ao Masters.

PERFIL

Marcelo Melo
Nascimento: 23/09/1983
Local: Belo Horizonte / MG
Altura: 2,03m
Peso: 87 kg
Profissional desde 1998

André Sá
Nascimento: 06/05/1977
Local: Belo Horizonte / MG
Altura: 1,85m
Peso: 74 kg
Profissional desde 1996

Apesar do sucesso já obtido, os mineiros acreditam que podem melhorar ainda mais. “Eu saco bem. O André tem um serviço menos forte, mas a gente compensa isso com meu tamanho na rede. Não dou espaço para os adversários. E ele devolve demais e é mais rápido, principalmente na hora de atacar”, analisa Melo. “Se eu conseguir desenvolver meu saque e ele melhorar a devolução e a primeira bola, seremos uma dupla muito perigosa”, diz Sá.

Já são perigosos. Esses mineiros, seguindo o clichê, começaram a parceria sem fazer muito barulho – “comendo quietinhos” – mas, hoje colocam o Brasil entre os melhores do mundo. A expectativa para 2008 é de que eles possam alcançar o Masters e repetir o sucesso da dupla Carlos Kirmayr e Cássio Motta que, em 1983, chegaram ao quarto lugar no ranking. Em fevereiro, Sá e Melo estarão na Costa do Sauípe para tentar quebrar o jejum de títulos do Brasil na competição.

Gustavo Pereira

Publicado em 30 de Janeiro de 2008 às 06:36


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista