Instrução Técnica
Vale a pena tentar copiar o seu ídolo? Como aproveitar o melhor do “aprendizado visual”
VOCÊ JÁ REPAROU NA TÉCNICA DE GRIGOR DIMITROV, também conhecido como “bebê Federer”? O búlgaro pode até ter ficado irritado com comparações e com a pergunta sobre sua técnica idêntica ao melhor tenista de todos os tempos, porém é mais do que evidente que Roger Federer foi sua inspiração, pois não apenas a plástica dos golpes é a mesma, mas a forma de jogar, o estilo, as decisões e as escolhas em cada situação seguem à risca o “modelo” do suíço.
A observar isso, algumas perguntas ficam no ar: imitar um ídolo é bom ou ruim? Ajuda ou atrapalha o desenvolvimento? Por que isso acontece mais frequentemente nos dias de hoje? Quais são os problemas que isso pode gerar? Existem vantagens?
Vamos tentar esmiuçar o assunto para você definir sua opinião a respeito.
Temos três formas básicas de aprendizado: visual, auditiva e cognitiva. E aqueles que aprendem de forma visual normalmente acabarão, às vezes, reproduzindo movimentos, empunhaduras, gestos e até atitudes que veem com frequência, mesmo que de forma involuntária. Essas pessoas têm extrema facilidade de imitar ou copiar, e assim acabam por incorporar personagens e, por isso, é claro, não terão dificuldade alguma em reproduzir as ações e o estilo de seus ídolos. Se isso é bom ou ruim, é simples: se você for aprender com seus olhos, reproduzindo movimentos, melhor copiar Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic ou Andy Murray do que seu professor ou colega de treino, a menos que eles sejam melhorem que esses profissionais.
Procure definir qual é o quesito que mais destaca seu ídolo, para absorver o que ele tem de melhor
A prática acentuada leva normalmente à individualidade, ao estilo próprio, às adaptações pessoais ligadas ao reflexo, velocidade, força, temperamento e às próprias preferências de como fazer ou agir em determinadas situações. Dessa forma, mesmo campeões sofrem com o tempo ou com as necessidades de mudanças na estrutura de seu jogo, sejam voluntárias, técnicas ou involuntárias. Certamente ter um “mapa” de onde se quer chegar tornará o aprendizado menos vago, abstrato e intuitivo, facilitando as tarefas. Porém, todo aprendizado é baseado em etapas e estágios, que podem ser negligenciados, pulados ou perdidos na reprodução de um gesto de alguém que levou anos para chegar à definição de seu próprio estilo.
Os estudos de biomecânica provam que vários gestos de tenistas avançados são o resultado da evolução de determinados movimentos básicos e que não deveriam ser ensinados desde o início dessa forma, podendo principalmente causar danos e até lesões ou, no mínimo, dificultando o aprendizado.
Outro porém dessa prática é que a simpatia pela forma de jogar de um atleta não necessariamente respeita características físicas, envergadura, força física etc, do jovem que está sendo influenciado por ela. Mas, no caso, é possível que o próprio atleta acabe fazendo ajustes para suas características, naturalmente.
Com todas essas variáveis, é muito provável que o atleta que se baseie em um outro jogador, com a prática e com o tempo, por mais que continue parecido com o seu ídolo ou professor, adquira suas próprias características e desenvolva seu próprio estilo.
Desde sempre os ídolos são copiados, suas roupas, seu equipamento, raquetes, tênis etc. As raquetes de Bjorn Borg, Pete Sampras, assim como as roupas de John McEnroe e André Agassi eram proporcionalmente tão procuradas e vendidas quanto as de Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic. Tudo aquilo que podia ser visto por seus fãs em revistas, jornais, fotos ou nas poucas vezes que seus jogos eram televisionados nos canais abertos de TV, eram copiados. Por isso, seus golpes, técnicas e estilo eram bem menos imitados do que hoje – com a facilidade dos canais pagos e a internet. Os fãs, e principalmente os jovens, podem passar horas vendo vídeos, jogadas e golpes de seus ídolos, parar, rever, ver em câmeras lentas e em HD, por todos os ângulos, facilitando demais uma reprodução, já que o tênis é um dos esportes mais televisionados do mundo.
Como mencionado anteriormente, a admiração por um atleta desencadeia uma série de preferências na técnica, no estilo e na escolha da vestimenta ou material de treino e jogo. O mais importante é manter a cabeça aberta para algumas observações que possam ser feitas por um treinador, principalmente na parte técnica, mas também em relação ao material e até à vestimenta.
As marcas de raquetes e roupas obviamente disponibilizarão peças iguais a de seus patrocinados para comércio junto aos fãs e alguns cuidados precisam ser observados. Por exemplo, as raquetes dos tenistas profissionais masculinos podem pesar até 400 gramas, muito a mais do que a grande maioria dos tenistas, mesmo os avançados, deve usar. Sua composição (material), também na maioria das vezes, não é a ideal para muitos níveis ou tipos físicos, ao ponto de quase todas as marcas disponibilizarem os modelos dos grandes tenistas em versões adaptadas, com peso, equilíbrio e material diferenciado, dentro das especificações ideais para crianças, mulheres ou tenistas iniciantes. Por outro lado, isso, muitas vezes, não acontece com os calçados, em que a mudança fica apenas na redução do tamanho, tentando manter o material e os detalhes, o que pode resultar em um equipamento inapropriado, pesado e desproporcional para uma criança, por exemplo.
Como tirar o melhor proveito desse tipo de aprendizado?
Em primeiro lugar, procure definir qual é o quesito que mais destaca seu ídolo, para absorver o que ele tem de melhor. Para ajudar, fizemos uma lista de bons exemplos de alguns dos principais jogadores do mundo, os top 10 atualmente nas páginas seguintes. Veja com qual você se identifica.
Enfim, copiar quem sabe fazer é uma boa estratégia de aprendizado e uma economia mental e psicológica na definição de estilo e estratégia de jogo. Porém, lembre-se: isso não é para todos. Algumas pessoas, por mais que gostem muito de um jogador, não terão a mesma facilidade de aprendizado visual e, muitas vezes, pode criar movimentos defeituosos, imperfeitos, ineficientes e até nocivos ao físico, derivados de sua impressão de estar reproduzindo gestos de seus ídolos, professores ou companheiros de treino.
Um dos exemplos disso pode ser a terminação de forehand de Rafael Nadal, copiada por muitas crianças no mundo todo. A particularidade mais marcante do espanhol foi apontada por Tony Nadal como uma teimosia, um erro que a equipe técnica não conseguiu consertar. Outro exemplo é o francês Jo-Wilfried Tsonga, que embora tenha seu backhand prioritariamente com as duas mãos, possui o hábito de arriscar uma esquerda de uma mão para dar passadas quando seus adversários vêm para a rede em bolas ofensivas.
Esses exemplos podem ser um bom alerta para que os atletas-admiradores de outros tenistas aceitem que alguns golpes ou características não devem ser copiados, assim como hábitos e atitudes. Se a prática de “imitar” seu ídolo dá certo ou não, a chegada de Dimitrov ao top 10 pode responder. Mas, lembre-se, nada de copiar as manias dos temperamentais, quebrar raquetes ou atirá-las ao chão, discutir com árbitros e nem arrumar a cueca durante os pontos.
Veja como o sérvio se destaca por sua agressividade, coragem e impetuosidade nos momentos difíceis, apoiado na solidez de seu jogo e excelente preparo físico, além de sua seleção de golpes, ou seja, sua escolha de jogadas em função dos movimentos do adversário.
Seu ponto forte é sua aplicação estratégica em cada partida, sua postura e imagem corporal perante os adversários, suas rotinas e, principalmente, sua meticulosidade com seus bons hábitos, além, é, claro, de seu preparo físico.
Vale a pena copiar aspectos como o trabalho de pernas, a movimentação de cobertura da quadra e recuperação, sua antecipação após desferir golpes, sejam ofensivos ou defensivos, além do movimento de pernas para a devolução de saque e para os voleios, sua coordenação de olhos, o tempo que ele gasta a mais olhando para a bola após o golpe etc. Isso sem falar da postura em quadra e fora dela.
A limpeza da técnica de seus golpes unida à uma aplicação/adaptação tática de acordo com o oponente são dois grandes trunfos do suíço. Além disso, foi capaz de superar o fato de ser sempre taxado como o número 2 de seu país e nunca poder alcançar Federer para encontrar seu espaço.
Saber aproveitar o máximo de sua envergadura e da potência de seus golpes para intimidar e minar as resistências do adversário, obrigando-o a jogar sob seus termos e seu ritmo.
Faça de seu saque uma arma e tire todo o proveito de começar o ponto com total domínio da jogada, ditando as regras. Raonic também não tem qualquer medo de arriscar, especialmente quando está na frente do placar.
A prova de que a consistência técnica, tática e mental dá enormes resultados no tênis, mesmo quando, teoricamente, há menos talento, “dom natural”. Há muitos anos dentro do top 10, Ferrer é um exemplo de aplicação e trabalho que deve ser seguido.
Apesar de ter a potência como ponto alto, entender o momento certo de usá-la é crucial. Além disso, ter passado por tantas lesões com tão pouca idade (25 anos) e ser capaz de recomeçar é uma bela lição que Del Potro deixa.
Uma prova de que seguir e adaptar algumas características de seus ídolos pode dar resultado, desde que elas se enquadrem em seu perfil de atleta, tanto físico quanto mental, para não criar idiossincrasias estranhas.
Um bom exemplo de quem foi capaz de vencer os seus medos, espantar fantasmas. Além disso, mostra-se um tenista capaz de se adaptar a qualquer tipo de jogo, com um estilo completamente maleável, difícil de imitar.
Publicado em 28 de Julho de 2014 às 00:00