Instrução Regras
A regra que Novak Djokovic disse que não conhecia
QUARTA-FEIRA, 26 DE MARÇO de 2014. Masters 1000 de Miami. Novak Djokovic havia vencido o primeiro set contra Tommy Robredo, o jogo estava empatado 1/1 em games na segunda parcial. Iguais 40, Robredo no saque. Depois de uma troca de bola, o tenista espanhol dispara uma direita que acerta a linha e o sérvio espana, perdendo o ponto. O juiz de linha faz o que alguns consideram um “late call”, ou seja, uma chamada tardia, de bola fora. Grita “out”. O árbitro de cadeira, precipitado, faz um “overrule”, dizendo: “Correção, a bola foi boa, repitam o ponto”. Robredo contesta a decisão do ponto e discute com o árbitro. Enquanto isso, Djokovic pede para ver o desafio. No telão, a prova de que a bola havia sido boa. Ainda no calor da discussão, o sérvio toma as rédeas e diz que o ponto não precisa ser repetido, deixando o árbitro atônito e o público extasiado com seu fair play.
Se quiser ver o lance, acesse: http://tinyurl.com/kflzbv8
Para esclarecer os que, talvez, não conheçam bem a regra: se, durante uma troca de bolas, o juiz de linha canta fora uma bola que se prova boa (seja pelo hawk-eye, seja pela marca no piso de saibro, seja pelo consenso entre os jogadores), o ponto deve ser repetido, pois, ao gritar “fora”, o juiz interferiu na jogada, atrapalhando o tenista que executaria o golpe. Desde que esse tenista, obviamente, esteja na jogada. Se o árbitro julgar que ele não tinha condições de alcançar a bola que foi erroneamente chamada fora, o ponto é confirmado para o adversário, sem repetição. O mesmo pode ocorrer caso o juiz de linha tenha feito um “late call”. Nesse caso, o árbitro de cadeira deve avaliar se a chamada de bola fora realmente interferiu na execução do golpe. Mas, como se trata de um “late call”, uma chamada tardia, como o próprio nome já denota, o ponto também não será repetido (caso ele tenha terminado em seguida), pois o “out” foi cantado depois de a bola ter sido batida.
No caso entre Djokovic e Robredo, a chamada do juiz de linha foi bastante rápida, o que poderia levar o árbitro de cadeira a considerar a repetição do ponto. No entanto, em uma bonita atitude de espírito esportivo, o sérvio admitiu que a chamada de juiz não atrapalhou sua jogada e o ponto não precisava ser repetido. No fim da partida, Djoko disse: “[Esse tipo de atitude] Para mim, é algo que faz parte do jogo e do fair play. Espero que todos façam o mesmo”.
Não adianta argumentar.
Pela regra, você não pode golpear a bola antes de ela passar para o seu lado da quadra
No dia seguinte, sua conduta seria colocada à prova novamente. Ele voltou à quadra para enfrentar Andy Murray. O jogo estava parelho. Murray sacava em 5/6 para levar o primeiro set ao tiebreak. No primeiro ponto do game, a bola do britânico encurta, o sérvio ataca, Murray se estica para tentar salvar, Djoko cola na rede, a bola vem alta e lenta, talvez sequer passe pela rede, Djokovic voleia cruzadinho e mata o ponto. Aí começa a confusão. O telão do estádio passa o replay e mostra que o sérvio, na verdade, tocou na bola antes de ela passar para o seu lado da quadra. O público logo exclama: “Foi do outro lado da rede!” Murray também vê e vai conversar com seu adversário que admite ter tocado na bola antes de ela passar para o seu lado da quadra. O árbitro de cadeira, que já não tinha reparado nisso, se perde ao discutir em inglês e não compreende que Djokovic havia literalmente dito que sua raquete tinha passado a linha da rede para golpear a bola. O árbitro acredita que a bola foi golpeada sobre a linha da rede e, então, a raquete passou sobre ela na continuação do golpe. Murray perdeu o ponto, a cabeça e o jogo.
Veja o lance em: http://tinyurl.com/kvprkhg
No final da partida, Djokovic é entrevistado e se enrola para explicar o lance: “Bem... veja... Eu... Pode também ser um erro meu... Digo... Eu... Eu... Eu acho que cruzei a rede com a raquete, e venci o ponto. Não toquei na rede. [...] Talvez a regra seja que você não pode passar para o lado dele com a raquete... Não estou certo... Você me diz... Disse para ele que pensei que eu poderia passar pela rede, sem tocá-la com a raquete e seria meu ponto. Foi o que pensei”.
Vamos recapitular. Há algumas regras bastante básicas no tênis. A primeira diz que a bola só pode quicar uma vez na sua quadra antes de golpeá-la. Outra diz que você só pode golpeá-la estando do seu lado da quadra, ou seja, não se pode invadir o outro lado para bater numa bola. Você também não pode tocar na rede enquanto a bola ainda está em jogo. Então, é simples. Se a bola quicar duas vezes na sua quadra, ponto para o adversário. Se, por acaso, você tocar na rede, ponto para o adversário. Se você bater na bola antes de ela passar para o seu lado da quadra, ponto para o adversário.
Dessas três regras básicas, apenas esta última tem uma exceção. Se, por acaso, devido ao efeito da bola, ela quicar na sua quadra e voltar para a quadra adversária, você pode – sem tocar a rede – golpeá-la do outro lado da quadra.
Djokovic, no entanto, alegou que desconhecia esta última regra. Com 26 anos, há mais de 10 jogando o circuito profissional, seis títulos de Grand Slam e tantos outros números impressionantes, pegou mal para o sérvio admitir que não conhecia uma regra tão fundamental.
Publicado em 13 de Abril de 2014 às 00:00
As proezas das novas promessas do tênis brasileiro