Como se adaptar às quadras de saibro e de cimento

Jogar na terra batida é diferente de jogar na quadra dura, portanto, veja como fazer esses ajustes e se dar bem em ambas

Carlos Omaki em 6 de Abril de 2019 às 12:00

 Foto: Luke Hemer/Tennis Australia e Cedric Lecocq /FFT

ATÉ O FIM DA DÉCADA DE 1990, era comum vermos o circuito masculino dividido em dois grupos de jogadores: aqueles que jogavam bem em quadras rápidas - geralmente de cimento - e os ditos "saibristas".Quem dominava um tipo de quadra raramente se saía bem sobre o outro piso.

Surgiram "escolas" que representavam bem isso, como a norte-americana - especialista em superfícies velozes - e a espanhola - com seus experts em longas trocas de bola sobre a terra batida. Apesar de hoje os tenistas profissionais estarem cada vez mais versáteis e serem capazes de ganhar em qualquer piso - basta ver o exemplo de Rafael Nadal, que modificou seu estilo para poder vencer outros Grand Slams que não somente em Roland Garros -, isso não significa que fazer a adaptação entre as duas superfícies seja fácil. E, se não é fácil para os atletas que vivem disso, não é simples para quem bate uma bolinha de vez em quando e está acostumado a um tipo só de quadra.

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Contudo, não é preciso ter medo de sair do saibro e ir para o cimento e vice-versa. Basta entender que o jogo nessas duas quadras é diferente e que é, sim, preciso fazer alguns ajustes para não ficar totalmente perdido. Para ajudá-lo nessa tarefa, vamos elencar as diferenças entre as superfícies, enumerando táticas e técnicas que funcionam melhor em uma e em outra.

Características das superfícies

As quadras sintéticas - também conhecidas como duras ou rápidas - são encontradas principalmente em duas composições, asfálticas (geralmente as descobertas - devido à durabilidade) ou emborrachadas (costumeiramente as cobertas, pois a borracha amortece o impacto). Nelas, as bolas quicam absolutamente regulares - sofrendo apenas a variação dos efeitos (topspin e slice) - e mais baixas do que no saibro. Mover-se é fácil e muito mais instintivo, porém são absolutamente mais agressivas ao físico.O saibro ou terra batida, não só é mais lento como também é mais macio, sendo mais saudável para as articulações. Porém, principalmente devido à camada de pó de tijolo ou telha, que caracteriza este piso, nesta superfície o quique da bola é irregular e mais alto. Mover-se bem neste piso requer uma técnica apurada, ou ao menos, hábito.

Posicionamento em quadra
Com o quique mais alto e o piso irregular, os jogadores tendem a ficar mais distantes da linha de base, entre 2 e 4 metros.

Com o quique mais baixo e regular facilitando bater as bolas ainda na subida, os jogadores ficam mais próximos da linha de base, entre 1,30 e 2,30 metros.


Como é o quique da bola?

 

Devido ao quique alto, em que a bola será golpeada entre a altura do peito e da cintura do jogador, bater bolas planas trará o adversário para dentro da quadra e aí approaches e deixadas terão mais êxito. Consequentemente serão usados golpes longos, mais altos, com topspin na maioria das vezes. Por essa razão, empunhaduras mais viradas, como as Western, facilitam o trabalho.

Já nas quadras rápidas, com as bolas mais baixas golpeadas entre a altura da cintura e do joelho dos jogadores, a tendência será de trocas de bola mais planas com menos efeito e mais rápidas. As bolas mais curtas normalmente trarão o adversário para a rede com approaches que serão eficientes tanto com topspin quanto com slice; e o jogo de rede será muito mais efetivo.

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Jogadas como as deixadas e lobs defensivos serão muito menos eficientes, já que no piso duro as bolas lentas e que caem mais na vertical quicarão mais altas e, com a melhor mobilidade dos jogadores, ficarão fáceis de contra-atacar. . Jogadores que usam empunhaduras como semi-Western e Eastern sentirão mais conforto para jogar nesse piso.

Áreas de atuação

Zonas de ataque

Equipamento

Meias

Para o saibro, a questão peso deve ser considerada. Então, nada de exageros, principalmente com meias muito longas que apenas acumularão terra e suor. Para as rápidas, meias grossas protegerão os pés do atrito contra o tênis e do calor que pode ser acumulado no piso sintético. Na falta de um par de meias bem acolchoada, você pode optar por usar dois pares ao mesmo tempo.

Tênis

O solados dos tênis para quadras de saibro e rápidas devem ser diferentes, com aspectos de proteção e eficiência dos movimentos. Para o saibro, o peso deve ser levado em consideração - como nas maratonas, em que os tênis com corpo de lona levam vantagem e dão mais conforto. O solado deve ser nivelado (sem calcanhar alto) e com desenhos mais profundos melhorando a aderência na pisada.

Para as rápidas, o corpo de couro protegerá mais os pés do atrito nos arranques, mudanças de direção e principalmente freadas. O solado deve ser bem macio e absorver o impacto com eficiência, podendo ter um amortecedor de calcanhar, porém, nunca alto como os tênis de corrida. Um círculo na parte frontal do solado é um ótimo assessório de proteção física, facilitando o giro ou pivô sobre os pés, protegendo tornozelos, joelhos, costas etc. O bico deve ser reforçado para suportar arrastões da movimentação.

Bolas para saibro e quadras rápidas

Todas as marcas de bolas possuem tipos específicos para os pisos, que regulam o quique, a velocidade e a durabilidade, e que, desse modo, podem gerar mais prazer e economia. Uma boa opção é acessar os sites dos fabricantes para saber para que tipo de superfícies elas são feitas e quais materiais especiais utilizam

Golpes e técnica para saibro e quadras rápidas

Com todas essas informações você pode concluir que não há uma técnica unificada para todos os pisos. Os swings longos do saibro podem causar atrasos consideráveis nas quadras rápidas; assim como os curtos podem falhar na aceleração necessária para os longos drives do saibro e assim por diante. É claro que você não irá mudar sua técnica para mudar de um piso para o outro, porém, pequenos ajustes podem ser feitos sem tanta dificuldade.

Se você tiver que sair de um piso para o outro imediatamente, ajustes no material podem minimizar as dificuldades. Por exemplo, ao sair do saibro para a rápida aumente um pouco a tensão das cordas. Da rápida para o saibro, faça o contrário e diminua a tensão. As bolas ficam mais pesadas no saibro do que no cimento. Aí, pequenos atrasos de movimento vão causar mais aceleração, gerando, às vezes, potência indesejada. Esta soma provoca erros. Já na transição das rápidas para a terra batida, a musculatura terá que se acostumar rapidamente ao maior esforço. Então, se você tiver um bom período de transição, ajustes de movimentos e material devem ocorrer baseados em suas preferências e desempenho.

Preparação física específica
Nas quadras de saibro, os golpes serão executados com intervalos maiores e com pontos mais longos e mais disputados, assim, sua capacidade aeróbia será muito mais solicitada. Já em quadras rápidas, intervalos menores e rápidos caracterizam um trabalho anaeróbio. A preparação física deve levar estes e outros aspectos em consideração, como o fortalecimento da parte superior para o saibro e agachamentos e força dos membros inferiores para as rápidas. Os jogadores trabalharão mais em pé (mais alto) no saibro, com mais giro de tronco e mais impulsão. Nas rápidas, joelhos mais flexionados dificultando tirar proveito da impulsão de pernas.

Swing
Se você é um jogador de saibro, procure encurtar um pouco o backswing dos drives e golpear as bolas com o tronco mais fixo nas quadras rápidas. Se você é jogador de quadras rápidas, procure utilizar mais a força das pernas e do tronco com o tempo que você tem a mais. Ampliar um pouco o backswing também não será problema.
Quadras rápidas pedem swings rápidos e curtos No saibro é possível ter tempo para swings bem longos

Impulsão x Transferência de peso
No saibro, a altura e velocidade da bola permitem um aproveitamento maior da força das pernas e rotação do quadril e ombros, sincronizados com o golpe.

Nas rápidas, adapte a concentração de força na transferência do peso do corpo - de trás para a frente - com o tronco mais fixo e um giro mais curto do quadril.

Coordenação de olhos
Jogadores de quadras rápidas geralmente olham menos para a bola por estarem acostumados aos quiques regulares do piso liso e homogêneo, encontrando dificuldade de centralização da bola para o quique irregular do saibro.

Já os saibristas custam a coordenar a velocidade da bola e acabam perdendo-a da visão principalmente em jogadas rápidas como devoluções de saque, por exemplo.

Movimentação
O objetivo deve ser sempre chegar ao ponto de batida antes da bola e golpeá-la essencialmente parado, em qualquer piso.

Sobrepasso

Já a base para o movimento em quadras rápidas é o sobrepasso, ou seja, um passo durante o golpe, que torna a freada mais segura e transfere o peso do corpo para a bola. Confira na sequência de fotos.

Escorregar

As quadras de saibro recebem uma cobertura de pó de tijolo para permitir que os atletas "escorreguem", ou melhor, deslizem sobre a quadra. Este movimento requer uma técnica (ou hábito) e muita prática para sincronizar a movimentação, o impulso e o deslizamento em um tempo justo para parar antes de bater a bola. Ou seja, com treino, acostuma-se a calcular o impulso e o tempo que vai levar para chegar à bola, para nunca passar dela deslizando. Você termina o "escorregão" exatamente onde vai bater a bola, nunca depois.

Foto: Divulgação/Mutua Open

O verdadeiro jogador de saibro sabe quando está com a passada acertada para chegar à bola ou para corrigi-la durante o percurso. Este é um movimento tão minucioso que poucos jogadores deslizam com os dois pés à frente (um para cada lado). A maioria usa o mesmo pé para deslizar em todos os sentidos.

Saber escorregar é fundamental para jogar no saibro. Este é um movimento tão minucioso que poucos jogadores são capazes de deslizar com os dois pés (um para cada lado). Geralmente eles usam o mesmo pé para deslizar nos dois sentidos.

Sintonia fina


A sintonia fina do saibro pode ser feita com apenas um pequeno escorregar do pé de apoio. Já na quadra rápida, o ajuste é realizado com passos muito pequenos sem trocar ou trançar os pés, no movimento chamado "matabaratas". Esta é a base para todos os movimentos.

Comparativo Saibro X Cimento

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