Não é só a bola que vai pra cá e pra lá

Neste décimo artigo, a professora Suzana Silva encerraa série sobre tênis infantil dando dicas para as criançastrabalharem o jogo de pernas durante as aulas


André BorgesQUANDO UMA PESSOA assiste a uma partida ou aula de tênis pela primeira vez, pode ficar com a impressão de que tênis se resume a bater uma bola para lá e para cá. Antigamente, nas primeiras aulas, a atenção do professor ia sempre para os golpes de base (direita, esquerda, saque): como segurar a raquete, preparar o movimento, a importância de olhar a bola... Mas o tênis é MUITO mais do que rebater uma bolinha. O maior desafio, mesmo para os profissionais, é chegar ao ponto de contatar a bola. Quem chegar mal, executará o golpe em desequilíbrio, ou sem condições de transferir o peso para frente e, BINGO!, dará a chance para seu adversário dominar o ponto. O trabalho de pés (footwork, como é conhecido em inglês) é tão fundamental quanto aprender os golpes. Há muitas atividades divertidas que podem ser realizadas para estimular o melhor deslocamento e equilíbrio em quadra. No sistema moderno de aulas, os alunos aprendem a se colocar para receber uma bola desde as atividades de aquecimento! Antes, rápidas e ágeis informações sobre footwork:

1. O saltito de antecipação é o primeiro movimento que antecede o deslocamento na quadra. Ele serve para preparar o tenista para se deslocar em qualquer direção. A partir da posição de expectativa, o tenista fica mais leve tirando o peso do chão e "aterrissando" na quadra com o peso nas pontas dos pés.
2. A unidade de torção é o segundo movimento, onde o tronco, o quadril e o pé que está mais próximo à bola giram juntos. Você prepara o golpe e, ao mesmo tempo, prepara o quadril e pernas para correr na direção desejada.
3. O primeiro passo na direção da bola deve ser forte, rápido e amplo para impulsioná- lo na direção desejada.
4. Os passos de ajuste devem ser pequenos, para permitir maior precisão ao posicionar o corpo para efetuar o contato com a bola. O ideal é que você chegue tão bem que seja capaz de efetuar o golpe com equilíbrio. Na quadra de saibro, o último passo de ajuste é feito deslizando o pé na terra.
5. A transferência de peso para frente, na direção de onde você mandou a bola, é sinal de que você executou com sucesso os passos anteriores. Se o seu centro de gravidade, localizado no quadril, caiu para trás ou para o lado durante a execução de um golpe, é sinal de que você não chegou bem.
6. O passo de recuperação completa o seu footwork em golpes de fundo. Ele serve para reposicioná-lo de maneira que você fique pronto para o próximo golpe do adversário.
7. Os saltos são muito usados no jogo de tênis também, seja para alcançar uma bola no voleio alto ou longe do corpo; seja para sair de uma bola que vem direto na sua barriga... No tênis moderno, cada vez mais rápido, não é raro assistirmos aos jogadores golpeando bolas durante um "vôo" ou durante a corrida. Isto é tênis ou balé?

Tênis é muito mais do que rebater uma bolinha. O maior desafio é chegar ao ponto de contatar a bola

André BorgesVAMOS AOS JOGOS!
5, 6, 7 anos: nesta idade as crianças adoram jogos de correr. Desde os tradicionais jogos de pega-pega e duro-mole, até este sofisticado jogo de Aranha e Mosquito. Para isto, use metade de uma quadra de tênis, contando linhas de fundo e laterais de duplas. Uma das crianças é a aranha, e se posiciona no meio da quadra. As outras são mosquitos, e se posicionam na linha de fundo. Ao comando do professor, os mosquitos correm até a rede e a aranha tenta pegar. Os mosquitos pegos se transformam na teia da aranha: ela os posiciona no lugar que quiser da quadra, e continua pegando os mosquitos restantes. Detalhe: as teias não podem sair do lugar e se transformam em obstáculos aos mosquitos restantes. O último mosquito pego é a aranha no jogo seguinte.

FACILITANDO: caso as crianças sejam muito pequenas, pode-se diminuir a área de jogo ou colocar mais de uma aranha como pegador.

DIFICULTANDO: além de aumentar as distâncias, o professor pode incitar o grupo a bolar estratégias (como, por exemplo, as teias podem ficar juntas em algum pedaço da quadra para dificultar a fuga dos mosquitos).

DICA I: este jogo pode ser usado com todas as idades, pois estimula o correr para frente, a troca de direções, os saltos e os galopes.

DICA II: se você tiver uma escadinha à disposição, use e abuse dela. Para fazer uma, cada degrau mede 19 cm, e você pode ter duas escadas de dois metros ou uma de quatro metros. Crianças não se cansam de inventar novas maneiras de passar por ela. Todos os padrões usados no tênis podem ser estimulados aí.

8, 9, 10 anos: no processo de ensino de tênis, estimular os saltitos é fundamental. O jogo de Saltar o rio é muito legal. Para isto, coloque a criança para fora da linha lateral de duplas. Ao comando do professor, ela deverá: saltar o corredor de duplas (rio), pegar sua raquete do chão e rebater uma bola que você lançou, com o golpe de direita. A partir daí, começa um ponto normal (criança X criança ou aluno X professor).

FACILITANDO: ao invés de saltar as linhas, você pode usar um elástico preso na altura dos calcanhares das crianças (amarrado na rede e na tela do fundo da quadra) para criar um obstáculo mais simples para os saltos.

DIFICULTANDO: aumentar a altura do elástico, ou a largura do rio. Quando acontece a recuperação do salto em altura ou em distância e inicia a corrida para a bola, a criança trabalha seu equilíbrio e os passos de ajuste.

DICA: se for trabalhar com elásticos em suas aulas, já pode usá-lo desde o aquecimento, para corridas e saltos combinados de diferentes formas. Crianças e jovens adoram.

10, 11, 12 anos: as crianças gostam de desafios cada vez maiores nesta fase. Você pode fazer o Super T. Ou seja, uma dupla de crianças fica na linha de fundo e uma terceira fica do outro lado da quadra. O professor fica de frente para a dupla, no mesmo lado da quadra, segurando uma bolinha em cada mão, na posição de "T" (braços elevados na altura dos ombros). Ele vai soltar apenas uma das bolinhas e a criança do lado correspondente dá um pique, rebate e continua o ponto com a que está do outro lado da quadra.

FACILITANDO: aqui também valem as adaptações de diminuir a distância entre o professor e as crianças que se preparam para o pique.

DIFICULTANDO: você quer estimular a velocidade de reação dos seus alunos, aumente a distância ou diminua a altura da bola, para aumentar o desafio. Lembre-se de fazer revezamento entre as três posições para que todos tenham a chance de se exercitar.

13 anos em diante: é superimportante que o atleta tenha um bom passo de recuperação nesta etapa. Para fortalecer os músculos da coxa responsáveis por este movimento, faça com que seus alunos saltem de uma linha lateral a outra por três vezes e, então, solte a bola para rebaterem e começarem o ponto, do fundo da quadra ou da rede. Bons jogos!

Suzana Silva desenvolveu a linha de Raquetes"EZ Wilson" e é diretorada Tote Esporte com Arte. tote@tote.com.br
Suzana Silva

Publicado em 17 de Outubro de 2007 às 15:52


Juvenil/Capacitação

Artigo publicado nesta revista