Tênis brasileiro em nova Era

Para muitos, o patrocínio dos Correios tem tudo para se tornar um grande marco do tênis brasileiro. O presidente da CBT, Jorge Lacerda, acredita que, enfim, o esporte poderá se desenvolver


O dia 17 de junho de 2008 tem tudo para ser lembrado como um dos mais importantes para a história do tênis no Brasil. Ao menos é nisso que a maioria dos envolvidos com o esporte acredita. E não é para menos, já que os Correios resolveram encampar um grande projeto do tênis nacional e vão investir, a princípio, R$ 3.840.000 por ano na Confederação Brasileira de Tênis (CBT).

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Marcelo Ruschel

Esse tipo de apoio é algo jamais visto na história do esporte que Guga ajudou a disseminar no País. Espera-se, com isso, que alguns dos principais problemas do nosso tênis, como a formação de base, por exemplo, seja saneado e possamos criar, enfim, uma cultura de tênis, de onde, entre outras coisas, saiam novos talentos. O que esse patrocínio vai significar e como será empregado? Para responder, ninguém mais apto que o presidente da CBT, Jorge Lacerda.

Por quanto tempo é o contrato de patrocínio dos Correios?
Por 12 meses, com cláusula de prorrogação de até 60 meses. A cada ano pode ir auto-renovando e pode aumentar ou reduzir o valor - dependendo do trabalho que for feito -, que atualmente é de R$ 3.840.000 por ano, dividido em 12 parcelas. E consta que pode aumentar até 25% do valor a cada ano. Se trabalhar certo, pode dobrar esse valor em quatro anos.

Qual o objetivo dos Correios com isso?
O objetivo deles é investir na Confederação para fazer base. Essa é a grande diferença dos Correios. Quando ele investe, investe na base. Isso é legal. A gente considera a melhor estatal para se trabalhar, pois, além de ela trabalhar com esse ideal de base, há a credibilidade e a continuidade que eles têm nos contratos. A natação está há mais de oito anos com os Correios.

"O objetivo deles é investir na Confederação Brasileira de Tênis para fazer base. Essa é a grande diferença dos Correios. Quando ele investe, investe na base"

Então há um plano de investimentos?
Sim, há um plano de trabalho, todo especificado, de onde vai gastar o dinheiro. Apresentamos um projeto e tem especificado os valores para cada item. Se for alterar algo, precisa pedir uma retificação. É dinheiro "carimbado". Não é livre para gastar onde quiser.

Como vai ser a distribuição disso?
Tênis comunitário, eventos de infantojuvenil, equipes de transição e equipes permanentes, capacitação de professores e árbitros, torneios profissionais nacionais e internacionais, assessoria de imprensa e divulgação. Estes são alguns dos itens. Na verdade, é um programa que estamos tentando vender há três anos, "O Tênis que o Brasil merece". E agora eles encamparam este projeto.

O que significa para o tênis a conquista deste patrocínio?
Acho que o que resume tudo foi a credibilidade que o tênis readquiriu. Tênis, que eu digo, é a Confederação. Antes, o tênis, o tenista e a Confederação pareciam que eram coisas diferentes. Agora o pessoal está começando a entender que a Confederação está ali para ajudar a fomentar o tênis. Qual foi a resposta que sentimos na mídia depois da divulgação? Credibilidade. Agora temos que gastar da forma certa e estamos buscando mais investidores. Na hora que entrou os Correios, as empresas começaram a se interessar, em procurar a CBT. Antes estava difícil conseguir falar com uma empresa. Hoje não, já tem gente procurando para saber quais os projetos que temos. Isso se deve à credibilidade que fomos adquirindo, mesmo sem ter uma situação financeira boa. Ainda temos algumas dívidas, que vamos ter de pagar, mas não dá para pagar com esse dinheiro. Com esse dinheiro não pode pagar dívida.

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fotos: Marcelo Ruschel

O que sobrou de dívida?
Do passado mesmo ainda há duas ações trabalhistas e a ação do aluguel da antiga sede na Paulista. Depois, só dívida de fornecedor que dá uns R$ 200 mil. Então, está bem tranqüilo. Com a IT F já zeramos e temos até credito. Com a Cosat está parcelado semestralmente e faltam três prestações de US$ 8 mil, mas está tudo em dia.

Os Futures continuarão sendo subsidiados pela CBT (as taxas da ITF, bolas e salários de árbitros são pagos pela Confederação)?
Sim, tantos os Futures, como agora poderemos entrar nos Challengers, fazendo a mesma coisa. Com esses três anos de Futures, o Brasil também mostrou credibilidade em eventos. Estamos há três anos numa marca de 25, 27, 30 eventos. No ano que vem, com certeza, o Brasil vai ter o maior calendário de Future do mundo. E vamos trabalhar os Challengers para chegar a, no mínino, 10 ou 15. Quando começamos a fazer os Futures, os nossos meninos estavam de 900 a 700 no ranking, agora estão de 400 a 100. Agora, o que precisa fazer para superar isso? Precisar trabalhar mais com Challengers para eles poderem entrar nos 100. Estamos levantando custos de arbitragem, taxas e bolas para ver se fazemos algo parecido nos Challengers, mas isso vai ser para o ano que vem.

"Vamos também buscar a parceria com a iniciativa privada e a promotora para que saiam mais eventos. Como? Dando subsídio"

A CBT vai encampar as ações que a iniciativa privada não quiser?
É isso que vamos tentar trabalhar. E vamos também buscar a parceria com a iniciativa privada e a promotora para que saiam mais eventos. Uma promotora que faz um evento, a gente vai tentar convencê-la a fazer dois ou três. Como? Dando subsídio.

É questão de honra colocar o Brasil no Grupo Mundial da Copa Davis?
Acho que não é por aí. Tem que ser natural. Estamos há três anos jogando com uma equipe remendada, sempre há alguém machucado. Esse evento de Sorocaba (Brasil x Colômbia) mostrou que a equipe está renovada e acho que a seqüência natural disso é o Grupo Mundial.

No começo, você dizia que a Copa Davis era a principal fonte de receita da CBT. Como será agora?
Agora melhora bastante. Vamos montar a Copa Davis onde achar melhor. Na Davis, a gente conversava com jogadores, capitão, e lógico que sempre buscava a parte técnica. Mas precisava buscar um Estado que bancasse. Agora a gente vai poder, se precisar, se um jogo em que a parte de altitude e quadra for muito importante, fazer onde achar melhor. Mas não vamos deixar de utilizar a Davis para captar recurso. Até porque esse recurso (dos Correios) não é tudo o que a gente precisa.

E a verba do COB?
Continua a mesma coisa. A gente permanece utilizando. Hoje, de arrecadação, temos o COB, taxas de inscrições (de torneios), agora os Correios, além do Ministério do Esporte, com o qual temos alguns projetos que foram aprovados. Agora, com os Correios, vamos trabalhar muito os projetos comunitários. A gente vai atender oito mil crianças, mais ou menos.

Qual é a idéia?
A gente já tem mapeado vários projetos que existem e vamos encampar. Vamos mapear para ver o Estado que não tem e vamos criar um lá. Esse projeto é 100% com alunos de escolas publicas.

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O programa de capacitação é outra das principais mudanças na sua gestão, como fica?
Mesmo sem condições financeiras, o primeiro projeto que investimos forte foi o de capacitação. Capacitamos o pessoal do Brasil inteiro para poder fazer o curso. Tem semanas que fazemos quatro cursos. Temos tido retorno dos professores, eles estão preocupados em se qualificar. Queremos ter um cadastro completo dos professores e cada um com a sua qualificação. O primeiro nível do curso da ITF é especificamente o Mini-tênis, para essa meninada. E isso vai ao encontro com esse retorno aos clubes. Geralmente os piores treinadores nos clubes estão na base. E é o que a gente há três anos está dizendo: "Os melhores tem que estar lá embaixo". É muito mais fácil pegar um jogador pronto do que formar.

E o tão pedido Centro de Treinamento?
Isso é importante mesmo. Acho que hoje os clubes já estão começando a ser utilizados da forma que não estavam porque as academias estão acabando. Então, os treinadores estão voltando para lá e os clubes estão fazendo base. E isso aí, para mim, já é um centro de treinamento. Centro é base e alto rendimento. Mas é importante a Confederação ter um centro. Tem que ter um grande centro. Temos aquele projeto de Goiás que é muito legal. Mas, o que eu estranho é São Paulo não ter uma arena para fazer um evento. A CBT está há três anos e meio tentando um terreno para fazer um centro e não consegue. Não entendo qual a idéia do esporte em São Paulo.

"Os treinadores estão voltando para lá e os clubes estão fazendo base. E isso aí, para mim, já é um centro de treinamento. Centro é base e alto rendimento. Mas é importante a CBT ter um centro"

Agora, com dinheiro, a cobrança será maior, não?
Agora o tênis tem que ser cobrado. O projeto é publico. O nosso contrato não tem confidencialidade. A gente não aceita isso. Se é dinheiro público tem que saber onde está investido. Agora é cobrança boa.

Para você, este é o momento mais importante do tênis brasileiro depois da vitória do Guga em Roland Garros?
Acho até que esse momento foi mais importante do que a vitória do Guga. A vitória dele foi importante para o pessoal saber o que é o tênis, mas, em termos de desenvolvimento da base do tênis foi zero. Agora estamos entrando em um momento que, pela primeira vez, vai ter investimento na entidade. A gente tem que entender que a entidade é o esporte.

Da redação

Publicado em 2 de Julho de 2008 às 14:21


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Artigo publicado nesta revista