O maior de todos

Número um do mundo por seis temporadas seguidas, 14 títulos de Grand Slam, considerado por muitos o melhor de todos os tempos. Pete Sampras estará no Brasil em maio


Dono de incrível talento. Saque preciso. Direita poderosa. Esquerda, clássica, de uma mão (talvez o ponto mais vulnerável de seu jogo). Voleios seguros. Frieza que assombrava os adversários. Costuma dizer que cada vez que jogava contra seu maior rival – de estilo completamente diverso ao seu –, isso fazia dele um melhor tenista. Alguns afirmavam que seu domínio do tênis, aliado à sua serenidade em quadra, era entediante. Os pisos rápidos sempre foram seu habitat natural, com preferência pela grama. No saibro, o quique lento e irregular da bola não favorecia. Dizem que ele não jogava contra os outros, mas contra a história.

Muitos podem estar pensando agora: “Essa descrição me parece familiar”. Os mais jovens talvez perguntem: “Por que estão falando do Federer no passado?” Apesar das semelhanças, não é do suíço que falamos, mas de alguém que veio antes dele e estabeleceu as marcas que o atual número um persegue. Pete Sampras, este ainda é o principal nome que vem à mente de todos quando a questão é: “Qual o melhor de todos os tempos?”

Sim, o norte-americano, sempre modesto, já admitiu várias vezes que Roger Federer é um tenista mais completo do que ele foi, mas a verdade é que o suíço ainda corre atrás dos recordes instituídos por Sampras, especialmente os 14 títulos de Grand Slam e as seis temporadas seguidas como número um do mundo. Quem está em prova atualmente é Roger, Pete já fez tudo o que precisava no tênis, tanto que se aposentou com a seguinte frase:


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“Estou me aposentando porque não tenho mais nada para provar a mim mesmo. Meu maior desafio foi no ano passado. Depois que o superei, senti que já era hora. Estou 100% contente com o que fiz”, afirmou emocionado o norte-americano na noite de 25 de agosto de 2003, abertura oficial do US Open, um ano após ele ter calado os críticos e vencido o Grand Slam nos Estados Unidos.

Última conquista
Em 2002, aos 31 anos e sem vencer nenhum dos últimos 33 torneios de que participou, Sampras entrou no US Open como um desacreditado 17º cabeça-de-chave. Sem contar com as rápidas pernas que lhe impulsionavam à rede para seu clássico estilo de saque-e-voleio, ele parecia mesmo fadado a sucumbir diante de um adversário mais duro. Entretanto, Pete foi à final, deixando pelo caminho Greg Rusedski, Tommy Haas (terceiro do mundo na época), Andy Roddick e Sjeng Schalken, respectivamente, a partir da terceira rodada.

Ron Angle/ Ella Ling / TPL

Na decisão, reencontrou seu maior rival, Andre Agassi, contra quem já havia jogado 33 vezes até então, vencido 19 e perdido 14. Era a terceira final do US Open entre eles, sempre com vitórias de Sampras, em 1990 e 95. Em 2001, eles haviam duelado nas quartas-de-final e Pete venceu o que muitos consideram o melhor de todos os jogos entre eles, decidido em quatro sets, todos no tiebreak, sem quebras de saque durante a partida (6/7[7], 7/6[2], 7/6[2] e 7/6[5]). Por fim, no 34º e último duelo entre estes dois gênios do esporte, os deuses favoreceram Sampras, que nos dois anos anteriores havia perdido as finais para os jovens Lleyton Hewitt (2001) e Marat Safin (2000).

Este triunfo épico seria seu último. Nos meses seguintes, esteve afastado das competições, mas não quis anunciar sua aposentadoria. A cada torneio que desistia de participar, os rumores aumentavam, até que ele voltou ao US Open, mas para formalizar o seu adeus. Com o primeiro filho, Christian Charles (nascido em novembro de 2002) nos braços e a companhia da esposa Bridgette Wilson, Sampras foi à quadra central para a despedida e, diferentemente de quando atuava, deixou a emoção correr e chorou.

Era o fim de uma carreira espetacular. Ninguém reinou como ele. “Ele é um daqueles gênios, não dá para comparálo. Vamos sentir sua falta e o público gostaria de vê-lo por mais tempo. Um dos caras que revolucionou o tênis não estará mais na quadra”, afirmou Guga na época. Contudo, passaram-se alguns anos e o norte-americano não agüentou ficar apenas descansando em casa. Aceitando o convite de amigos, fez algumas exibições. No fim do ano passado, disputou uma mini-turnê contra Federer na Ásia e provou estar em boa forma. Agora, decidiu que vai participar de torneios de veteranos, a começar pela etapa de São Paulo do Black Rock Tour of Champions em maio.

Ron Angle/ Ella Ling / TPL


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Marco histórico
Esta será a primeira vez de Sampras no Brasil e provavelmente a vinda dele pode inspirar novas gerações. Uma vez Federer admitiu que um dos principais marcos de sua carreira foi vitória na partida contra o norte-americano em Wimbledon 2001. “Foi quando tudo começou para mim. Foi quando as pessoas começaram a dizer: ‘Nós sabíamos que esse cara era bom, mas não sabíamos quanto’”, revelou o suíço.

Para Sampras, um dos marcos de sua vida foi a derrota na final do US Open de 1992 para Stefan Edberg. “Aquilo realmente mudou minha carreira para melhor. Senti que havia entregado aquela partida e isso me incomodou muito. Eu achava que chegar à final já era bom o suficiente. Naquele momento acho que deixei de ser um garoto que não sabia o que queria, fiquei mais focado nas partidas”, lembrou o norte-americano que assumiria o número um pela primeira vez em abril do ano seguinte e terminaria como líder do ranking por seis temporadas consecutivas.

Neste seu período de auge, venceu mais 10 Grand Slams. Somente Agassi, Thomas Muster e Marcelo Ríos conseguiram tirá-lo momentaneamente do topo. Seu domínio era tanto que chegou a dizer: “Não é um bom ano se eu não vencer dois Majors ao menos. Estes são os anos que contam”. Ainda em seu apogeu, teve de lidar com a doença e morte de seu técnico Tim Gullikson, por causa de um câncer no cérebro, em 1996. Depois de Gullikson, Sampras passou a treinar com Paul Annacone. Porém, foi seu primeiro treinador, o doutor Pete Fischer, um pediatra e entusiasta do esporte, quem modificou sua esquerda para uma mão e fez com que o menino de 14 anos adotasse o estilo de saque-e-voleio.

Seus ídolos de infância foram os australianos Ken Rosewall e Rod Laver. “Não havia um norte-americano que eu realmente idolatrasse. Certamente que eu respeitava o talento de McEnroe e a intensidade de Connors, mas os australianos, estes caras eram grandes caras”, afirmou. Com 11 anos, Pete teve a chance de bater bola com Laver. De tão nervoso, seus golpes não passavam da rede.

O ápice de Sampras durou até 1999, quando começou a sofrer com contusões. Sem disputar o Australian Open e o US Open, ele viu Carlos Moyá, Yevgeny Kafelnikov, Patrick Rafter e, por fim, Agassi, roubarem o número um de suas mãos. Mesmo assim, naquele ano ele venceu Wimbledon pela sexta vez e levantou seu 12º troféu em Grand Slam em simples, igualando à marca do australiano Roy Emerson, que conseguiu tal feito entre 1961 e 1967. Na temporada de 2000, além de ter de lidar com o eterno rival, Agassi, Sampras encontrou resistência em uma nova geração, encabeçada por Marat Safin (que o venceu na final do US Open) e Gustavo Kuerten (que o derrotou na semifinal da Masters Cup em Lisboa). Contudo, na grama do All England Club, o norte-americano provou que ainda era imbatível e levou o título mais uma vez, tornando-se assim o maior vencedor da história, com 13 Majors.

Ron Angle/ Ella Ling / TPLEm 2001, outros jovens começaram a despontar deixaram Sampras longe das conquistas. Além de Safin e Guga, era a vez de Andy Roddick, Roger Federer, Tommy Haas e Lleyton Hewitt (para quem o norte-americano perderia a final do US Open) desafiarem o grande campeão. Jogando poucos torneios e sem grandes campanhas, o declínio do norte-americano parecia não mais ter volta no ano seguinte. Foi então que a mágica final aconteceu no US Open, para coroá-lo definitivamente.

O maior
Quando perguntados, especialistas não titubeiam em dizer quem foi o maior sacador de todos os tempos. Muitos tenistas preferem iniciar uma partida com segurança, colocando o saque e dominando os pontos do fundo. Sampras, não. Ele mirava o “T” e fazia questão de começar com um ace desmoralizador, como que dizendo ao oponente do outro lado: “Este será o primeiro de muitos”. Seu segundo serviço era quase tão poderoso e certeiro quanto o primeiro, tanto que não era raro deixar o adversário atônito com um saque indefensável na segunda tentativa. A mecânica do golpe era tão perfeita e camuflada que ninguém sabia qual direção a bola ia tomar.

Contra os que insistiam em atacar seu backhand no fundo de quadra, Sampras desenvolveu um excelente trabalho de pernas para “fugir” da esquerda e acelerar de direita. Além disso, possuía uma incrível direita na corrida. Após os saques devastadores ou bons approaches, o norte-americano dominava a rede com voleios precisos e smashes de definição. Uma de suas marcas registradas era o salto que dava para o smash. Por fim, dando suporte a todo este arsenal, ele possuía sangue-frio e coragem de sobra nas horas mais críticas.


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Sabendo de sua parte na história do esporte, ele afirmava: “Meço meu ano pelo que faço nos Majors e quanto mais eu venço durante as temporadas, mais tenho vontade de vencer. Não me vejo como um ícone histórico, mas a realidade das coisas é essa: sim, eu estou jogando para a história. Não acho que isso seja arrogante. Não tenho vergonha de sentir que posso fazer isso de fato”. E fato é que ele jogou contra os livros de história, e venceu.

Pete Sampras

Nascimento: 12 de agosto de 1971, Washington, D.C, EUA
Títulos: 66 (64 de simples e 2 de duplas)
Partidas na carreira: 984 em simples (762 vitórias e 222 derrotas)
Altura e peso: 1,85m e 77kg
Profissional de 1988 a 2002

Grand Slams: 14
Australian Open: 1994 e 1997
Wimbledon: 1993, 1994, 1995, 1997, 1998, 1999 e 2000
US Open: 1990, 1993, 1995, 1996 e 2002

Recordes
Semanas como número um

Pete Sampras – 286
Ivan Lendl – 270
Jimmy Connors – 268

Grand Slam em simples
Pete Sampras – 14
Roy Emerson – 12
Roger Federer – 12

Temporadas como número um
Pete Sampras – 6
Jimmy Connors – 5
Lendl/McEnroe/Federer – 4

Premiação na carreira
Pete Sampras – $43,280,489
Roger Federer – $38,707,078
*(até dez/07)
Andre Agassi – $31,152,975

Arnaldo Grizzo

Publicado em 7 de Maio de 2008 às 08:56


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Artigo publicado nesta revista