Torneio wimbledon

Brasil das duplas revive bons tempos em Wimbledon

A dupla dos mineiros André Sá e Marcelo Melo fezhistória no Grand Slam britânico e rememorou outras parcerias brasileiras de sucesso


WIMBLEDON 2007 PARECIA fadado a ser mais um símbolo da má fase do tênis profissional do Brasil. Nenhum brasileiro conseguiu vaga na chave de simples, algo que não acontecia há 11 anos. Entretanto, o País se destacou no torneio com uma excepcional campanha da dupla André Sá e Marcelo Melo. Os mineiros chegaram à semifinal após derrotarem alguns dos melhores duplistas da atualidade e, de quebra, entraram para a história do Grand Slam inglês ao vencerem a partida de segunda rodada por 28 a 26 no quinto set, anotando o maior número de games disputados em um set final.

1- Marcelo Melo
2- André Sá

Vencer este jogo épico contra o australiano Paul Hanley e o zimbabuano Kevin Ulyett e atingir as oitavas-de-final já parecia ser um feito incrível para os brasileiros. Na primeira rodada, eles também haviam enfrentado uma terrível batalha, que por muito pouco não chegou às vias de fato. Os franceses Julien Benneteau e Nicolas Mahut venciam o quinto set por 3/2, com uma quebra à frente, e se irritaram quando Melo pediu atendimento médico. Depois disso, os mineiros tomaram a dianteira. Nervoso, Benneteau peitou Melo e xingouo em uma das viradas de lado. Para finalizar a partida, Sá acertou um ace na linha, que causou dúvida, mas na quadra 18 não há hawk-eye. Exaltados, os franceses bateram boca com o árbitro de cadeira. Na saída, Mahut ofendeu os brasileiros e quis encarar o grandalhão Melo, que se portou como um Lord e evitou a confusão.

Nas oitavas, eles venceram mais outra dura partida de cinco sets, desta vez contra o austríaco Alexander Peya e o alemão Christhoper Kas. A rodada seguinte colocou Sá novamente diante de Daniel Nestor, que deu show nas duplas durante o confronto Brasil e Canadá na Copa Davis em Florianópolis, em abril. Na ocasião, o canadense “jogou sozinho” contra Sá e Guga e conquistou um ponto para seu país. Desta vez, para piorar, Nestor estava acompanhado do parceiro Mark Knowles, das Bahamas. Eles são os atuais campeões de Roland Garros e terceira melhor dupla no ranking.

A vitória, que parecia improvável, foi a mais fácil dos brasileiros no torneio. “Tivemos a melhor atuação de nossas vidas”, definiu Melo após três tranqüilos sets. O sucesso dos mineiros fez com que a semifinal contra os franceses Arnaud Clement e Michael Llodra fosse transmitida para o Brasil. Sá e Melo entraram confiantes, tiveram chances, mas perderam em sets diretos para a parceria que se sagrou campeã no dia seguinte. A formidável campanha, porém, serviu para colocar a dupla nacional entre as 15 melhores do ano e os jogadores entre os top 40 no ranking, um grande feito para um País que, em simples, não tem ninguém entre os 100 primeiros.

TRADIÇÃO

Carlos Kirmayr (foto) e Cássio Motta formaram a quarta melhor parceria do mundo em 1983

Melo e Sá formam um conjunto bastante equilibrado. O primeiro é jovem (23 anos) e alto (2,03 metros). O segundo é experiente (30 anos) e muito ágil. Esta mescla é um dos segredos.

O outro é a amizade. Eles nasceram em Belo Horizonte, se conhecem há anos, mas só passaram a jogar juntos em meados de 2006. No Challenger de Campos do Jordão, Sá teria o equatoriano Giovanni Lapentti, que se machucou, como parceiro. Assim, pôde atuar ao lado de Melo e conquistar o título da competição. Em maio deste ano, novamente coincidências deste tipo os uniram durante o ATP de Estoril, onde foram campeões. Ao que tudo indica, agora eles não se separam mais e, quem sabe, chegam ao Masters de duplas no fim do ano.

Esta não seria a primeira vez que uma parceria 100% nacional disputa o evento que reúne as oito melhores duplas do mundo. Em 1983, Cássio Motta e Carlos Alberto Kirmayr formaram o quarto melhor conjunto da temporada e jogaram o Masters em Nova York. Motta apareceu em quarto no ranking de duplas daquela temporada e Kirmayr em oitavo. Um ano antes, eles foram semifinalistas de Roland Garros. Em 1992, Motta voltou a fazer semifinal na França, mas ao lado do argentino Pablo Albano. Antes disso, porém, Thomaz Koch e Edison Mandarino já brilhavam defendendo o Brasil nos confrontos da Copa Davis. Eles somam 23 vitórias e apenas nove derrotas. Há tempos os nossos duplistas garantem seus pontos na competição entre nações.

E as glórias não param por aí. Além dos sete Grand Slams em simples, Maria Esther Bueno ostenta outros 11 em duplas. Ela e Koch ainda possuem um título nas mistas em Roland Garros. Maria Esther venceu em 1960, com o australiano Bob Howe, e Koch, em 1975, ao lado da italiana Fiorella Bonicelli. Motta e Cláudia Monteiro foram vice em Paris em 1982, assim como Jaime Oncins e a argentina Paola Suarez, em 2001. Jaiminho chegou a ser 22º no ranking de duplas em 2000, ano em que foi semifinalista do Grand Slam francês ao lado de Daniel Orsanic, também da Argentina. Por tudo isso, a boa fase dos mineiros, Melo e Sá, apenas confirma a tradição que o Brasil possui na modalidade preferida por muitos amadores nos clubes e academias do País.

DICA:
Quer aprimorar seu jogo de duplas? Confira a matéria “Seja mais completo: jogue simples e duplas”, na edição anterior, número 47.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 1 de Agosto de 2007 às 12:57


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista