Especial
O que esperar da temporada 2014 – ano do cavalo segundo o calendário chinês?
NOVAK DJOKOVIC, RAFAEL NADAL E SERENA WILLIAMS. Estes são os patamares que os tenistas precisam alcançar em 2014 se quiserem almejar mais do que papéis de coadjuvantes durante a temporada. Do contrário, no ano do cavalo do horóscopo chinês, só veremos barbadas.
Na edição número 120, a Revista TÊNIS discutiu aprofundadamente os porquês da supremacia de Rafa e Nole no circuito masculino. Os especialistas ouvidos foram unânimes em apontar os poderes físico e mental de ambos como diferenciais. O nível que esses dois gênios atingiram está tão elevado que, a curto prazo, há poucas chances de que surjam outros fenômenos capazes de se interpor entre eles. Assim como algumas temporadas antes Roger Federer havia obrigado todos os adversários a se aprimorarem, agora a disputa entre o espanhol e o sérvio parece continuamente elevar o nível, deixando os outros cada vez mais para trás.
No circuito feminino, quando se esperava uma boa disputa entre Victoria Azarenka e Serena Williams, o que se viu foi um passeio da norte-americana de 32 anos, oito anos mais velha do que a rival bielorrussa. Aliás, Serena é a quinta mais velha no top 100, perdendo apenas para a veteraníssima Kimiko Date-Krumm e para Francesca Schiavone, Lourdes Dominguez Lino e a irmã Venus. Neste ano, ela venceu 11 torneios (sendo dois Grand Slams)e perdeu apenas quatro jogos – em uma de suas melhores temporadas na carreira. Focada e sem lesão – a última vez que isso aconteceu foi em 2010 –, Serena confirmou o que todos sempre disseram: não tem para ninguém.
Inegavelmente, Djokovic, Nadal e Serena foram os protagonistas de 2013, mas outros personagens mereceram destaque. Assim, mais do que tratar do que aconteceu, vamos falar sobre as possibilidades para a próxima temporada, elencando nomes nos quais você deve ficar de olho e o que eles podem aprontar.
Del Potro tem todas as armas para ameaçar os primeiros do ranking
Dimitrov colou no top 20
Os dois estão física e mentalmente muito acima dos demais tenistas e sabem disso. Mais do que isso, eles sabem que a grande disputa é entre eles pelo número um do mundo e também pelos títulos de Grand Slam. A superioridade que Nole exerceu em 2011 já não existe mais. Ambos agora disputam palmo a palmo em qualquer superfície e, em 2014, este cenário dificilmente mudará.
Ganhar um título de Grand Slam era a credencial que faltava para Andy Murray. Ele conseguiu isso em 2012, no US Open. E esta temporada começou boa para o britânico, vice no Australian Open e campeão no Masters 1000 de Miami. O hiato na temporada de saibro mostrou o quanto ainda ele precisa evoluir, mas a consagração veio em Wimbledon, em uma campanha em que seu emocional – o ponto fraco até então – foi testado e aprovado. No entanto, quando estava embalado, o problema nas costas o forçou a encerrar a temporada mais cedo. Então, se em 2014 ele estiver 100% recuperado (precisou passar por cirurgia), é um dos poucos que pode ameaçar Nadal e Djokovic. Tecnicamente ele é capaz de superar os dois, basta ver se fisicamente conseguirá se igualar.
Desde 2009, quando surpreendeu o mundo e venceu o US Open, Juan Martin del Potro não consegue manter o ritmo de seus principais concorrentes (Nadal, Djokovic, Murray e Federer). Este ano, porém, talvez tenha sido sua temporada mais regular, apesar de novamente ter sido prejudicado por problemas, desta vez menos graves do que as lesões dos anos anteriores (um vírus o tirou de Roland Garros). Delpo ainda está um pouco distante das primeiras posições e da briga pelos grandes torneios, mas tem potencial para tanto, desde que não se lesione e reforce a parte mental (o que depois de duas temporadas duríssimas é de se esperar).
A última vez que Roger Federer não esteve no top 5 foi no comecinho de 2003, ano em que venceu seu primeiro Grand Slam. Até então, ele nunca havia estado entre os cinco melhores do mundo. A última vez que ele ganhou somente um ATP foi em 2001. Até então, ele nunca havia conquistado nenhum. Isso mostra o quão 2013 foi abaixo das expectativas para o suíço. Assim, muitos podem considerar 2013 quase como um ano sabático para ele, que venceu apenas um torneio e terminou em sexto lugar no ranking. Com a prerrogativa de poder escolher as competições de que queria participar sem sofrer sanções da ATP, Federer diminuiu o calendário, mas certamente não previu quedas tão bruscas como na segunda rodada de Wimbledon e nas oitavas do US Open. Isso fez com que ele repensasse suas metas. Chegou até cogitar trocar de raquete. Com o término da temporada, ao contrário do ano passado em que viajou durante os últimos meses disputando exibições – o que ele confessa que atrapalhou sua preparação para 2013 –, ele começou a treinar forte (enquanto Nadal e Djoko eram vistos em turnês na América do Sul). Com 32 anos, duas filhas, 17 Grand Slams, 2014 será um ano de provação para Federer. Ele sabe que o relógio é seu adversário.
Raonic esteve entre os 10 primeiros do ranking. Agora é o momento de provar que tem consistência
Já que o top 5 dificilmente verá grandes mudanças em 2014, vale apontar alguns nomes que podem começar a incomodar os grandes. Grigor Dimitrov certamente é um deles. O búlgaro de 22 anos terminou o ano em 23o lugar e deve ambicionar metas mais ousadas na próxima temporada. Este foi seu segundo ano consistente no top 100 e isso é um fato importante, pois algumas marcas são importantes na carreira de um tenista ainda jovem e inexperiente. Todos sabem que ingressar no top 100 é uma coisa, manter-se lá é outra. E ele, mais do que se manter, tem ganhado posições.
Outro que pode avançar ainda mais é o canadense Milos Raonic, de 22 anos. Ele terminou o ano em 11o, sendo que esta também é apenas a sua segunda temporada efetiva entre os 100 primeiros do mundo. Aos poucos, ele vai descobrindo que precisa mais do que seu poderoso saque para vencer em um circuito cada vez mais disputado.
Ainda entre os top 100, há outros que podem surpreender. Um deles é outro canadense, Vasek Pospisil, de 23 anos, que conseguiu um belo salto no ranking, terminando em 32o depois de uma campanha excepcional no Masters 1000 de Montreal, onde foi semifinalista.
Vale apontar ainda alguns espanhóis e argentinos de nomes ainda pouco conhecidos, mas que, aos poucos, vão ganhando espaço. O primeiro deles é Roberto Bautista Agut, 25 anos, apenas o nono melhor espanhol no ranking, em 58o. Ele entrou no top 100 no fim de 2012 e soube se manter. Depois dele vem o “fenômeno” da temporada, eleito o tenista que mais subiu no ranking, Pablo Carreno Busta, de 22 anos. Ele começou o ano em 654o, jogando Futures e Challengers, e terminou em 64o. O salto parece incrível, mas a verdade é que, em meados de 2012, quando buscava uma posição no top 100, ele teve uma hérnia de disco, precisou fazer uma cirurgia e caiu no ranking. Sua volta foi triunfal.
Entre os argentinos, o jovem canhoto Guido Pella, de 23 anos, vem flertando com o top 100 desde o final do ano passado, sem, contudo, conseguir se firmar. Mas tem talento e, com mais experiência, pode ganhar regularidade. Da mesma geração e também canhoto vem o compatriota Federico Delbonis, que finalizou a temporada em 55o depois de boas campanhas no fim do ano (venceu Federer – que estava testando raquete nova – na semifinal em Hamburgo). É outro nome para ficar atento.
Desde 2008 o Brasil vem perseguindo as grandes conquistas de duplas. Naquele ano, Marcelo Melo e André Sá firmaram uma parceria que teve diversas conquistas, mas sem grande sucesso nos principais torneios. Na época, Bruno Soares também já despontava com uma semifinal em Roland Garros, porém sem conseguir fixar um parceiro. Em 2010, Melo e Soares resolveram unir forças, passaram dois anos juntos, com muitas vitórias, mas também sem alcançar os grandes objetivos. No ano passado, alternaram parceiros até encontrarem as formações ideais. Em 2013, Bruno fez final do US Open e venceu seu primeiro Masters 1000, no Canadá com Alexander Peya. Marcelo, por sua vez, foi vice em Wimbledon e ganhou o Masters 1000 de Xangai com Ivan Dodig. Feitos históricos, que os levaram ao ATP Finals e ao top 10. Isso lhes dá tranquilidade para começar a temporada 2014 sempre entre os cabeças de chave, evitando assim duplas mais perigosas nas primeiras rodadas dos torneios. Porém, diferentemente de Soares e Peya, que só se preocupam com suas carreiras como duplistas, Melo ainda precisa “dividir” Dodig com as simples. O croata de 28 anos atingiu seu melhor ranking individual nesta temporada, terminando em 33º. Portanto, será preciso ponderar o quanto ele pretende se dedicar às duplas.
Se para as duplas brasileiras a temporada 2013 foi excepcional, o mesmo não pode ser dito para os tenistas de simples. Thomaz Bellucci sofreu com contusões e falta de confiança e ficou fora do top 100. Rogério Silva também não conseguiu se manter nessa faixa – lembrando que este foi apenas o primeiro ano em que ele teve ranking para se aventurar nos torneios maiores e a maioria dos tenistas demora de um a dois anos para se adaptar a essa transição. Quem também pode sofrer um pouco para engrenar e subir de nível é o jovem Guilherme Clezar, de 20 anos. Talento e intensidade de jogo ele tem para beliscar o top 100 em 2014. O mesmo se dá com Thiago Monteiro, 19 anos, que, aos poucos, vai fazendo a transição dos Futures para os Challengers com sucesso.
Depois de um ano mágico, em que passou a figurar no top 100, tornando-se a primeira brasileira em mais de 20 anos a conseguir o feito, Teliana Pereira certamente vai precisar manter o ritmo intenso para conseguir a regularidade que se espera de alguém entre as 100 primeiras do ranking. Em boa parte deste ano ela já sentiu a dificuldade de encarar os maiores torneios, com adversárias mais competitivas, então, tudo dependerá de um bom começo de 2014.
Se Teliana mantiver sua posição no top 100, certamente as outras meninas brasileiras vão se animar. Paula Gonçalves, Beatriz Maia e Laura Pigossi são jovens talentosas e com potencial, e que podem conseguir resultados tão bons quanto os de Teliana. Bia teve problemas de lesão neste ano, do contrário, talvez tivesse alcançado ranking ainda melhor (está entre as 300 do mundo). É bom ficar de olho em seu último ano como juvenil.
Se aos 32 anos Roger Federer nitidamente precisa se esforçar cada vez mais para acompanhar seus principais rivais, com a mesma idade, Serena Williams parece se distanciar cada vez mais de suas oponentes. E vale apontar que, entre as top 100 da WTA, mais de 40% das meninas tem até 23 anos, ou seja, estão no auge da forma física, diferentemente de Serena. Das quatro derrotas que ela teve em 2013, duas foram para Victoria Azarenka. Desde 2009, Serena não perdia para a bielorrussa. Vencer a norte-americana não é tarefa fácil. Seu saque raramente é ameaçado. Isso faz com que ela se sinta à vontade para entrar na quadra e devolver o serviço das adversárias sem piedade. Além disso, é preciso aguentar a pancadaria do fundo de quadra sabendo variar, e não apenas passando a bola para o outro lado, do contrário, Serena toma conta do ponto. Hoje são poucas as mulheres capazes de sustentar o seu ritmo. Continuar como número 1 e conquistar mais títulos parece que depende apenas da vontade dela.
Vika talvez nunca tenha se sentido tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante de Serena quanto em 2013. Ela conseguiu a proeza de vencer a norte-americana duas vezes, mas, quando realmente importava, na final do US Open, novamente não suportou a força da rival. Ainda assim, isso é um bom sinal para a bielorrussa. Ela já aprendeu que apenas a regularidade não é suficiente para derrotar Serena e está cada vez mais agressiva e determinada em seus duelos. Contra a potência da rival, porém, não se pode piscar. Se a norte-americana baixar a guarda (como é costume em sua trajetória, ela não mantém o ritmo durante muito tempo), Azarenka é a principal concorrente a assumir seu posto.
O ombro direito tem sido o principal rival de Maria Sharapova desde 2007. A lesão vai e volta, com maior ou menor intensidade, e isso faz com que ela tenha boas sequências interrompidas. Neste ano, ocorreu isso novamente. Ela fez um bom começo de temporada, mas, assim que chegou Wimbledon, voltou a sentir dores e precisou parar. O problema no ombro, contudo, tem deixado a russa distante das adversárias não só em termos de ranking. Seu jogo, que sempre foi baseado na potência, parece que fica ainda mais limitado quando enfrenta uma oponente que é capaz de se defender bem e variar, tanto que Serena e Vika lhe deram algumas “aulas” em partidas nos dois últimos anos. Para 2014, Sharapova, que diz estar recuperada, planejou um calendário intenso. Resta saber se além do ombro, o tempo parado serviu para consertar seu plano tático.
Depois de Azarenka, as duas tenistas mais jovens no top 10 são Agnieszka Radwanska e Petra Kvitova. Ambas são muito talentosas, mas ainda pecam muito pela instabilidade emocional, o que, no tênis feminino, é obstáculo crucial para o sucesso. Ambas, porém, já estão há três anos no top 10, duelando constantemente com as melhores do mundo, ou seja, desde os 20 anos de idade. Em um momento, a experiência adquirida precisa fazer a diferença para elas.
Radwanska é talentosa, mas lhe falta experiência
O tênis feminino passou por momentos de completa indefinição nos últimos anos, sem grandes lideranças, até que Serena resolveu retomar as rédeas do circuito. Porém, tem-se a impressão de que sempre pode ocorrer algo inesperado e um novo nome florescer. Portanto, há meninas às quais devemos ficar atentos. A primeira é a norte-americana Sloane Stephens, de apenas 20 anos, mas de personalidade e volume de jogo impressionantes para sua idade e estatura (apenas 1,70 m). Ela começou o ano derrotando Serena e indo à semifinal no Australian Open. Nada mal.
A romena Simona Halep é outra a ser observada. Ela foi considerada a tenista que mais evoluiu na temporada, passando do 47o lugar em 2012 para o 11o ao final deste ano, depois de conquistar seis títulos. A alemã Sabine Lisicki é o terceiro nome desta lista. Se não fosse pela inexperiência, teria vencido Wimbledon, onde foi finalista depois de uma campanha espetacular, derrotando Serena, Samantha Stosur e Radwanska.
Mais atrás no ranking, também vale apontar alguns nomes que, aos poucos, podem beliscar feitos um pouco mais grandiosos. A canadense Eugenie Bouchard, de 19 anos, considerada a “novata” da temporada, vem galgando posições no ranking ano a ano. Em 2013, terminou em 32o lugar. Um ano antes, ela havia vencido Wimbledon como juvenil. Outras duas jovens seguem a mesma toada. A espanhola Garbine Muguruza e a argentina Paula Ormaechea fizeram a transição para os torneios maiores com sucesso e, assim como Teliana, em 2014 terão que provar estarem realmente aptas para esse nível.
Publicado em 26 de Dezembro de 2013 às 00:00
Quem vai brilhar em 2014?
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