Saque melhor e sem dor

Aprenda como aumentar a potência do seu saque e também prevenir lesões


Ron C. Angle

A Revista TÊNIS convidou dois especialistas em diferentes áreas para escrever sobre o saque, o golpe mais relevante para o desempenho de um tenista. Ludgero Braga Neto, mestre e doutor em Biomecânica, e Ricardo Takahashi, fisioterapeuta da equipe brasileira da Copa Davis, abordam alguns dos mais importantes tópicos sobre esse golpe. Primeiramente, Braga Neto explica os fundamentos biomecânicos do saque, demonstrando como a sequência correta dos diversos movimentos envolvidos nesse gesto pode aumentar a potência. Posteriormente, Takahashi mostrará quais os exercícios mais eficientes para prevenir as lesões mais comuns em cada parte do corpo envolvida no saque.

O SAQUE

O aumento do número de aces em jogos profissionais é notório nas últimas décadas. Isso tem aumentado o interesse em estudar o saque, pois esse passou a ser um golpe altamente determinante na performance do tenista.

No saque, o jogador possui total controle da execução. Entre os vários golpes do tênis, o serviço é o único considerado uma habilidade fechada, ou seja, em que o ambiente varia muito pouco. Sendo assim, é natural assumirmos que sua técnica possa ser melhorada através do treinamento de seus componentes. O domínio desses componentes compreende desde o momento do lançamento da bola (toss) até o contato com a raquete.

Durante a execução do golpe, todas as variáveis podem ser calculadas pelo sacador, como por exemplo: posicionamento espacial e temporal dos segmentos corporais, movimento da raquete, ritmo dos movimentos e rotação imprimida à bola. E mesmo com todo esse controle, se algo não ocorrer como previsto, o executante pode interromper o movimento e iniciálo novamente. E, se ainda assim o serviço não atingir a área determinada, a regra permite uma segunda chance.

Existe ainda outro fator determinante e facilitador para o desenvolvimento do saque: é o único golpe em que você não precisa de um parceiro para praticar. Mas não é só ir para a quadra com um balde cheio de bolas e treinar. São necessárias algumas informações sobre a técnica. Sacar 200 bolas todo dia sem preocupar-se com a técnica pode ser perigoso. Além de treinar seus erros, a sobrecarga em determinadas regiões do corpo, gerada por gestos repetitivos mal executados, pode causar uma séria lesão.

Quais as desvantagens do saque então? Dominar toda a técnica não é fácil. O braço que lança a bola (não-dominante) deve ser levantado lentamente com a finalidade de colocar a bola no ponto ideal de contato, enquanto o braço que segura a raquete (dominante) deve movimentarinstrução se rapidamente em um complexo padrão para golpear a bola combinando potência e precisão. Além dos braços prescreverem padrões de movimento e ritmos diferentes, eles também devem sincronizar- se aos movimentos dos membros inferiores e do tronco. Todos esses movimentos devem ser realizados de maneira muito rápida para gerar potência.

Para quem gosta de números e recordes, o saque mais rápido já registrado pertence a Andy Roddick, durante um jogo de Copa Davis, em 2004, contra o bielo-russo Vladmir Voltchkov. O serviço de Roddick atingiu a incrível marca de 249,4 Km/h.

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FUNDAMENTOS BIOMECÂNICOS

Para o melhor entendimento sobre os vários movimentos que devem ser realizados pelo sacador, é necessário esclarecer o conceito de Cadeia Cinética (Kinetic Chain). Esse termo significa que partes de nosso corpo (joelho, quadril, ombro, cotovelo, antebraço e punho) estão conectadas, e então a força ou energia gerada por cada uma delas deve ser transferida para outra. Essa transferência só ocorre de forma eficiente quando existe uma coordenação entre as partes, em determinada sequência, para que a trajetória, a velocidade e o posicionamento da raquete sejam adequados no momento do contato entre a raquete e a bola. Essa correta coordenação é o que chamamos de timing, em que todas as partes do corpo contribuem para gerar velocidade na raquete.

Atualmente, um tenista com ótimos golpes de base (forehand e backhand) e um saque apenas regular, não consegue sucesso no circuito profissional. Muitos desses tenistas não conseguem fazer do saque uma vantagem por não utilizar adequadamente algum componente da cadeia cinética ou por falhar na coordenação temporal entre esses componentes.

Para fins didáticos, dividiremos o saque em duas fases antes do contato com a bola: fase de preparação (para trás, chamada de backswing) e fase de aceleração (para frente, chamada de forward swing). Dessa forma, podemos identificar basicamente seis partes do nosso corpo atuando na cadeia cinética do saque: joelho e quadril na fase de preparação; cotovelo, antebraço e punho na fase de aceleração. O ombro atua de forma marcante em ambas as fases.

fotos: Ron C. Angle

1. Joelho - durante a execução do saque, essa articulação deverá realizar os movimentos de flexão e extensão. Esses movimentos permitirão ao sacador gerar força principalmente no eixo vertical, aumentando sua impulsão. É o que chamamos de "Força de Reação do Solo". Repare que todos os tenistas profissionais perdem o contato com a quadra durante o saque (fase aérea).

Além de gerar energia, esse salto permite que o sacador golpeie a bola em um ponto mais alto, favorecendo a passagem da bola sobre a rede. Esse ciclo de flexão e extensão dos joelhos também projeta o corpo do sacador para dentro da quadra, ou seja, também gera força no eixo horizontal. Em Biomecânica, essa força é chamada de momento linear, é a força gerada para frente, em direção à rede. O joelho de trás (joelho direito, no caso dos destros) promove a maior parte das forças.

2. Quadril - é responsável pela rotação do tronco. A rotação do quadril para trás auxilia no posicionamento do tronco para o início da fase de aceleração da raquete em direção à bola. Essa rotação pode ser realizada durante o movimento de lançamento da bola (toss). Quanto maior a amplitude dessa rotação para trás, mais o sacador poderá utilizar a rotação inversa (para frente) durante a fase de aceleração.

3. Ombro - durante o saque, essa articulação executa basicamente os seguintes movimentos: rotação externa e abdução (na fase de preparação) e rotação interna (na fase de aceleração). A rotação externa e abdução auxiliam no posicionamento do corpo para o início da fase de aceleração. A rotação interna do ombro inicia a fase de aceleração da raquete em direção à bola, e é a variável biomecânica independente mais relevante na cadeia cinética, pois gera grande velocidade próximo ao ponto de contato com a bola.

4. Cotovelo - realiza o movimento de extensão. O movimento de extensão do cotovelo também aumenta a velocidade do golpe. Além da velocidade, quanto maior o grau de extensão do cotovelo, maior a altura de contato com a bola.

5. Antebraço - é responsável pelo movimento de pronação, outra grande fonte geradora de velocidade dentro da cadeia cinética. Estudos demonstram que o movimento de pronação é responsável por boa parte da geração de velocidade no saque. Para realizar a pronação, pouco antes do contato com a bola, é necessário virar a palma da mão para a direita (no caso dos destros).

6. Punho - é a última parte da cadeia cinética. Na fase final, o punho realiza o movimento de flexão, conhecido no tênis como "snap". Esse movimento nos permite observar em grandes sacadores que a face da raquete se volta para baixo após o contato com a bola.

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FISIOTERAPIA X PREVENÇÃO

Agora passamos a exemplos de exercícios específicos para cada articulação e para o movimento do saque:

1. JOELHO

Agachamento: forma segura de se fortalecer a perna. Flexione os joelhos até alcançar 90o e volte à posição inicial;

Afundo: inicie com os pés juntos, avance uma das pernas para a frente, com uma distância suficiente para que possa flexioná-lo em um ângulo de 90o e retorne à posição inicial. Você poderá repetir com a mesma perna ou intercalar com a outra;

Exercício Específico: salto com os pés juntos - simulando o movimento do saque (foot up). Inicie o exercício com os pés separados (distância dos ombros) e em seguida junte os pés e salte para cima;

Exercício Específico: salto com os pés separados - simulando o movimento do saque (foot back). Inicie o exercício com os pés separados (na distância dos ombros), flexione os joelhos e salte para cima.

2. QUADRIL

Rotação de quadril: inicie o exercício apoiado somente com um dos pés, gire a perna do outro lado para frente até que o joelho fique em frente ao da outra perna (conforme a foto). Repita do outro lado;

Step: avance a perna livre para frente ao mesmo tempo que a perna apoiada flexione até 90° sem encostar o pé e retorne à posição inicial;

Exercício Específico: fixe um elástico do lado direito do quadril (destros) e, simulando o movimento do saque, gire o quadril contra a resistência elástica.

3. OMBRO

Rotação Interna: inicie o exercício conforme a foto, mantenha a posição de ombro e cotovelo e faça a rotação para a frente;

Rotação Externa: inicie o exercício conforme a foto, mantenha a posição de ombro e cotovelo e faça a rotação para trás;

Exercício Específico: usando um halter ou um elástico, simule o movimento do saque.


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4. COTOVELO

Extensão de cotovelo: segure o elástico com o cotovelo flexionado apoiando-o no tronco, estenda até o fim e retorne à posição inicial. Repita conforme sugerido;

Exercício Específico: com um halter ou um elástico inicie o exercício na posição de preparação do saque, com o cotovelo flexionado e estenda até o fim. Evolua o exercício terminando o movimento com rotação de quadril e flexão de tronco.

5. ANTEBRAÇO

Pronacão: com um halter, inicie o exercício conforme a foto (cotovelo fletido) e rode o antebraço (pronacão) para os dois lados (palma da mão para cima e palma da mão para baixo). Evolua o exercício com extensão de cotovelo;

Exercício Específico: repita o exercício do item anterior (cotovelo) e no final do movimento termine com a pronacão do antebraço.

6. PUNHO

Flexão de punho: com um halter, inicie o exercício com o antebraço apoiado e palma da mão para cima, conforme a foto, e faça a flexão do punho;

Extensão de punho: com um halter, inicie o exercício com o antebraço apoiado e palma da mão para baixo, conforme a foto, e faça a extensão do punho;

Exercício Específico: simule o movimento do saque, preste atenção em todas as fases do movimento, principalmente o momento do "contato da bola"e dê ênfase na flexão do punho. Comece o exercício com um peso menor que o da sua raquete e evolua com bom senso.

Ricardo Takahashi E Ludgero Braga Neto

Publicado em 18 de Maio de 2010 às 14:13


Técnica/Drills

Artigo publicado nesta revista