Regras do Tênis

Medical time-out, quando pedir?

Você conhece as regras para a chamar o atendimento do fisioterapeuta em quadra?


Fotos: Ron C. Angle/TPL

VOCÊ SABE QUE, NO TÊNIS, tem direito a dois saques. Caso erre o primeiro, pode sacar mais uma vez. Isso todo mundo sabe. Sabe também que não pode pisar na linha na hora do saque. Isso também todo mundo já está careca de saber. Mas há algumas regras que nem todos conhecem, incluindo alguns tenistas profissionais desavisados. Várias delas estão relacionadas ao tratamento médico e fisioterápico em quadra.

O fisioterapeuta é o profissional que, geralmente, assume o papel de prestador dos primeiros cuidados médicos nos torneios de tênis e, por isso, são chamados PHCP (Primary Healthcare Provider). Segundo as regras oficiais do tênis, todos os atletas têm direito de receber assistência médica em quadra como forma de garantir a integridade física dos competidores e mantê-los em condições físicas de igualdade perante o seu adversário, tornando assim o duelo mais competitivo.

Na tentativa de elucidar o que se passa na quadra, os motivos pelos quais os atletas chamam o fisioterapeuta, bem como sua atuação no seguimento das regras oficiais, vamos abordar algumas situações frequentes no atendimento em quadra.

Fotos: Ron C. Angle/TPL

O tenista que pretende chamar um fisioterapeuta à quadra deve tentar fazer o pedido ao árbitro o quanto antes

O QUE DIZ A REGRA?

A primeira coisa que os atletas devem saber é que a sua solicitação para receber assistência médica em quadra pode ser recusada pelo árbitro. O atleta deve, obrigatoriamente, informar ao árbitro o motivo pelo qual pretende a assistência (exemplos: dor em alguma região, reajuste de bandagem, água etc). O pedido é deferido caso o árbitro e o supervisor (chefe de arbitragem) considerem que é realmente necessária a presença do fisioterapeuta.

O tenista que pretende chamar um fisioterapeuta à quadra deve tentar fazer o pedido ao árbitro o quanto antes, de preferência entre um ponto e outro antes do término do game. Dessa forma, o atleta todo o tempo de intervalo será usado para o seu tratamento.

É muito comum, principalmente, em torneios juvenis, os atletas se sentarem para a virada e só então solicitar a presença do fisioterapeuta. Nesse caso, quando o profisisonal chega à quadra, o tempo de intervalo já está se esgotando e, portanto, o fisio não terá tempo suficiente para avaliar o atleta. Assim, teoricamente, o tenista deveria voltar ao jogo de imediato, mas, na prática, não é o que se tem visto. Muitas vezes, os atletas utilizam essa "artimanha" (sentar-se e chamar o fisio), na tentativa de atrasar o jogo. Os oficiais devem tentar combater esse tipo de "estratégia". O ideal, nesse caso, é que o árbitro/supervisor não prolongue o intervalo e permita a assistência somente na próxima mudança de lado.

Outro aspecto importante é que nem sempre o fisioterapeuta utilizará o "medical time-out" (três minutos). O profissional pode ir à quadra e utilizar apenas o tempo de intervalo, pois isso não é escolha do atleta, mas sim do fisioterapeuta.

Fotos: Ron C. Angle/TPL

MEDICAL TIME-OUT

De acordo com o regulamento do tênis, o "medical time-out" só pode ser solicitado nas seguintes situações:

  1. Lesões, mazelas ou quaisquer acometimentos que surjam durante o aquecimento/jogo (chamadas "condições tratáveis agudas");
  2. Lesões já instaladas ou acometimentos pré-existentes que possam se agravar durante o jogo ou desencadear outros processos lesivos (chamadas "condições tratáveis não-agudas).

A avaliação do fisioterapeuta em quadra (durante o intervalo) tem caráter decisivo no cumprimento das regras, visto que nesse momento ele determinará se é uma lesão aguda e, até mesmo, se é uma lesão pré-existente que poderá se agravar durante o jogo ou não.

A assistência em quadra é limitada a um "medical time-out" e dois "change over" (intervalo de virada de game)/"set break" (intervalo de virada de set) por partida. Por isso, o atleta deve evitar solicitar a presença do fisioterapeuta sem necessidade. Não obstante, o fisio deve ter consciência dessa limitação e só solicitar o "medical time-out" se realmente for necessário.

Vemos muitos casos em que o tempo de intervalo entre os games são suficientes para assistir o atleta, mas o fisioterapeuta (por não conhecer a regra) solicita o "medical time-out". Dessa forma, o jogador pode vir a ser prejudicado, caso ele sofra alguma real lesão durante a partida.

SEM DIREITO AO "TIME-OUT"

Existem ainda situações bem definidas em que o "medical time-out" não é permitido, chamadas "condições não-tratáveis". São elas:

  1. Não enquadramento nas situações citadas anteriormente;
  2. Acometimentos ou lesões pré-existentes sem possibilidades de agravamento;
  3. Acometimentos em que os três minutos do "medical time-out" não sejam suficientes para o tratamento da lesão/acometimento identificado;
  4. Acometimentos relacionados ao condicionamento físico e calor (cãibras, cansaço, desidratação, insolação etc).

Apesar das condições acima não permitirem o "medical time-out", o atleta pode ser assistido para qualquer uma delas nos intervalos. O árbitro responsável pelo jogo tem autonomia para solicitar a presença da equipe médica, em nome do atleta, caso ele esteja sem condições de fazê-lo.

É importante ter em mente que, em quaisquer situações de caráter médico, a decisão do PHCP (Primary Healthcare Provider) é soberana, tanto para a assistência em quadra quanto para a interrupção do jogo, caso um jogador venha a ser considerado sem capacidade física para prosseguir.

DIREITOS DO JOGADOR
Evento
Change Over ou Set Break
Medical Time-Out
Quantidade por jogo
2
1+1*
Tempo
90 segundos/ 120 segundos
180 segundos/300 segundos**

* Pode ser atribuído um segundo medical time-out, caso seja realmente necessário e não tenha qualquer relação com o primeiro medical time-out.

** casos de sangramentos

PERSPECTIVAS QUE ENVOLVEM A CHAMADA DO FISIOTERAPEUTA EM QUADRA

Casos frequentes:

1) Um jogador começa a sentir cãibras.
Resposta: O jogador pode solicitar a presença do fisio em quadra, mas deve estar ciente de que o atendimento ocorrerá apenas durante o intervalo dos games. Sendo assim, aconselhamos que informem ao árbitro que pretendem a presença do fisio em quadra antes de o game terminar. Os jogadores devem informar o fisioterapeuta sobre o que realmente está sentindo (cãibras) para evitar qualquer possibilidade de tratamento inadequado.

2) Uma jogadora sente dores menstruais durante o jogo.
Resposta: Apesar de existirem fisioterapeutas que possuem técnicas de relaxamento que contribuem para amenizar as dores provenientes do período menstrual, essa é considerada uma situação não-aguda e que, provavelmente, não poderá ser solucionada nos três minutos do "medical time-out". O melhor, nesse caso, é a jogadora solicitar ao árbitro que lhe seja fornecido algum medicamento e, assim, a entrega do medicamento não é considerada uma assistência em quadra. Para essas situações, é altamente recomendável que as jogadoras façam um bom controle do ciclo menstrual e visitem a "physio room" antes de irem para a quadra e converse com o fisioterapeuta sobre estratégias a utilizar na partida.

Ron C. Angle/TPL

Fisioterapeuta deve ter consciência se o tempo de intervalo é suficiente para o tratamento ou se é mesmo necessário o medical time-out

3) Um jogador tem um calo/bolha e vai para o jogo.
Resposta: O jogador pode e deve solicitar a presença do fisioterapeuta. Sendo calos, o fisio pode pedir o "medical time-out", mas, apesar disso, o tenista deve dar atenção ao número de calos que possa ter, pois o tempo permitido para a intervenção pode não ser suficiente para fazer curativos eficazes em muitos calos. Em se tratando de bolhas, algumas vezes o próprio atleta pode colocar um curativo (band-aid) para ajudar até o término do jogo. Ainda assim, o jogador pode solicitar assistência do fisio e, na maioria das vezes, o "change over" é suficiente para evitar um agravamento da mazela. É importante ressaltar que, apesar de estarmos diante de mazelas pré-existentes, o calor do solo associado às movimentações e peso corporal podem proporcionar piora do quadro e, por isso, o atleta pode ser assistido em quadra.

4) Um atleta começa a sentir dores de cabeça durante a partida.
Resposta: Nesse caso, o tenista tem duas opções: chamar o fisio para assistência ou apenas solicitar um medicamento ao árbitro. Apesar de existirem técnicas de eliminação de dores de cabeça, não é garantido que sejam eficazes em três minutos ou menos. Além disso, o efeito produzido pela manobra fisioterápica pode ser obtido com a dosagem de um comprimido específico. Por esse motivo, a decisão de solicitar o time-out ou apenas dar um medicamento deve ser tomada pelo fisio em conjunto com o jogador. Nesses casos, é sempre utilizado um intervalo, exceto se o tenista apenas solicita o medicamento ao árbitro.

5) O kinesiotaping ou bandagem está caindo (descolando).
Resposta: O jogador deve ponderar o grau de importância daquela bandagem, uma vez que vai utilizar um "change over" dos que tem direito durante todo o jogo.

6) O jogador precisa de água ou gelo.
Resposta: Não deve chamar o fisioterapeuta, mas sim o staff do torneio para que seja verificada a possibilidade de fornecimento de água ou gelo. Chamar um fisio para essas situações é gastar um "change over" sem necessidade.

7) O jogador estava vencendo e, de repente, sofre uma virada no placar.
Resposta: Essa é a chamada mais maldosa do tênis, pois o fisioterapeuta não vai fazer com que ele volte a ganhar. Infelizmente, essa é uma atitude antidesportiva vista com muita frequência no circuito, especialmente juvenil.

8) Um atleta pode receber medicamento injetável em quadra?
Resposta: Não é permitida a utilização de agulhas, tratamentos intravenosos ou aplicação de medicamentos injetáveis em quadra. A única exceção é o caso de Diabetes mellitus, desde que seja previamente comprovada, por indicação médica escrita, a necessidade de aplicação de medicamento injetável.

Mais informações: fabiooliveira@fcdef.uc.pt

Fábio Carlos Lucas De Oliveira

Publicado em 17 de Outubro de 2012 às 11:50


Preparação Física/Fisioterapia Regras do Tênis Tempo Médico

Artigo publicado nesta revista

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Revista TÊNIS 109 · Novembro/2012 · Arma mortal de Del Potro