Ele quer criar a "escola brasileira de tênis"

O oráculo fala - Se há alguém no tênis brasileiro que merece ser ouvido, esse alguém é Larri Passos. Ele falou, e uma multidão ouviu


Luiz Cândido

DOMINGO, 01 de novembro de 2009. Larri Passos caminha sobre o saibro da quadra central do clube Paineiras, em São Paulo. Ele está tranquilo e, embora esteja a muitos quilômetros de sua casa, Balneário Camboriú (Santa Catarina), sente-se à vontade nas dependências do clube paulistano.

No intervalo entre uma e outra das várias palestras que ministrou no segundo dia do Simpósio Internacional de Tênis, o treinador descansa no canto da quadra, sentado em uma cadeira ao lado do alambrado, isolado em seu mundo e, aparentemente, indiferente aos milhares de olhares que da arquibancada se voltam para ele. Entre os presentes à palestra de Larri quase não há fãs de tênis, jogadores e nem mesmo membros da imprensa. O público que sacrifica um domingo de sol para ouvir o que Larri tem a dizer é quase que em sua totalidade formado por professores e treinadores. É para eles que o ex-técnico de Gustavo Kuerten fala. É nessas pessoas que as palavras do mentor de Guga tocam mais fundo.

Enquanto permanece sentado fora de ação, descansando, à espera da próxima palestra, Larri vê a seu redor um mar de câmeras fotográficas. Flashs saem de todo lado em busca da melhor imagem, de uma lembrança deste homem que para esses profissionais que vivem de ensinar o tênis se converteu em um ícone, a principal referência profissional, a materialização do sucesso. "Assistir a uma palestra com o Larri ajuda muito. Faz a gente ter certeza de que está fazendo a coisa certa", diz Luiz Gustavo, professor de tênis do Clube Curitibano.

Quando começa a falar, contudo, as câmeras e tietagem dão lugar aos blocos de anotações, aos notebooks e à compenetração daqueles que têm em Larri um exemplo a ser seguido, e em suas palavras, ensinamentos.

INQUIETO

Ainda que muitas vezes os métodos de Larri tenham sido questionados - especialmente nos piores momentos da derrocada de seu pupilo mais famoso -, para os treinadores que se deslocaram dos mais ermos cantos do País para vir ao Simpósio, suas palavras são preciosas. "Aqui se adquire um conhecimento que não tem preço", diz Flávio Spigata, de Campinas. "Ele (Larri) detalha tudo muito bem. A rotina, as técnicas, a questão psicológica", explica.

O conhecimento que se ganha ao ver Larri em quadra instruindo "seus garotos" de seis, 10, 14, 16 e 18 anos pode não ser tão revelador. Nada de outro mundo. Mas a noção de que se está no caminho certo, de que os conselhos do homem que levou o tênis brasileiro ao topo estão sendo seguidos rigorosamente é para muitos o mais importante. As primeiras palestras são um sucesso, pelo menos entre o público. Ao contrário do que se poderia supor, não há sinais de discursos do tipo: "isso eu já sei", ou "Nossa, que novidade!". Os profissionais escutam com atenção os conselhos e dicas e observam até com certo fascínio, com os olhos de quem nada quer desperdiçar, os métodos que ele compartilha em sua aula interativa. enquanto conversa com a plateia, seus alunos ilustram em quadra aquilo que diz. a bola, que viaja veloz, de um lado para o outro da rede, divide atenção com a figura de Larri, que anda - às vezes corre - inquieto por toda a quadra. essa combinação de teoria e prática dá à sua apresentação o tempero da credibilidade.

Questionado sobre por que vale a pena assistir a uma palestra de Larri, João Carlos santos, do Uberlândia praia Clube, responde: "Ele diz aquilo que todo mundo quer ouvir. Não fica falando da vida dele. fala das coisas práticas. aquilo que todos querem escutar". A praticidade de Larri e a forma clara com que expõe suas ideias é, sem dúvida, um dos aspectos mais elogiados e ressaltados pelo público do simpósio. Além disso, há, também, diversas outras qualidades no treinador gaúcho, que tornam sua palestra, na visão dos participantes, um evento imperdível para aqueles que querem evoluir como profissionais do tênis.

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APAIXONADO

Nas mais de 10 horas que passa falando de tênis com os mais diferentes treinadores dos mais diferentes locais do Brasil, Larri mantém o tempo todo o mesmo semblante. Cabeça erguida e olhos bem abertos, como se cada instante fosse digno de especial atenção. a voz, nunca hesitante, impõe-se de tal modo que suas palavras ganham significado. "a motivação dele é especial. o amor pelo esporte que o Larri tem é o maior exemplo que ele pode passar", diz Leandro Paraná, professor da academia By Tennis, de Curitiba.

A relação passional de Larri Passos com sua profissão e com os seus comandados ressaltada por Leandro se revela em vários momentos da apresentação. Vez por outra ele vai às lágrimas, ao narrar episódios da história de seus jogadores - muitos destes, crianças. Outras vezes é a plateia que, ao passo do ritmo deste gaúcho de passo fundo, se emociona, enquanto ele evoca o futuro do tênis nacional. "Esse é o ponto de partida para mudança do tênis no Brasil", diz ele, encarando a arquibancada. "É assim que vamos construir a tão sonhada escola brasileira de tênis. E são vocês que vão construir", continua, antes de perguntar, em tom motivacional: "Vocês não querem a escola brasileira de tênis?" e concluir: "Só depende de vocês".

As horas em frente a Larri induzem sua audiência a enxergar um ser movido por rios de vontade. Daniel Brito, outro professor do Uberlândia Praia Clube, concorda com essa visão, e diz ainda ver no ex-guru de Gustavo Kuerten não apenas um bom treinador. "Temos outros técnicos do nível do Larri, mas o que admiro nele é a preocupação com os atletas que não são tão famosos. Ele costuma revelar novos valores e ajudar os que não estão bem."

Luiz Cândido

ÍCONE

As técnicas, a rotina de treinamento, a dedicação e a paixão pelo esporte. Cada um dos participantes do simpósio vê algo de especial, de valoroso, em Larri Passos. "Podem falar o que quiser dele. Contestá-lo e tudo mais. Mas o fato é que ele conseguiu o que ninguém conseguiu", frisa o professor Paulo Carvalho, do Rio de Janeiro. essa constatação, em suma, é o que fascina aqueles que vivem do tênis. Larri, junto com Guga, conseguiu o impossível, o que o torna, na visão dos colegas de profissão, quase um mito. "No ano passado, houve uma votação para apontar a pessoa que todos queriam ver palestrando esse ano. E quase todo mundo votou no Larri", diz Paulo Carvalho, para, alguns segundos depois, concluir: "Todo mundo que está aqui, está aqui por causa dele." Larri sabe disso, em suas palavras e em seu gesto ele se mostra consciente de que atingiu um nível de influência e respeito entre seus colegas de profissão que faz dele mais que uma referência para os treinadores. Desse modo, o técnico mais emblemático do tênis nacional conduz a plateia com segurança, tendo certeza de que tudo o que diz é ouvido e de que a maioria de seus conselhos será seguido. "Se o aluno não acatar.", diz ele, em tom sério, para os treinadores, "Pode falar para ele que foi o Larri Passos que mandou fazer", comenta, jocosamente, enquanto o público cai em gargalhadas. Brincadeiras à parte, a frase não foge muito da verdade. O homem sabe o que fala. E os treinadores do Brasil inteiro sabem muito bem disso.

Felipe De Queiroz

Publicado em 11 de Novembro de 2009 às 08:12


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista