Prevenir é o melhor remédio

Se você seguir algumas regrinhas básicas na hora de se exercitar, perceberá que evitar lesões não é tão complicado quanto parece


Em artigo na edição 52, tratamos de um dos maiores terrores do tenista amador: o tennis elbow. Vimos algumas de suas possíveis causas e o que fazer quando a patologia já se instalou. Hoje vamos nos ocupar um pouco da prevenção de lesões em geral. Algumas não podem ser evitadas, pela própria natureza de sua ocorrência. Um tombo na quadra, ou uma torção, esse tipo de coisa acontece e não temos poder sobre elas. Mas muitas outras podemos, sim, evitar, se formos mais atentos e cuidadosos com nosso organismo.

Em princípio, o tenista amador quer mesmo é saber de estar na quadra e jogar, seja por puro lazer, seja porque o tênis é o que o mantém equilibrado psíquica e fisicamente – ou seja, funciona como uma terapia, uma compensação às atribulações da vida diária. Isso é válido e, até certo ponto, muito bom! Mas é preciso, apesar de menos prazeroso, eu sei, preparar o organismo para as exigências da prática e reequilibrá-lo do desgaste que todo esporte traz. E, é sempre bom lembrar, o tênis exige bastante do aparelho locomotor e do sistema cardiovascular. Já falamos disso em outras ocasiões: esporte assimétrico, com piques curtos e rápidos.

Em geral, a instalação de uma lesão passível de prevenção não se dá subitamente. Ela é o resultado, às vezes, de uma combinação de pequenas coisas que ao longo do tempo, juntas, têm potência suficiente para aparecer. Outras vezes a causa é gritante, mas vai-se empurrando a situação com a barriga, usando antiinflamatórios, relaxantes musculares, ou simplesmente ignorando-a. Isso porque não temos cultura esportiva de nos cuidar para compensar os desgastes causados pela prática em quadra. Como disse acima, o que se quer é jogar e ponto.

Também já comentei anteriormente sobre a formação de hábitos. O ser humano é um ser baseado em rotinas. Muito hábito sem jogo de cintura, com pouco espaço para o inusitado, não é bom. Mas não ter hábitos e viver cada dia de um jeito não nos dá raízes e consistência para realizar feitos, em qualquer área da vida. Em relação ao nosso tema de hoje, há de haver uma prática paralela à da quadra, regular, perseverante, consistente, para se manter distante de lesões e ter o aparelho locomotor em ordem. Não há mágica. A boa notícia é que essa prática não precisa ser tão extensa e proporcional ao tempo que se passa na quadra jogando. A dificuldade maior está na instauração do hábito e não no tempo dispensado a ele.

O fator fundamental então para prevenir lesões é ter uma prática concomitante ao esporte, destinada a reequilibrar musculatura, tendões, articulações e alinhamento postural. Escolha a mais apropriada a seu perfil e inclua-a na sua rotina. Se for um bom método, duas a três vezes por semana, por meia hora, será suficiente (para sugestão de prática vide artigos publicados pela professora Maria Luisa na Revista TÊNIS nas edições 49 e 51). Um trabalho semanal com um profissional também poderá ser uma boa fórmula.

Lembre-se sempre

Há outros aspectos a serem considerados em relação à prevenção. Comento:
1- Aquecimento. Muito desprezado ainda hoje, dez minutos de aquecimento antes da quadra pode ser decisivo para não se machucar. Aqueça as articulações e os grandes grupos musculares antes de entrar em quadra. Inicie o bate-bola com suavidade de gestos e deslocamento, intensificando o esforço progressivamente.

#Q#

Ron Angle/Ella Ling/TPL2- Tenha um bom condicionamento cardiovascular. Isso protegerá seu coração e melhorará a oxigenação dos tecidos durante a prática, além de auxiliar na recuperação do organismo no período pós-prática (vide artigo de Saúde na edição 55).

3- Evite os excessos. Percebo que tenistas amadores têm tendência ao fanatismo e com freqüência se machucam por forçar demais o organismo. É preciso aprender a dosar a prática, a colocarse à escuta do próprio corpo e saber quando dar uma pausa ou descanso. O organismo precisa de um tempo para reequilibrar-se metabólica e estruturalmente após o esforço. Se você volta à quadra antes que esse processo se complete, as chances de se machucar serão maiores, pois o organismo não estará totalmente refeito. Cada um tem um tempo específico de recuperação, que varia segundo sua natureza e estrutura física, mas também segundo a intensidade do esforço que foi realizado. Por isso, aprender a ouvir o corpo é algo importantíssimo. Desenvolva este aspecto e confie em sua sensibilidade.

4- Sono e alimentação. Para muitas pessoas esses aspectos da saúde podem parecer algo sem ligação direta com a prevenção de lesões. Mas, na verdade, estão estreitamente ligados a isso. Um organismo bem hidratado e bem alimentado – com alimentos que nutrem realmente e estão adequados em quantidade e distanciamento da prática esportiva – terá melhores condições de funcionamento no repouso e no esforço. O sono, então, é algo crucial. Quando se dorme insuficientemente em tempo e em qualidade, não se dá condições de regeneração adequada ao organismo e ele fica cansado. Esse cansaço deixa-o vulnerável e sensível. Na hora de uma exigência maior (como na prática esportiva) será mais suscetível a lesões.

5- Biomecânica e material esportivo. É sempre bom se manter atento ao aspecto técnico dos gestos tenísticos. Se você tem uma biomecânica falha, procure orientação de um professor, para que os malefícios de movimentos repetitivos incorretos não sejam o berço de uma lesão futura. Mesmo aqueles que têm boa biomecânica devem estar atentos a vícios que podem ser adquiridos ao longo do caminho, corrigindo-os oportunamente. O equipamento esportivo também é de fundamental importância para evitar a sobrecarga da coluna, das articulações e tendões. Um par de tênis especial para o esporte, uma boa raquete, com empunhadura correta, pressão de corda adequada, antivibrador (mesmo que seja polêmico seu uso, mal não faz), têm papel protetor indiscutível.

É isso. Procure combinar esses fatores e aumente seu tempo de vida nas quadras!

Maria Luisa Afonso de André, formada em Educação Física e pós-graduada em fisiologia do exercício pela USP, é especialista em Ginástica Holística e RPG.
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Maria Luisa Afonso De André

Publicado em 7 de Maio de 2008 às 11:56


Preparação Física/Fisioterapia

Artigo publicado nesta revista