Sergi Bruguera "O Federer dos velhinhos"

O espanhol, bicampeão de Roland Garros em 93 e 94, ganhou sete das 11 etapas do circuito de veteranos, mas garante que sua meta não é vencer, e sim, desfrutar


Sergi Bruguera ficou conhecido do público brasileiro após perder a final de Roland Garros em 1997 para Gustavo Kuerten. Mas a carreira do espanhol não se resume a esta decepção, já que ele foi o primeiro tenista – de uma excelente geração que estava surgindo na Espanha – a ganhar um Grand Slam. Antes dele, o último título foi de Manuel Orantes, em 1975, no US Open. Em 1994, Bruguera bateu o bicampeão Jim Courier na final. No ano seguinte, repetiu o feito derrotando o compatriota Alberto Berasategui.

Ainda em seus melhores anos, o espanhol sofreu com lesões no joelho e tornozelo que tiraram a sua confiança. Mais adiante, precisou fazer uma cirurgia no ombro. Este conjunto de problemas e a falta de motivação fizeram com que encerrasse a carreira em 2002, aos 31 anos. Atualmente, ele divide seu tempo entre a academia que possui em Barcelona e os torneios de veteranos na ATP, em que é o líder disparado do ranking após vencer sete das 11 etapas do ano.

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Durante sua passagem por São Paulo, para jogar e ganhar mais um torneio, Bruguera – que agora, diferentemente de quando jogava, ostenta uma longa cabeleira – conversou com a Revista TÊNIS. Simpático, ele falou sobre seu momento atual em que está desfrutando do tênis e não se incomodou em comentar a final de Roland Garros 97 contra Guga e a semifinal das Olimpíadas de Atlanta 96, contra Meligeni.

Muita gente diz que você está jogando melhor agora do que quando estava no circuito. É verdade?
Do que quando me aposentei do circuito... Sim. Estou jogando melhor, os golpes, saque, voleio, está tudo melhor. Tenho menos físico, mas, em relação aos golpes estou melhor.

Por quê?
Porque quando se está jogando mais relaxado, você se atreve mais, fica mais confiante... Não sei. Não é normal, é estranho. Sinto que estou com golpes melhores.

Você começou cedo no tênis e treinava com seu pai, Luis, que foi tenista. Mas quem eram seus ídolos?
Primeiro, Bjorn Borg e depois Ivan Lendl. Eu gostava desse estilo de jogo de fundo de quadra, de golpes perfeitos. Eram como máquinas, que não falham. Quando se olhava para o rosto deles, eles estavam firmes. Eu gostava disso.

Em uma entrevista com Larri Passos, ele disse que conversou com você algum tempo depois da final de Roland Garros 97 e você lhe disse que tentou de tudo naquela partida, mas simplesmente não conseguiu jogar...
Eu estava voltando ao circuito em 97. No fim de 96, estava em 80º do mundo. Estava com muita vontade de chegar à final, mas estava física e mentalmente mais cansado do que o normal. Achei que Guga começaria muito nervoso e poderia controlar o jogo. E essa foi a diferença: ele procurou a partida e eu tentei controlar. Não houve nenhum momento em que pude entrar na partida. Todavia, um momento chave foi 6/3 e 4/4 com 15/40 no saque de Guga. Nas últimas quatro partidas, eu também havia perdido o primeiro set e ganho os outros três. Aí parecia acontecer a mesma dinâmica. Mas ele salvou (os break-points), me quebrou no game seguinte e, no terceiro set, jogou muito bem, soltou muito o braço. Ele me surpreendeu com seu jogo e também com a mentalidade com que jogou a final. Demonstrou que era um grande campeão, tanto que pôde ganhar mais duas vezes.

Se pudesse voltar ao passado, qual partida você mudaria? Esta ou a final da Olimpíada contra Agassi?
As duas são muito importantes. Mas não pude fazer nada em nenhuma delas. Na Olimpíada, chegar à final já foi algo incrível, pois foi em 96, ano de duas lesões. Estava em 80º do mundo e não tinha muita confiança. Durante toda a semana estive com vômito e diarréia e estar na final já era mais do que ganhar a medalha de ouro. Mas, se pudesse escolher, gostaria de ter vencido a Copa Davis. E também o torneio de Barcelona.

Você se lembra daquela semifinal em Atlanta contra Meligeni?
Lembro-me de todas as partidas. O jogo foi muito equilibrado, 7/6 e 6/2. O primeiro set foi duríssimo. Lembro que ganhei o tiebreak por 11/9. Ele teve 6/4, com dois set points. Mudaria tudo se ele ganhasse o primeiro set, pois fazia um calor impressionante. Então vencer o primeiro set foi chave.

Depois das lesões, você acha que voltou a alcançar seu melhor nível de tênis?
Na verdade, não. Jogava bem, mas nunca com a mesma confiança e segurança. No fim de 94, rompi os ligamentos do joelho. Em 95, comecei a jogar três semanas antes de Roland Garros e fiz semifinal. No fim de 95, rompi os ligamentos do tornozelo. Esse ano foi muito duro para mim, nunca me recuperei bem. Só joguei bem nas Olimpíadas de 96. E, em 97, fiz um esforço muito grande para voltar. Acabei bem 97 e logo que começou 98 tive problemas com o ombro. Em setembro, parei e operei. Demorei um ano e meio para retornar e, no primeiro ano (2000), voltei em 80 e pouco e me deram um prêmio de honra por isso. No segundo ano, que já estava bem e pensava em subir mais, resolvi me aposentar pouco depois de ganhar um torneio porque, ao invés de estar contente, estava triste.

Quais as suas metas agora?
Agora é desfrutar. Desfrutar jogando e, sobretudo, deleitar as pessoas que vem ver as partidas.

fotos: Luiz Candido/Alpha Imagem

16 de janeiro de 1971, Barcelona, Espanha

1,87 m e 75 kg (quando estava no circuito)

Destro

Foi profissional de 1988 a 2002

Treinadores na época
Luis Bruguera e Paul Dorochenko

Melhor ranking
3º de simples (em 01/08/1994) e 49º em duplas (em 06/05/1991)

Títulos
14 (campeão de Roland Garros em 93 e 94)
– 447 vitórias e 271 derrotas na carreira

Prêmios na carreira: US$ 11,632,199

Vior Bara E Arnaldo Grizzo

Publicado em 13 de Dezembro de 2007 às 10:23


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista