Juvenil
Quais as trilhas que os jovens podem (ou devem) percorrer para que o tênis permaneça em suas vidas mesmo que eles não se tornem profissionais?
SEU FILHO COMEÇA A JOGAR TÊNIS e você ouve os amigos dizendo que ele leva jeito, é talentoso, ou que gosta muito porque não sai da quadra. Aí você decide dar um empurrãozinho na promissora carreira dele. Muitas perguntas, opiniões, conselhos e dúvidas vão surgir. Qual caminho seguir? Quando é hora de começar a competir? Que torneios jogar? E quando é a hora de saltos mais altos? Uma das maiores preocupações de pais de tenistas "marinheiros de primeira viagem" é se as derrotas do início da "carreira" podem desestimular ou se elas espelham o talento e capacidade de seus filhos para o esporte. Mas, por incrível que pareça, o maior causador de abandonos precoces no tênis é o excesso de vitórias e não de derrotas.
Na verdade, é muito mais fácil uma criança que goste de tênis passar anos competindo e perdendo muito mais do que ganhando, do que passar anos jogando com a pressão do excesso de vitórias. Atente para o fato de que apenas 25% das crianças que ocupam as primeiras posições dos rankings de 10 e 12 anos seguem jogando até os 16 anos e apenas 10% mantém-se jogando entre os 10 melhores de 18 anos. Vitórias ou derrotas não são fatores decisivos na carreira de um atleta, mas as reações e a abordagem de pais e treinadores sobre esses temas é que farão total diferença e definirão os paradigmas desse atleta. Tudo depende de uma profunda e enraizada maneira de interpretar, pensar e sentir a vitória e a derrota. São pequenos ou grandes comentários que depois precisarão de anos de psicologia para serem entendidos e, aí sim, talvez conseguir melhorar seus efeitos negativos ou aproveitar os positivos. Isso tudo nos leva a crer que, ganhando ou perdendo, o ideal é sempre enaltecer as qualidades e esforços das crianças. Bater palmas nas derrotas não é fácil, mas talvez seja sua mais profunda contribuição na formação do emocional de seus filhos-atletas em qualquer modalidade.
Em um encontro mundial de técnicos, dirigentes e entidades internacionais especificamente sobre esse assunto (ocorrido na Turquia em 2005), os brasileiros (principalmente as brasileiras) foram considerados demasiadamente conservadores - o que pode ser uma das causas de um amadurecimento mais tardio.
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Os gráficos mostram diferentes caminhos de jovens até os 17 anos que se tornaram grandes jogadores. A linha vermelha representa competições juvenis de 18 anos. Repare que todos iniciaram nesse tipo de competição bastante cedo e, algumas vezes, sem resultados expressivos.Djokovic, Murray, Sharapova e Ivanovic começaram a disputar torneios de 18 anos aos 14 e os mantiveram ao menos até os 16 anos com bastante importância em seus calendários, mesclando já aos 15 e 16 anos com torneios profissionais. Neles não estão incluídos torneios estaduais, regionais e nacionais, que sempre complementam os calendários ao menos como exercícios.
Djokovic: jogou seu primeiro torneio ITF de 18 anos aos 13; aos 15, jogou seis torneios da categoria; aos 16, quatro, e seis profissionais. Aos 17 anos, jogou três ITF (provavelmente os Grand Slams), mais três da ATP, uma Copa Davis, seis ITF profissionais e sete Challengers.
Murray: aos 15, jogou sete ITF de 18 anos e um profissional; aos 16 jogou 17 torneios ITF de 18 anos, cinco profissionais e três Challengers.
Sharapova: jogou seis torneios ITF de 18 com 14 anos e recebeu um convite para um profissional; aos 15 jogou os mesmos seis torneios de 18 anos, cinco profissionais e um WTA; aos 16 jogou três profissionais ITF, nove WTA e os quatro Grand Slams profissionais; aos 17 jogou 17 torneios da WTA e os quatro Grand Slams profissionais.
Ivanovic: jogou três torneios ITF de 18 aos 14 anos e 20 aos 15; aos 16 jogou 10 juvenis da ITF e quatro profissionais; aos 17, jogou três torneios da WTA, quatro profissionais e três ITF de 18 (Grand Slams).
A ITF compreende que esse conservadorismo dificulta alcançar carreiras de sucesso. Ou seja, a mentalidade de levar os jogadores apenas para os torneios que eles estão prontos para ganhar é, percentualmente, errônea. E produzirá jogadores emocionalmente carentes de experiências. Haja visto que dos tenistas considerados "fenômenos", apenas 10% ganharam suas primeiras partidas em um Grand Slam de 18 anos.
Número e grau de dificuldade das competições devem ser bem estudados para manter o interesse e a motivação dos jovens
A seguir, demonstra-se um melhor caminho a ser percorrido ou, ao menos, uma rota, com um percentual maior de sucesso. E que permite uma exploração maior das experiências disponíveis, aprazíveis e motivadoras do tênis amador.
Juvenis que competem permanecem 75% mais tempo no esporte do que aqueles que praticam por hobby
Assim, baseado em estatísticas e comparações da trajetória de jogadores brasileiros de um nível bom (ou seja, nem excepcionais e nem abaixo da média), pode-se traçar um "mapa" com um caminho alternativo visando manter os jovens no esporte até os 17 ou 18 anos e atingir um nível técnico que permita optar pelas bifurcações da idade: profissionalismo, universidades ou o tênis social de alto nível como ferramenta de relacionamento.
A ITF, através de estudos estatísticos, concluiu que conseguir centralizar a atenção de atletas e técnicos para o 103ranking juvenil de 18 anos é um dos melhores caminhos para manter a motivação e atingir o nível técnico desejado para que um atleta possa sentir menos a transição do tênis juvenil para o profissional. Baseada nessa teoria, criou o projeto "Junior Exempt", que, entre outros benefícios, premia os jogadores com melhor ranking com convites para torneios profissionais.
Podemos então concluir que não existem desvios muito drásticos dessa rota e que alternativas - como permanecer apenas vencendo em torneios pequenos ou partir cedo apenas para os torneios profissionais - são opções de baixo índice de sucesso. Outro dado importante para os pais que gostariam que seus filhos permanecessem envolvidos no esporte, ao menos até a época dos vestibulares, é que os "competidores" permanecem 75% mais tempo no esporte do que os que praticam somente por hobby. E, como último argumento para que você se predisponha a dedicar alguns finais de semana ao seu filho: as competições de tênis não só favorecem, mas induzem e, na maioria dos casos, dependem da companhia e participação dos pais.
Publicado em 24 de Abril de 2012 às 07:20