Brincadeira com bola

Devemos deixar que as crianças, mais do que jogar tênis, sejam capazes de brincar de tênis para aí sim formarmos uma verdadeira base para o esporte


PARA A MAIORIA DO PÚBLICO que acompanha esporte pela grande mídia (TV e principais jornais do país), os bons ventos que sopram no tênis brasileiro em 2011 se mostrarão através do aumento significativo de torneios profissionais disputados dentro de nossas fronteiras, com destaque para o aumento dos torneios femininos. Mas a revolução - bem, devemos dizer a evolução - ainda mais importante para o tênis nacional será aquela já chacoalhou a garotada na Copa Gerdau e no Bananinha: o novo formato de torneios para crianças até 10 anos, o Tennis 10's.

Pais podem orientar? Sim, mas sobre o respeito às regras e ao adversário

Sim, o leitor da Revista TÊNIS já leu sobre o assunto em diversas edições. Então por que voltamos a ele? Não será para explicar que as competições foram oficializadas pela CBT e já ocorrem durante todos os torneios nacionais do Grupo A. Também não será para dizer que é importante que as crianças comecem a praticar com as bolas certas, pois de acordo com o regulamento do Tennis 10's, publicado no site da CBT: "A categoria até 8 anos será jogada em uma quadra de tamanho 11m x 5,5m, com a rede na altura de 80 cm e com a bola vermelha (75% mais lenta).

A categoria até 9 anos será jogada em uma quadra de tamanho 18m x 6,5m, com a rede na altura de 80 cm e com a bola laranja (50% mais lenta). A categoria até 10 anos será jogada em uma quadra de tamanho oficial, com a rede na altura de 91 cm e com a bola verde (25% mais lenta)."

Não, caro leitor. Estou certa de que você já sabe tudo isso. A revolução da qual estamos falando é a revolução da nova experiência de aprendizagem do tênis que o sistema Play and Stay e o novo formato Tennis 10's podem proporcionar. Os sistemas são incríveis, agora nós - adultos que organizaremos este processo - precisamos nos preparar.

Se as bolas mais lentas e quadras proporcionais farão com que as crianças experimentem o jogo em sua essência - passar a bola para o outro lado, abrir espaços na quadra fazendo o adversário correr, saber ocupar os espaços mais perto e mais longe da rede com todos os golpes etc -, é importante que deixemos que elas joguem. Joguem muito, joguem livremente, joguem com várias crianças, ganhem, percam, cumprimentem o adversário.

EVOLUÇÃO MORAL

O psicólogo e pedagogo suíço Jean Piaget (1896-1980) desenvolveu suas teorias sobre o desenvolvimento moral da criança observando-as brincando livremente nos recreios escolares e nas ruas. Um dos jogos mais observados por Piaget foi o de bolas de gude. A maneira como as crianças evoluíam na elaboração e no respeito às regras levou-o a pensar que há pessoas adultas que não evoluem moralmente e cognitivamente além de sete anos de idade.

Dentre as características da criança descritas no estágio Pré-Operatório da teoria de Piaget (2 a 7 anos aproximadamente), destacamos que a criança nesta etapa é egocêntrica, centrada em si mesma, incapaz de se colocar no lugar do outro. Assustador nos lembrarmos de quantos adultos são exatamente assim, não?

"O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram", dizia Piaget. E, se queremos formar uma nova geração no esporte, realmente se queremos uma evolução significativa em nossa sociedade, precisamos deixar que as crianças brinquem de tênis o máximo possível. A nossa interferência como educadores, pais, organizadores e dirigentes será de facilitar o aprendizado, de estimular o pensamento e a criatividade das crianças.

FAZENDO PENSAR

No processo das aulas para crianças no sistema Play and Stay, é importante trabalhar com tarefas e objetivos bem específicos (exemplo: "Vamos acertar 10 voleios forehand neste alvo cruzado e curto") nos exercícios técnicos, estimulando o pensamento das crianças. Durante os exercícios e jogos, perguntar: "O que este voleio cruzado no ângulo causou ao adversário? A quadra ficou aberta? Você fez seu adversário correr mais?"

Durante os jogos treino, instigar o pensamento tático. Se a criança venceu, perguntar: "O que você fez para vencer o jogo? Que jogada deu mais certo? Qual ponto fraco do adversário você explorou mais?" Se a criança perdeu, perguntar: "Como seu adversário atuou para vencer o jogo? Quais pontos do seu jogo precisam ser melhorados? Que ponto frágil do adversário você pode explorar da próxima vez? Como fazer isso?" E assim por diante.

Nos torneios Tennis 10's da CBT, há um representante que conduz as atividades com o apoio do árbitro geral do torneio nos Grupo A. É muito importante que os pais e professores aprendam como se portar durante os jogos dos seus filhos. Precisam deixar que errem, que percam, e permitir que eles se comportem como seres autônomos, donos do espaço de jogo. Orientar, sim, sempre sobre o respeito às regras e aos adversários. Devem impedir comportamento antidesportivo. Abraçar carinhosamente o filho nas vitórias e derrotas, lembrando-o de que é apenas um jogo, e sua vida é muito mais do que isso.

Que em 2011 possamos plantar e colher um grande número de atletas e cidadãos corajosos, éticos e felizes. E isso não se faz com a mera repetição de gestos esportivos: precisamos aprender a fazer as perguntas certas!

 

Suzana Silva

Publicado em 4 de Maio de 2011 às 11:00


Juvenil/Capacitação

Artigo publicado nesta revista