Dentro e fora da quadra

Projeto social Bola Dentro tenta se firmar como auxílio a jovens carentes na Zona Oeste da capital paulista


fotos: divulgação

Há quatro anos, os fins de tarde no sereno Parque Villa-Lobos (em São Paulo) ganharam o tempero da presença ruidosa de dezenas de meninas e meninos que, desde então, passam as melhores horas de seus dias praticando tênis nas quadras públicas do local. Desde sua criação, em junho de 2005, o projeto social Bola Dentro mudou a rotina do parque, e também a vida de seus participantes.

Ponto de passagem para tantos, as cercanias cheias de vida do Villa-Lobos foram escolhidas para ser um ponto de partida de jovens carentes da capital paulista. Além de apresentar o tênis a crianças cuja relação com este esporte em circunstâncias normais não iria além de um mero contato visual, o Bola Dentro busca incluí-las, também, em outro jogo: o da vida.

Com sua natureza rígida no que diz respeito à disciplina e ao respeito ao próximo, o tênis dá o primeiro passo na educação da criançada. Para ser aceito no Bola Dentro, é preciso ter entre 7 e 14 anos e estudar em escolas públicas. Para continuar é preciso, porém, seguir algumas normas. "Ser educado, não fazer gestos obscenos, não falar palavrões nem gírias pesadas (...). Ser cuidadoso com as instalações do parque, não agredir árvores, pássaros e frequentadores (...).

Ser prestativo e não criar atritos com os colegas". São esses alguns dos itens que constam no código de conduta do projeto. Semestralmente, os alunos têm suas participações julgadas. É realizada uma avaliação técnica. A análise é feita a partir de critérios como comportamento dentro e fora das quadras, a dedicação ao esporte e a evolução técnica dos golpes.

Aprimorar o tênis diariamente nas quadras do parque pode transformar alguns dos participantes em tenistas profissionais. Aqueles (a maioria, certamente) que não alcançam os patamares mais altos do esporte pelos "trilhos" do Bola Dentro não são, porém, abandonados pelo projeto. O objetivo é possibilitar a formação profissional em diversas posições, como juiz de linha e de cadeira, professor de tênis, auxiliar de professor de tênis, rebatedor de bolas e gandula.

Os que não se identificarem com estas posições poderão ser encaminhados para o Camping (entidade responsável pelos cursos profissionalizantes do Rotary Club). Aos quatro anos, o Bola Dentro - que tem entre seus parceiros a Confederação Brasileira de Tênis (CBT), a Federação Paulista de Tênis (FPT) e o Governo do Estado de São Paulo - sobrevive de doações e da ajuda de empresas e entidades para financiar uma equipe de profissionais que, além dos três professores, conta com dois auxiliares, uma secretária, uma psicóloga e um supervisor dedicado, Agostinho Carvalho.

Sobre as quadras 1 e 2 do Villa-Lobos, localizadas nos fundos do parque, jovens aprendem a executar lobs, a utilizar o slice e o topspin. Mas, mais do que isso, adquirem, no Bola Dentro, a valiosa convicção de que a única coisa que os separa dos outros tenistas - mais abastados, que frequentam o lugar - é uma rede no meio da quadra.

Mais informações: www.boladentro.com.br

Felipe De Queiroz

Publicado em 24 de Agosto de 2009 às 07:23


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Artigo publicado nesta revista