Australian Open

Entrevista: Fotógrafo do Australian Open cita Nadal e Federer como mais fotogênicos e conta lembranças do Grand Slam

Ben Solomon explica também como faz para se destacar e conseguir as melhores imagens


Ben Solomon e a lenda americana Andy Roddick. Foto: Arquivo Pessoal

"Ser capaz de contar uma história através de imagens é o porquê de muitos de nós estarmos nessa indústria". É com essa frase que o norte-americano Ben Solomon explica seu trabalho. Fotógrafo oficial do Australian Open, ele tem no seu currículo participação em outros grandes eventos do esporte mundial, como Wimbledon, o Super Bowl e uma série de edições dos Jogos Olímpicos.

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Toda experiência ajuda Ben a não se perder e trabalhar sempre mediando a arte e a informação. "O objetivo é fazer fotos icônicas, mas também é necessário que você conte a história do que aconteceu durante uma partida através de suas imagens. Grande parte da fotografia esportiva é sobre antecipação e sorte, mas se você conseguir antecipar sistematicamente o que está procurando, suas imagens serão melhores".

Em entrevista exclusiva para a Revista Tênis, ele conta  suas melhores lembranças no mundo do tênis, revela os tenistas mais fotogênicos do circuito e suas melhores lembranças em Melbourne.

Roger Federer chora ao ganhar o match point e, de quebra, o título do Australian Open 2017. Foto: Ben Solomon.

1) Como é a sua preparação antes dos jogos? Você costuma pesquisar o estilo de jogo dos tenistas para saber qual é o melhor ângulo e momento para tirar uma boa foto?

Antes de começar a fotografar tênis regularmente, sabia muito pouco sobre o esporte e seus jogadores. Então, quando eu estava começando, havia momentos em que eu procurava fotos de torneios anteriores e partidas de jogadores para ter uma noção do comportamento deles em quadra. Para ver se eles fizeram alguma coisa peculiar ou estranha. Com o tempo, você pega pequenas peculiaridades que cada jogador tem, e elas se tornam coisas para procurar em uma partida que diferencia aquele jogador do próximo.

Qualquer um pode tirar uma foto de um forehand ou um backhand, mas saber quando procurar por gotas de suor escorrendo do nariz de Rafael Nadal, ou saber quando o sol da tarde cruza a quadra para criar sombras dramáticas, ou para saber quando um típico estoico Roger Federer pode dar um grito depois de ganhar um set, esses são os momentos que têm o potencial de separar uma boa foto de uma ótima foto.

2) Qual a sua melhor lembrança em todo esse tempo de trabalho no mundo do tênis?

Eu sempre me lembrarei de ter feito meu primeiro Australian Open em 2010. Eu me lembro claramente da partida final do torneio, pois foi a minha primeiro decisão. As outras duas memórias favoritas são mais recentes. Trabalhar em Wimbledon é um item da minha lista de desejos desde que comecei a fotografar tênis, e me foi dada a oportunidade de trabalhar lá em 2017. A partir do momento em que você passa pelos portões de ferro, você sente todo o ar de majestade do local, que permeia todos os cantos.

E minha lembrança mais recente tem que ser o último fim de semana do Australian Open de 2017. Foi o único fim de semana final que realmente me deu borboletas no estômago e me deixou nervoso antes de uma partida. Antes do torneio havia histórias sobre como Federer estava perto do fim de sua carreira, se o estilo de jogo de Nadal continuaria a atormentá-lo com lesões e também de Serena não ter sido capaz de vencer o US Open de 2016 e ter fracassado no final da temporada.

Com todas essas grandes histórias em jogo, o fim de semana da final tornou-se algo como um retorno para a década anterior. Serena contra Venus e Rafa enfrentando Fed. Foi inacreditável ver aqueles quatro jogando pelo título novamente.

Nadal, provavelmente em um de seus memoráveis "Vamos!" durante o Australian Open 2018. Foto: Ben Solomon.

3) Uma vez ouvi de um colega fotógrafo que Rafael Nadal é um dos melhores jogadores para se fotografar. Você concorda isso? Quais outros tenistas também são fotogênicos?

Pergunta difícil. Eu definitivamente acho que Rafa tem todos os ingredientes para poder fazer fotos poderosas. Sua presença em quadra o torna reconhecível até para os fãs de outros esportes e ele e ele sempre demonstra toda a emoção possível em todos os momentos. Quando ele está ganhando e jogando bem, seu punho cerrado e os gritos de 'vamos' fazem fotos incríveis. É da mesma forma quando ele comete erros, ele mostra, geralmente colocando as mãos no rosto. Ser capaz de capturar essa emoção é fundamental para contar uma história, mas geralmente é fácil capturá-la com Rafa.

"Grande parte da fotografia esportiva é sobre antecipação e sorte. Se você conseguir antecipar sistematicamente o que está procurando, suas imagens serão melhores", comenta Ben Solomon

Além disso, acho que o backhand de Federer é uma das coisas mais fotogênicas do esporte. Se você voltar alguns anos atrás, Novak Djokovic costumava mostrar muita emoção na quadra, o que o deixava divertido para fotografar, porque você nunca sabia se ele iria rasgar a camisa depois de uma vitória ou cair de joelhos ou de costas. Ele era imprevisível no match points, quando muitos jogadores têm suas reações padronizadas.

6) Como você faz para unir, em suas fotografias, informações e arte?

Ser capaz de contar uma história através de imagens é o porquê de muitos de nós estarmos nessa indústria. O objetivo é fazer fotos icônicas, mas também é necessário que você conte a história do que aconteceu durante uma partida através de suas imagens.

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"Wimbledon é um item da minha lista de desejos desde que comecei a fotografar tênis", comenta Ben Solomon. Foto: Arquivo Pessoal.

Grande parte da fotografia esportiva é sobre antecipação e sorte. Se você conseguir antecipar sistematicamente o que está procurando, suas imagens serão melhores. Se você não conhece os jogadores que está fotografando, pesquisar sobre eles ou saber sobre o estilo de jogo deles pode ser útil. Ter consciência de que um jogador está prestes a se aposentar, está voltando de uma lesão ou que dois jogadores não gostam um do outro - o que poderia desencadear uma discussão na quadra... todas essas coisas podem ser importantes quando se procura por coisas únicas durante uma partida.

Tirar uma foto de um jogador reagindo com um grande sorriso no rosto é bom, mas se no final ele perde a partida essa foto nunca vai contar a história do que aconteceu. Portanto, esteja ciente de como a partida está sendo jogada e, se houver algum tema, talvez um jogador continue com uma dupla falta ou um foot fault. Olhar para todas essas pequenas coisas pode ajudar a contar a história do que realmente acontece em uma partida.

7) Qual câmera você usava no começo da sua carreira? E agora, o que você costuma trazer para os torneios?

Eu sempre fotografo com equipamento digital. Eu comecei usando uma Nikon D2H com duas lentes de kit. Agora eu viajo com três a cinco kits de Nikon D5 com lentes de 8mm a 600mm. Em alguns dos maiores torneios, trago equipamentos adicionais para acomodar câmeras remotas montadas em posições únicas.

A bela Rod Laver Arena e todo o complexo do Australian Open iluminada pelo sol em Melbourne. Foto: Ben Solomon.

8) Que fotógrafos do mundo do tênis você mais admira o trabalho?

Em partidas de Grand Slam, pode haver mais de 100 fotógrafos fotografando lado a lado. Existem algumas lendas no mundo das fotos esportivas que também transcendem para o tênis. Al Bello e Julian Finney, da Getty Images, e Bob Martin, da Silverhub Media têm olhos incríveis e fotografam muito bem tênis. Você sempre quer estar perto deles, porque eles estão sempre no lugar certo, na hora certa. Parte disso é sorte, mas muito disso é adivinhação por conta da experiência.

De volta às raízes da fotografia de tênis, Russ Adams costumava ser chamado de reitor da fotografia de tênis. Eu só tive a chance de conhecê-lo uma vez no Aberto dos EUA há muitos anos, mas ele abriu o caminho para fotógrafos esportivos na indústria do tênis.

9) Por fim, que conselho você daria para os jovens fotógrafos que querem começar a vida no mundo dos esportes?

A indústria está saturada com muitas pessoas tirando as mesmas fotos das mesmas coisas. Há muitas coisas que tornam alguém bem-sucedido, mas meu conselho tanto técnico quando sobre saber fazer negócios.

Crie seu próprio estilo e seja diferente. Em qualquer partida na quadra central de qualquer um dos Grand Slams, pode haver mais de 70 fotógrafos fotografando a mesma coisa. Em um campo de futebol, pode haver mais de 50 fotógrafos, todos fazendo a mesma coisa que você. São muitas câmeras olhando para a mesma coisa. Tente criar o hábito de se colocar em um lugar onde os outros fotógrafos não estão. Isso pode ser difícil em alguns locais, mas faça um esforço para procurar um ângulo diferente ou, em vez de focar no jogador à sua frente durante o match point, concentre-se em um fã interessante ou no box dos jogadores (onde ficam a família e os membros da comissão técnica). Fotografar a mesma coisa que todo mundo sentado ao seu lado vai te dar a mesma foto que eles e não vai diferenciar você ou seu trabalho. Tente ser diferente. Busque antecipar o que pode acontecer na sua frente e pense como você pode se colocar em uma posição melhor ou em uma posição diferente das pessoas ao seu redor.

É fácil trabalhar e entender que isso é um negócio. Embora muitos fotógrafos esportivos se considerem artistas e criadores de conteúdo, eles venderão suas câmeras se não conseguirem lucrar fazendo o que amam. Os fotógrafos têm uma propensão a reclamar ou mesmo de serem difíceis de trabalhar. Lembre-se de que, quando você trabalha para um cliente, essa empresa ou indivíduo está lhe pagando para fazer o que você gosta de fazer. Se você não gosta, você deve embalar e vender o seu equipamento. Se você adora o que faz, faça um esforço para facilitar para as pessoas fazerem negócios com você.

Guilherme Souza

Publicado em 13 de Janeiro de 2019 às 17:05


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