Ex-tenista fez um panorama sobre o momento dos tenistas brasileiros e se mostrou foco em criar equipe unida e dedicada
por Guilherme Souza em 19 de Março de 2019 às 20:14
Foto: Thiago Parmalat/CBT
O paulista Jaime Oncins está motivado. Anunciado na última sexta-feira (15) como substituto de João Zwetsch no papel de capitão do Time Brasil na Copa Davis, o ex-jogador profissional de 48 anos que defendeu as cores verde e amarela durante 11 anos na competição, prometeu em entrevista exclusiva para a Revista Tênis buscar o trabalho em equipe para ajudar o país a reconquistar o prestígio na mais importante competição entre equipes do mundo do tênis.
Leia mais:
+ CBT anuncia Jaime Oncins como novo capitão do Time Brasil na Copa Davis
+ João Zwetsch encerra o ciclo como capitão da equipe brasileira da Copa Davis
"Quando veio o convite a primeira coisa que veio na cabeça foi isso, de poder formar um time que a gente possa colher frutos no futuro e ser vencedor", disse Oncins, que esteve nas duas melhores participações do Brasil na competição, com as semifinais em 1992 e 2000.
Durante o bate-papo, Jaime se disse orgulhoso do novo papel e comentou sobre o espirito lutador que planeja incentivar dentro da equipe. De quebra, ele fez um panorama sobre o momento dos principais jogadores na categoria de simples masculino, como Thiago Monteiro, Rogério Dutra Silva e Thomaz Bellucci e fez um balanço sobre a nova geração liderada por Thiago Wild.
Realista, o capitão comentou sobre os planos, com foco na criação de um time unido e dedicado. "A gente não pode nem pensar em falar em título. A fase é de formar uma equipe sólida. É um trabalho para médio prazo, tenho que conversar com os jogadores, já que alguns deles eu não conheço tão bem, preciso ter um conhecimento maior.".
Qual o seu sentimento nesse retorno ao Time Brasil?
Fiquei bem contente com o convite, junto com ele veio uma responsabilidade muito grande. Estar a frente do Time da Copa Davis exige um comprometimento, um conhecimento do que é uma Copa Davis. Me sinto feliz e orgulhoso de poder ser o novo treinador. Pretendo começar desde já, mesmo com o próximo confronto razoavelmente longe, lá em Setembro, mas já estou me preparando e me inteirando um pouco mais de como está o tênis e como estão os nossos jogadores.
Chegou a acompanhar os últimos jogos do Brasil na Davis (Bélgica, Equador, Republica Dominicana)? Que balanço você faz das atuações dos tenistas?
Eu não gosto muito de comentar o que já aconteceu. Eu pude acompanhar tanto com a Bélgica quanto contra a República Dominicana, jogadores diferentes foram usados em todos esses confrontos. O Brasil está vivendo um momento que não é fácil, onde estamos buscando ter jogadores entre os 100 melhores do mundo. Eu sei que temos jogadores que têm condição, que já estiveram lá e tem condição de voltar a estar entre os 100 e também temos uma nova safra vindo, de jogadores novos que estão começando no circuito profissional e que têm uma boa perspectiva para o futuro.
O cearense Thiago Monteiro, atual número #1 do Brasil, durante o duelo contra a Bélgica. Foto: Divulgação/CBT
Qual o comentário que pode fazer do momento dos jogadores brasileiros atualmente?
O Thiago Monteiro é um jogador novo, apesar de ter uma boa experiência e ter bons anos no circuito profissional, é um tenista que está buscando o seu melhor tênis. Eu o conheço muito bem, tive a possibilidade de várias vezes estar no mesmo torneio, na época em que treinava o Gastão [Elias, tenista português].
Os jogadores mais experientes, como o Thomaz e o Rogerinho, são tenistas que estão buscando o retorno ao seu melhor tênis. Principalmente o Thomaz deu uma caída no ranking, mas eu sei bem da capacidade que ele tem, do jogo que ele tem e onde ele pode estar. É uma questão de tempo para ver se ele vai conseguir recuperar o seu melhor tênis. O Rogerinho também é um jogador muito experiente, teve bons resultados.
E em uma fase diferente está essa garotada. Todos eles estão num início de carreira na verdade, começaram a sair do juvenil e encaminhar para o profissional, onde os desafios são bem diferentes, são maiores. Temos alguns jogadores dentro dessa nova safra e um potencial para conseguir se destacar no futuro.
Conversando com o Eduardo, seu irmão, fiquei sabendo que o projeto gira em torno de fazer uma ponte com as novas gerações de jogadores e buscar a renovação dos valores da Davis. Como pretende fazer isso?
Eu acho que a gente tem que ser bem realista. A gente não pode nem pensar em falar em título. A fase é de formar uma equipe sólida. É um trabalho para médio prazo, tenho que conversar com os jogadores, já que alguns deles eu não conheço tão bem, preciso ter um conhecimento maior.
Eu entendo que todos os jogadores tem o seu calendário ao longo do ano, o seu ranking, o seu schedule de torneios. Quero conversar com todos o que eu tenho em mente para uma possível convocação e saber qual o comprometimento para a Copa Davis. Entender que a Copa Davis é uma competição especial, que exige um comprometimento naquela semana realmente como um time, apesar do tênis ser um esporte individual, entender que o time é mais importante que a individualidade de qualquer um. Quero entender quem está afim, quem tem esse perfil e trabalhar junto.
É um início de trabalho, temos um bom caminho aí pela frente para percorrer, mas o primeiro passo é esse: identificar quais os jogadores que têm essa disponibilidade, que topam encarar o desafio - porque acho que é um desafio você conseguir levar o Brasil a essa 'Copa do Mundo' no final do ano.
Campeão da chave juvenil do US Open em 2018, o paranaense Thiago Wild é o grande nome da nova geração do Brasil. Foto: Divulgação/Brasil Open
Qual o objetivo principal nesse retorno ao Time Brasil?
O primeiro objetivo é ganhar de Barbados. Eu já joguei muitos anos a Copa Davis, sei que é confronto por confronto que você tem que ver. Não adianta você pensar que para 2020 o objetivo é ir para a fase final em novembro, que é o que todo mundo gostaria, mas precisamos ser realistas e ir passo a passo. O primeiro passo que temos pela frente é contra Barbados. Diferente de um torneio normal que você tem uma chave e já sabe quem será o seu adversário em caso de vitória, na Copa Davis você não tem isso. O primeiro objetivo tem que ser esse, construir um time para ganhar de Barbados e depois pensar nas próximas partes.
O senhor já fez um raio-x do próximo adversário do Brasil, o time de Barbados? Eles têm apenas um jogador no ranking ATP (Darian King, 191º). Considera que o jogo pode ser mais "tranquilo' por conta disso?
Eu já tenho experiência o suficiente para saber que não dá para se basear pelo papel. Barbados tem o King, um jogador que joga bem e inclusive agora em Miami perdeu um jogo duríssimo no terceiro set contra o Denis Istomin, então é um jogador que tem suas virtudes. Eu tive a oportunidade de estar em um torneio com ele quando treinava com o Gastão, sei que ele prefere jogar em quadras rápidas, tudo isso está sendo visto e levado em conta. Todo adversário que nós enfrentarmos temos que respeitar justamente para não ter nenhuma surpresa.
Pelo que apurei, o nome do senhor foi escolhido logo de cara pelo presidente Rafael Westrupp e também estava presente numa lista feita pelos jogadores e enviado a CBT com sugestões. A notícia foi bem vista por ex-tenistas, como Guga e Meligeni, e pela imprensa. Como vê esse cenário e todo esse apoio?
Isso só aumenta a responsabilidade. Quando você tem esse apoio, tanto dos jogadores, quanto do presidente e dos jornalistas, esse feedback positivo aumenta sua responsabilidade, eu tenho consciência disso. Como falei, nem começou o trabalho, é o início uma fase. Já amanhã estarei em Miami para conversar com os jogadores que estão presentes durante o quali do Miami Open, justamente para começar a entender melhor e traçar o perfil dos jogadores que eu gostaria de contar.
Quais os pontos positivos e negativos que viu na mudança de formato na Copa Davis?
Esse novo formato da Davis você tem uma pressão maior, porque a margem para erro é bem menor. A principal mudança no formato é essa questão dos jogos serem disputados em melhor de 3 sets e não de 5 sets. Às vezes em melhor de 5 sets você começa mal e aí precisa se recuperar. Melhor de 3 sets não. Você tem que começar bem porque a chance de se recuperar é menor. O jogador tem que gostar da pressão que vai encontrar. Na Copa Davis já existe uma pressão maior por você estar defendendo as cores do seu país, então o jogador tem que gostar e ter o perfil.
Tem também a questão de você jogar duplas no mesmo dia de simples, precisa tomar uma atenção na hora de uma convocação. O lado positivo é o de você poder convocar 5 jogadores em vez de 4, e assim ter um quinto reserva para poder colocar a qualquer momento.
Você acha que essa mudança de formato faz o torneio de alguma forma perder a emoção?
Não sei se perderá a emoção, mas a gente não vai ter aquelas disputas históricas, aqueles jogos que realmente você tem em três dias, um país contra o outro, existia um charme, mas agora não teremos mais isso por ser em 2 dias. É um primeiro ano de adaptação até para todo mundo entender melhor como vai ser.
Em novembro, quando for a final, a gente vai ter uma ideia melhor se foi uma mudança mais para o lado positivo ou não. Eu a principio, por ter jogado 11 anos, tenho aquela nostalgia de como era boa a semana de Copa Davis. Todo mundo junto, passando dias inteiros focados no objetivo, as maratonas que eram as partidas. Isso são coisas que ficam na memória de todo mundo que participou.
Muitos ex-jogadores não quiseram assumir a posição de capitão da equipe por estarem focados em outros projetos e esse ser um grande desafio. O que te motivou a aceitar o convite?
Justamente pelo fator de trabalhar em equipe. Eu adoro trabalhar em equipe, montei uma equipe forte aqui no High-School nos Estados Unidos. Comecei um trabalho do zero, tinha três estudantes, sendo que dois eram meus filhos. E hoje estou com 21 estudantes no time de High-Perfomance e montei um time desde a base, que acabou vencendo dois Estaduais e agora neste final de semana, na primeira vez que jogamos uma competição nacional, fomos campeões.
Então acho que isso é uma coisa que eu gosto muito, de fazer com que os jogadores entendam a importância de jogar em equipe. Logo quando veio o convite a primeira coisa que veio na cabeça foi isso, de poder formar um time que a gente possa colher
O senhor é conhecido pela entrega e vontade que tinha em quadra, algo elogiado por um grande número de pessoas. Acha que esse aspecto da sua personalidade conseguirá ser passado para os jogadores e que isso pode ajudar a trazer bons resultados?
A minha ideia é justamente essa, ter jogadores que tenham esse perfil, que vão vibrar dentro de quadra, vão vestir a camisa e vão encarar isso como a semana mais importante para eles. Quando você está na Copa Davis tem que esquecer tudo e encarar aquilo como sua principal meta e buscar vencer a equipe adversária independente de quem seja.
Qual o recado final que gostaria de deixar para os fãs de tênis?
Posso comentar que estou encarando isso como um desafio grande e entendo a responsabilidade que eu tenho. Eu vou fazer o máximo que eu puder e buscar fazer os jogadores convocados entenderem isso também, que essa é uma competição importantíssima e tem de ser levada a sério. Vou cobrar isso de todo mundo e tenho certeza que vou ser cobrado também nessa parte.
Agora estamos nessa fase de 'lua de mel', mas sei que quando surgir a primeira convocação vão surgir as criticas e já estou me preparando para isso. Mas eu tenho a consciência que o que eu quero fazer é o melhor possível na Copa Davis. Digo que podem esperar isso de mim, não é esperar vitória ou ser campeão, mas podem esperar que será um trabalho sério, com dedicação para botar todo mundo para encarar isso como tem que ser encarado, com espirito de equipe forte e com muita luta para conseguir encarar os objetivos.