Formação

O estímulo dos jogos em equipe

Como os confrontos por equipes podem contribuir para um bom programa de tênis infantil


Ron C. Angle/TPL

AO COLOCAR AS CRIANÇAS PARA JOGAR EM TIMES, QUEREMOS ATINGIR OS SEGUINTES OBJETIVOS:

  1. Estimular o espírito de equipe e a cooperação entre os jogadores do mesmo time;
  2. Estimular a competição saudável (jogar para vencer com fairplay) entre os times;
  3. Estimular o pensamento tático dos jogadores, e a capacidade de observação;
  4. Estimular a compreensão do esporte de vários pontos de vista (do jogador, do treinador, da arbitragem etc).

QUEM JOGOU, AFIRMA: disputar uma Taça Davis é outra emoção. O "Mundial por Equipes" (Davis Cup para os meninos e Federation Cup para as meninas) mistura a emoção do jogo individual nas partidas de simples (que são quatro: duas no primeiro dia e duas no terceiro dia de confronto), a sensação de jogar como um time na partida de duplas (uma única partida de duplas é disputada no segundo dia), e o apoio maciço da torcida que, nesse tipo de confronto, manifesta-se de modo mais festivo e barulhento.

Algo que o jovem adolescente preza é sua aceitação em um grupo. O professor de tênis que sabe aproveitar os aspectos positivos dessa vontade de "pertencer a algo maior do que si mesmo" - característica dos jovens -, tem um trunfo em suas mãos. Estamos querendo vencer a batalha contra o sedentarismo, desejamos estimular crianças e jovens a continuar praticando o tênis, e o senso de grupo pode ser a chave.

Durante minha adolescência, pertenci à equipe de tênis do Clube Paineiras do Morumbi, e treinávamos todos juntos, em quadra e na preparação física. Nos torneios nacionais, a equipe se dividia igualmente para acompanhar e torcer pelos atletas do clube. Era impressionante. Não havia um jogo em que faltasse alguém do nosso time para incentivar.

Atualmente, as crianças parecem ter menos tempo para treinar e praticar do que antigamente. Eu passava tardes inteiras no clube. Depois do treino formal com o professor, ficava esperando quadra com meus amigos para disputar partidas (simples e duplas). Ao final da tarde, preparação física. Sempre com o grupo de amigos. Pensávamos em nós mesmos como inseparáveis, iríamos todos morar no mesmo prédio quando adultos.

Ron C. Angle/TPL

Hoje as crianças fazem aulas juntos, mas praticamente não disputam partidas. Como um tenista pode desenvolver sua inteligência tática e sua autonomia se nunca joga partidas?

É PRECISO JOGAR

Hoje ouço dizer que as crianças fazem aulas juntos, mas praticamente não disputam partidas. Como um tenista pode desenvolver sua inteligência tática e sua autonomia se nunca joga partidas? Tantos pais vêm reclamar comigo que seus filhos são imaturos em quadra. Isso acontece também porque as crianças têm participado de poucas partidas e, para amadurecer, precisam enfrentar mais as situações de jogo real.

Um formato bacana para começar a incentivar as crianças a jogar é um tipo de atividade que batizei de "Taça Davis Relâmpago". Esse exercício pode ser feito em uma aula normal, já que, às vezes, é difícil para os pais levarem as crianças para jogar torneios aos finais de semana, e a criança faz aula e já sai correndo para seu próximo compromisso educacional.

Vamos falar de uma situação bem real: o professor tem um grupo de seis alunos que fazem aulas de uma hora, uma ou duas vezes por semana. Ele pode "desafiar" as crianças que fazem aula na quadra ao lado. Veja o box para saber como a atividade pode ser organizada. Essas dinâmicas, que começam em aulas, podem se transformar rapidamente em intercâmbios com outros clubes ou academias, ligas locais de tênis infantil... É só começar.

TAÇA DAVIS RELÂMPAGO

COMO ORGANIZAR:

  1. Aquecimento (15 minutos): drills em que o professor lança bolas de modo que os alunos possam executar todos os golpes básicos (vamos dizer: um forehand, um backhand de aproximação, um voleio backhand, um smash; depois a mesma sequência, mas iniciando com o backhand). Nesses drills, o professor faz lançamento duplo e usa escadinhas para manter a movimentação constante dos alunos.
  2. Joguinhos por tempo (40 minutos): quatro crianças de cada time fazem joguinhos de simples com duração de oito minutos cada, e duas crianças de cada time fazem o joguinho de duplas. Cinco jogos, vezes oito minutos, 40 minutos. Nesse momento, enquanto dois jogam, temos quatro juízes de linha para a linha de saque e seis observadores que preenchem a "ficha do atleta". Essa ficha pode ser super simples para crianças pequenas (JOGADOR, PONTOS FORTES, PONTOS FRACOS), ou mais sofisticadas conforme o aluno aumenta seu conhecimento tático.
  3. Conversa final (cinco minutos): o professor pontua os melhores momentos, o que podem melhorar, e o tema do próximo encontro. Enfatiza o que perceberam como pontos fortes do seu próprio jogo e os pontos fracos dos adversários. Explica como vencer determinado adversário, atacando seu ponto fraco. Estimula o raciocínio lógico.
  4. Combinar o dia da "revanche" e estimular que as equipes já tragam, no próximo confronto, a escalação do seu time (quem jogará de 1, quem jogará de 2, quem serão os duplistas etc). Nessa dinâmica de escalação dos times, o professor deve intervir caso haja um aluno mais tímido que nunca consegue dar sua opinião (ele pode ser encarregado de dar a escalação do próximo encontro, por exemplo), ou quando julgar necessário em casos de grande desequilíbrio dentro de sua equipe.

Observação: como a Taça Davis permite que o treinador dê instruções durante os confrontos, esse tipo de dinâmica pode ser uma oportunidade para estimular que as crianças sejam "coaches". Quem espera a vez de jogar pode dar instruções para quem está na quadra entre os pontos, por exemplo. Criar o nome para cada equipe e o grito de saudação também faz parte da diversão.

CRIANÇAS MAIS VELHAS

Para as crianças um pouco mais velhas (digamos, 10, 11 anos) a lista de observação dos adversários pode ser um pouco mais complexa. Que tipo de bola meu adversário não gosta? Bolas altas? Bolas lentas? Bolas curtas? Bolas no corpo? Bolas com muito efeito? Bolas fortes? E assim por diante.

TRABALHANDO COM MENOS CRIANÇAS

Com menos crianças nos times (digamos, duas) os jogos podem ter 10 minutos, e cada um joga duas simples com adversários diferentes e uma dupla. Os confrontos devem servir ao planejamento do professor. Caso ele esteja praticando mais o jogo de rede, pode cortar os jogos de simples e fazer uma atividade com várias duplinhas.

Suzana Silva

Publicado em 24 de Setembro de 2012 às 14:15


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