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Hora do show

Sim, o maior de todos virá ao Brasil e se você é realmente um fã de tênis não pode perder a chance de vê-lo atuar


Ron C. Angle/TPL

"Se eu não jogar por mais alguns anos, elas não terão ideia de quem sou", disse algumas vezes Roger Federer sobre se aposentar somente depois que suas filhas gêmeas, Charlene e Myla (atualmente com pouco mais de dois anos), tiverem idade suficiente para verem o pai atuando e entenderem o seu "status". Seria uma pena mesmo que as duas meninas crescessem e não tivessem a oportunidade de ver o maior gênio que já passou pelas quadras, especialmente sendo ele o pai delas.

Com aquela frase, o suíço meio que determina duas coisas. A primeira: não pretende se aposentar nos próximos dois anos. A segunda: depois das filhas crescidinhas, "bye bye" tênis. Então, se você é mesmo um fã fervoroso do esporte e nunca o viu atuando de perto, sugiro que o faça. Isso é algo que todos os amantes do esporte deveriam fazer, como fazem os muçulmanos, que uma vez na vida precisam visitar Meca.

Federer é a Meca do tênis. A Revista TÊNIS teve o primeiro contato próximo com ele em 2003, ano em que a revista foi lançada. Ao chegarmos para a cobertura do Masters Series de Montreal na sexta-feira que antecedia o torneio, o suíço - que havia acabado de vencer Wimbledon - já estava lá, treinando. O sol da tarde canadense era escaldante, especialmente naquela quadra dura. Ele e o compatriota Ivo Heuberger bateram bola durante duas horas e meia.

Não havia jornalistas em volta. Não havia ninguém. Na época, repórter da revista, eu já admirava o jogo de Federer, mas não tanto. Mesmo assim resolvi ficar observando. Lembro de ter ficado tão impressionado com a facilidade com que ele golpeava, que suportei duas horas e meia debaixo de sol ao lado da quadra sem perceber o tempo passar. Ao final do treino, aproveitando que não havia mais ninguém em volta, aproximei-me do então campeão de Wimbledon para trocar algumas palavras. Simpático, respondeu duas perguntas e, ao final, fiz algo que a escola de jornalismo ensina a não fazer, mas não resisti. Disse a ele: "Sou jornalista, mas devo confessar que também sou um fã. Então, se você não se incomodar, poderia me dar um autógrafo?"

Ele esboçou aquele sorriso de canto de boca que até hoje desarma os jornalistas e conquista o público e disse: "Com certeza". Pegou meu caderno de anotações, fez sua marca e ainda agradeceu. Esta foi a única vez "burlei" as regras do bom jornalismo e agi como fã.

VER PARA CRER

fotos: Ron C. Angle/TPL

Na época, nem número um do mundo ele era ainda. Era apenas o começo de sua escalada e seu domínio. Depois disso, Federer se tornou uma lenda. E, como jornalista, acompanhei algumas de suas conquistas in loco. Depois de vê-lo ao vivo e de perto em várias ocasiões, especialmente nos Grand Slams, comecei a "temer" por sua aposentadoria. Assim como o suíço agora admite não querer parar antes de as filhinhas poderem apreciar seu jogo, eu também temia que ele abandonasse as quadras sem que meu pai - que começou a jogar tênis por minha causa - pudesse ver ao menos uma partida dele in loco.

Então, em 2010, fui cobrir o US Open e "levei meus pais na bagagem". Para garantir que eles veriam pelo menos uma partida do gênio, comprei-lhes ingressos para todas as sessões dos dois primeiros dias. Não foi preciso esperar muito. Colocaram sua estreia logo na primeira noite, contra o argentino Brian Dabul. No primeiro set, como era esperado, ele massacrou o argentino com todas as suas armas, fazendo 6/1. Se o jogo terminasse aí, já me daria por satisfeito, pois o suíço estava avassalador - como em seus melhores dias. Ou seja, minha missão estava cumprida.

Federer é o supra-sumo da excelência no esporte

No entanto, nunca poderia imaginar que Federer ainda guardava o seu melhor. No meio do segundo set, depois de um rali, Dabul conseguiu um lob quase perfeito. Quase. Assim como na histórica semifinal de 2009 contra Djokovic, o suíço alcançou a bola e executou um Grand Willy magistral, no contrapé do argentino. O Arthur Ashe Stadium, lotado, com mais de 20 mil pessoas, veio abaixo. Ver de perto um dos tenistas mais habilidosos da história já é algo espetacular. Vê-lo performar um de seus truques mais brilhantes da carreira, é algo para a vida.

NO BRASIL

Assim, quando durante o Masters 1000 de Miami foi anunciada sua tão esperada vinda ao Brasil para dois jogos de exibição em dezembro (ainda sem datas, locais e adversários definidos), abriu-se uma oportunidade única para diversos fãs de tênis brasileiros, pois "Meca" virá até eles.

Federer já flertava com o Brasil há algum tempo. Desde que uma das marcas que o patrocina passou a ser apoiadora do Brasil Open, os promotores têm negociado com seus agentes para trazê-lo ao torneio. Porém, isso não aconteceu, pois o suíço, obviamente, prioriza um calendário mais restrito e não iria mudar sua rotina de tantos anos, trocando competições na Europa, perto de sua casa, por uma na América do Sul.

Ainda assim, há alguns anos ficamos na torcida para que o Brasil pudesse, eventualmente, enfrentar a Suíça pela repescagem da Copa Davis e, desse modo, quem sabe, ter Federer por aqui enfrentando Bellucci & cia. Todavia, o sorteio nunca "colaborou".

Agora, com a vinda certa, só resta esperar ansiosamente para que ele desembarque e abra sua mala de magias, como sempre faz. Então, senhoras e senhores, o espetáculo vai começar, preparem-se.

BONS MOTIVOS PARA NÃO PERDER A VINDA DE FEDERER AO BRASIL

- Ele é considerado o maior tenista da história, tendo vencido 16 Grand Slams (um recorde entre os homens) e sido líder do ranking por quatro anos e meio ininterruptamente;

- Seus jogos são garanti a de grandes espetáculos, pois ele certamente é um dos tenistas mais habilidosos da história;

- Ele é mais do que apenas um grande tenista. Já se tornou uma lenda do esporte. É um atleta modelo. Um exemplo de pessoa dentro e fora das quadras, com família equilibrada, bom marido, bom pai e bom colega (já ganhou o prêmio de espírito esporti vo por seis vezes - cinco seguidas -, além de quatro vezes o Laureus - como o maior atleta do mundo em todos os esportes);

- Sua simpati a e carisma são inigualáveis. Poucos esporti stas têm tanta consciência de seu papel na divulgação do esporte e de sua importância como modelo para as gerações futuras;

- Ele já passou dos 30 anos (idade críti ca para atletas), mas conti nua apresentando sua melhor forma. Apesar de afirmar que deve jogar por mais alguns anos, a verdade é que sua aposentadoria está cada vez mais próxima, então, é bom não perder a chance de vê-lo de perto.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 23 de Abril de 2012 às 14:34


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Artigo publicado nesta revista