A prática esportiva sempre gera dores, mas, se souber minimizá-las, não é preciso interromper a atividade física
UM AMIGO, SEMPRE que tinha dores no corpo – obviamente geradas pelo tênis, gostava de dizer: “O tênis é um esporte fisioterápico”. Fazia-me rir. Era a maneira que encontrava de se convencer de que não precisava diminuir o ritmo no esporte, nem se cuidar paralelamente com métodos realmente fisioterápicos. Como todo tenista-homem-amador-em torno de 50 anos que se preze, era um fanático. Tudo menos admitir que o tênis pudesse trazer qualquer efeito deletério. Estava com tennis elbow e recusava tratamento. Até que finalmente, depois de minha insistência e vendo que a coisa só piorava, resolveu se tratar.
Infelizmente, nenhum esporte significa saúde em todos os sentidos. E nosso esporte predileto não escapa a esta regra. Antes que você resolva parar de ler este artigo ou comece a ficar deprimido achando que vou aconselhá-lo a abandonar seu hobby e terapia preferidos, digo que o tênis tem muitos pontos positivos e há solução para continuar jogando, contanto que cuide de seu corpo a fim de minimizar os desgastes inerentes à sua prática.
Os músculos, nos esportes, são muito solicitados em contrações constantes e exigentes. Já reparou que o tenista é em geral muito rígido de musculatura? E que também é limitado na amplitude de movimento de suas articulações? Como normalmente não são alongados suficientemente e de forma inteligente, na mesma proporção em que são solicitados em encurtamento, os músculos tendem a se tornar rígidos e “encurtados”. Nessa condição são mais propensos a sofrerem lesões, a serem doloridos cronicamente, além de comprometerem a boa colocação do esqueleto ósseo. O que leva a desvios posturais e compressão articular, ocasionando o pinçamento de nervos, as hérnias discais e as artroses. Tudo isso, por sua vez, gera mais rigidez muscular. Um círculo vicioso se instala. O que fazer?
Minha experiência como tenista quase profissional, há muitos anos, deixou algumas das sequelas expostas acima: rigidez muscular e articular, dores no ombro e nas costas, péssima postura. Em busca de tratamentos e depois de experimentar muitas técnicas, acabei tornando-me profissional de reeducação corporal. O caminho que trilhei me permitiu identificar os cuidados que devemos ter para evitar lesões e minimizar os desgastes do esporte. Crie espaço para eles na sua rotina e você colherá ótimos frutos!
SOBRECARGAS
O que mais encontramos nos praticantes assíduos do tênis e de qualquer outro esporte? Dor. Lombalgia, cervicalgia (dor no pescoço), dor ciática, dor no ombro, no braço, no cotovelo, no quadril, na sola dos pés. Estas dores, em geral, são contornadas com antiinflamatório, companheiro preferido dos fanáticos e, às vezes, vá lá, um pouco de alongamento. Vez por outra também, quando o bicho pega de verdade, algumas sessões de fisioterapia. Com o tempo, se algo não é feito para resolver a raiz do problema, gritam as hérnias discais, as artroses, as ciatalgias crônicas, os tennis elbow etc. Nesse ponto, muitos acabam indo para a “faca”, como último recurso. E tantos outros acabam tendo de abandonar as quadras definitivamente.
De onde vêm essas dores? Quando praticamos muito um esporte, somos vítimas das sobrecargas físicas por ele geradas. O tênis sobrecarrega a coluna pelo impacto do corre-corre na quadra. Isso é potencializado pelas quadras rápidas. Sobrecarrega os joelhos pela mesma razão e pelas mudanças bruscas e constantes de direção na corrida. Sobrecarrega o braço que usa a raquete, sendo ombro e tendões dos músculos extensores do antebraço os que sofrem mais. Problemas biomecânicos dos gestos do tênis também podem gerar lesões. Daí as bursites, tendinites, ou até rompimento de tendões. Finalmente, problemas no quadril e coluna gerados pelas exigências de colocação dos pés para os golpes são frequentes. Por isso, fique atento para evitá-los.
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AQUEÇA E ALONGUE
O primeiro passo, básico e que muita gente ainda não faz, para jogar tênis e minimizar as dores é aquecer. Não leva muito tempo e pode ser determinante para evitar uma lesão. Além de te colocar “em jogo” muito mais rápido. Dez minutinhos mobilizando as articulações do corpo e aquecendo os músculos globalmente são suficientes. Comece pelos tornozelos, um de cada vez, com movimentos de flexão/extensão e circundução. Lentamente, sem trancos. Suba para os joelhos, flexão/extensão, movimentos circulares em seguida. Articulação entre a coxa e o quadril, explore seus movimentos, então o quadril, depois coluna com movimentos de extensão/flexão e torção, pescoço, ombros, cotovelos, punhos e mãos. Não há segredo nisso, explore os movimentos de cada articulação com cuidado e delicadeza. Em seguida, faça uma pequena caminhada, a passos rápidos, em torno de dois minutos. Se quiser, pode fazer um trote lento no final. Pegue em seguida sua raquete e comece a movimentar-se suave e lentamente com os gestos do tênis: direita, esquerda, saque, voleio, pernas e braços. Brinque um pouco assim. Pronto, isso basta. Ao entrar na quadra inicie a troca de bola sem força e movimentando- se lentamente. Vá aumentando o ritmo progressivamente.
Muita gente ainda acha que alongamento é sinônimo de aquecimento. Definitivamente, não é! E se feito sem habilidade e com a musculatura muito fria pode até machucar. Nada impede que você faça alongamentos após o aquecimento sugerido acima. Não antes. Os músculos precisam estar um pouco aquecidos antes de serem alongados sem perigo. Por outro lado, depois de jogar eles são fundamentais para devolver alguma elasticidade aos músculos exigidos em encurtamento. Reserve então mais dez minutos para esse trabalho. Alongue pelo menos panturrilha, posteriores e anteriores da coxa, coluna, braços.
Esses são os cuidados imediatos fundamentais antes e depois da quadra. Além disso, outras atitudes também são importantes para manter a saúde. Trataremos disso nos próximos artigos.
Maria Luisa de André, formada em Educação Física e pós-graduada em fisiologia do exercício pela USP, é especialista em Ginástica Holística e RPG. incorpore@marialuisa.com.br |
Publicado em 1 de Agosto de 2007 às 14:27