O segredo das pernas

Técnicas de movimentação ajudam a ganhar velocidade, tempo de resposta e recuperação


Ron C.Angle/BEImages Sports

Diz-se que os golpes do tênis evoluíram no decorrer dos anos, mas a maioria se esquece que um dos principais fatores que levaram a esta evolução foi o trabalho de pernas, ou footwork. O desenvolvimento de técnicas de movimentação aumentou não somente a velocidade dos jogadores para a chegada nas bolas, como também a rapidez de recuperação da quadra. Além disso, tornaram-se movimentos mais "seguros" fisicamente.

Sendo assim, neste artigo vamos tratar de técnicas desenvolvidas por escolas européias (especialmente a Suíça) há mais dez anos. Seus resultados podem ser comprovados nos últimos anos, através de atuações de tenistas como Martina Hingis e principalmente Roger Federer, mas que hoje já podem ser reparados em muitos outros como Ana Ivanovic, Novak Djokovic, Nikolay Davydenko, Andy Murray, Richard Gasquet etc.

Devemos, antes, lembrar que os exemplos de movimentação que citaremos são indicados para tenistas de nível intermediário e avançado. Aos iniciantes, a melhor opção ainda é o bom e velho: "Bata com os pés no chão!" Se você já está em um estágio acima disso, tente aprimorar estas técnicas e perceba os resultados.

Vamos falar aqui de um trabalho de "giro" de membros inferiores, que trazem muita estabilidade e agilidade aos movimentos. Nos Estados Unidos, são chamados de "Pivots", ou "Eixos". São os: Frontfoot Pivot, Backfoot Pivot e o Two foot Pivot.

1. Backfoot Pivot (Eixo sobre o pé de trás, ou "chutinho")

Esta técnica é ótima para bater bolas em movimentação lateral sobre a linha de base, principalmente em forma de ataque, por terminar em ótimo angulo com a quadra, favorecendo antecipações e movimentos rápidos, tanto em quadras de saibro como rápidas.

Movimento fácil de ser observado em Roger Federer que, ao bater o forehand (principalmente), termina com a perna esquerda para frente, semelhante a um leve chute no ar. A execução consiste em girar o tornozelo da perna direita a fim de finalizar o apoio totalmente sobre o calcanhar. O tronco gira junto com a perna esquerda, que realiza uma rotação no ar, apoiando o peso do corpo pendente sobre a mesma.

Vantagens

- Cobertura da quadra
- Termina em ótimo ângulo
- Protege os membros inferiores: joelhos, tornozelos e quadril

Execução do Backfoot Pivot

Split step. Apoiado no chão, o tenista projeta o corpo, criando desequilíbrio e girando no sentido do movimento. Os passos são vigorosos, "pé ante pé", direto para o ponto de encontro. Ao se aproximar, os passos se tornam menores e mais precisos. Quando a bola toca o chão, ele já está se apoiando para a batida. Como preparação, gira o tronco e transfere o peso para a parte de trás do corpo. O apoio ideal é o semi-aberto. No contato, o tronco gira de volta, gerando potência. A perna esquerda fica livre. O apoio está na perna de trás, que inicia uma rotação. A perna da frente sobe vigorosamente, como um passo de arranque lateral, completando o ciclo de transferência do peso do corpo para o golpe.

O calcanhar do pé de trás se solta do chão para girar, posicionando as pernas e o quadril para a cobertura da quadra. O giro, junto com o salto, centraliza a força do corpo através da transferência do peso da parte de trás para frente, ganhando potencia e agilidade. Quando o tenista se apóia no pé de trás, o calcanhar já está apontado para o lado da batida, evitando o risco de torções e permitindo que o quadril e os joelhos estejam em ótima posição para a cobertura da quadra. O movimento termina forçando o jogador a estar em movimento no sentido da cobertura da quadra, evitando sobrepassos e atrasos para o arranque. O primeiro passo da volta é cruzado, gerador de velocidade. Os demais são laterais até o momento do split.

#Q#

2. Two foot Pivot (Eixo sobre os dois pés, ou "patinador")

Vamos usar este movimento para as bolas mais difíceis, quando você for obrigado a se deslocar em alta velocidade, em qualquer sentido, e para jogadas, como devoluções de saques abertos.

Ele consiste em terminar a corrida apoiado totalmente na parte posterior dos membros inferiores, ou seja, quase de costas para a direção do movimento - semelhante ao que fazem os patinadores quando em curvas bruscas -, possibilitando uma recuperação ou cobertura de quadra mais rápida e mais segura ao físico, protegendo de torções e hiperextensões de ligamentos.

Vantagens

- Permite a chegada em alta velocidade sem que o jogador seja obrigado a passar do ponto da bola para desacelerar o movimento
- Termina o movimento em ótimo ângulo com a quadra
- Permite uma saída muito rápida para a próxima bola
- Protege os tornozelos, joelhos e coluna de torções bruscas

Execução do Two foot Pivot

Split step. O movimento começa com os ombros e quadris girando, seguindo a raquete. O tronco se inclina, gerando desequilíbrio, empurrando das pernas. Sem passos laterais, o movimento é "pé ante pé", buscando velocidade máxima para conseguir o ponto de apoio ideal. Os últimos passos se encurtam para um ajuste mais preciso da distância. O apoio ideal é o semi-aberto, mas o aberto acaba sendo muito utilizado nas bolas rápidas ou muito abertas. No momento do golpe, ombros, tronco e quadril giram, transferindo o peso do corpo para o golpe, com um apoio fixo quase inexistente, permitindo que as pernas girem no ar para "jogar" os calcanhares em sentido contrário ao do movimento.

As pernas voltam ao solo em posição segura, protegendo o atleta de entorses e com apoio ideal para suportar o peso em alta velocidade sem a necessidade de dar um passo além do ponto do golpe. Calcanhares, joelhos, quadril e tronco terminam posicionados em excelente ângulo para arrancar na cobertura da quadra. O movimento termina em posição de arranque, sem perder tempo com desaceleração ou reequilíbrio para mudar o sentido da corrida. O primeiro passo da volta é cruzado, gerando velocidade. Este passo é vigoroso, com os joelhos e o quadril direcionados para a área de cobertura. Os demais passos são laterais até o momento do split step.

#Q#

3 . Frontfoot Pivot (Eixo sobre o pé da frente, ou "sobrepasso")

O movimento consiste em girar sobre a perna de apoio da batida, como um sobrepasso, durante o golpe, ganhando potência e aumentando sua velocidade de recuperação em jogadas específicas, como bolas golpeadas dentro da quadra em movimentações diagonais.

A melhor opção de apoio será a neutra. A chegada na bola é feita com a perna esquerda na frente (para os destros e, direita, para canhotos). É feito um pré-apoio e, ainda durante a execução do golpe, faz-se um giro sobre a perna de apoio, terminando o movimento com um ótimo ângulo para a retomada da quadra.

Vantagens

- Permite uma rápida recuperação de bolas golpeadas principalmente dentro da quadra (no "mata-burro")
- Facilita a recuperação, mesmo chegando com o apoio neutro
- Termina o golpe em ótimo ângulo com a quadra
- Gera mais potência no golpe

Execução do Frontfoot Pivot

Split step. Desequilíbrio com o giro dos ombros, quadril e joelhos, que seguem a raquete. O primeiro passo é normal, como se o tenista fosse correr "pé ante pé". O segundo passo é lateral, mantendo a lateralidade e a perna preferencial de apoio à frente. O peso do corpo ainda está sobre a perna de trás, que impulsiona para um apoio neutro. No momento do golpe, a perna de apoio gira, transferindo o peso do corpo para frente. O giro propicia um sobrepasso, novamente com o calcanhar livre, evitando entorses e gerando potência.

Este movimento favorece a mudança de direção, deixando o tenista muito mais rápido na cobertura da quadra. Após o giro, a perna de trás apóia o peso do corpo, obtendo uma posição perfeita e desequilibrada (no bom sentido), para reiniciar o movimento sem perder tempo e em segurança. O primeiro passo é cruzado, a não ser que o adversário esteja na rede. Neste caso, executa-se o split step imediatamente. Os demais passos, como sempre - quando ainda não se sabe a direção do próximo movimento -, são laterais até o momento do split. Lembre-se que sempre falamos em momento certo do split step e não no local certo. O split deve ocorrer quando o adversário for golpear a bola e não em um local específico da quadra.

 

Aprenda e treine estes novos movimentos para estar pronto para os próximos!

Carlos Omaki

Publicado em 6 de Novembro de 2008 às 09:27


Preparação Física/Fisioterapia

Artigo publicado nesta revista