A Revista TÊNIS esteve pela primeira vez in loco no US Open e observou a vasta hegemonia de Federer em Nova York
Em uma noite, os jogadores entram em quadra, o locutor os anuncia, o segundo nome é o de Roger Federer, o público vai ao delírio, logo o DJ sobe, como fundo musical, os inconfundíveis acordes que o maestro John Williams montou para ser tema do personagem Darth Vader, da seqüência de filmes “Guerra nas Estrelas”, de George Lucas. Assim como o vilão da série, o suíço vem todo de preto, como se vestido para uma festa de gala. Naquela noite, como Vader, Roger extermina mais um oponente que ousa atravessar seu caminho rumo ao 12º título de Grand Slam. Com poderes tão devastadores quanto os do personagem com o qual é comparado, Federer expande seu domínio e cria um império só seu.
Para muitos, a “força do lado negro” seria testada contra Roddick, nas quartas. Mas, mesmo antes da partida, o suíço alertou: “Andy já jogou de diversas maneiras contra mim. Já tentou de tudo. Então, acho que não serei surpreendido...” Dito e feito. Nem a torcida, nem um nível extraordinário de tênis foram suficientes para levar o norte-americano à vitória.
O predomínio de Federer é tão grande que ele diz não se preocupar demasiadamente com os adversários: “Me diga um nome e tenho tantas coisas na cabeça sobre esse jogador que não preciso sentar e conversar sobre ele por uma hora. Isso leva 15 segundos, basicamente. Sei tudo o que preciso saber e estou pronto.” Não precisa planejar nada? “Não. Eu improviso.”
Agassi, durante o torneio, disse que Roger é o número um porque é o melhor em vários aspectos do jogo. Será? “Quando meu saque não está bom, sei que meu jogo de base me ajuda. Se uma coisa não está bem, eu ainda estou ok. Tenho um bom repertório de golpes e coisas que posso escolher em cada momento”, confirmou o suíço. Porém, para outros, Roger tem é sorte. “Sempre digo que algumas vezes você precisa ter um pouco de sorte. Contudo, você pode trazê-la para o seu lado, mais do que apenas acreditar na sorte pura e simplesmente. Em jogos de cinco sets você meio que coloca a sorte de lado e tem mais a ver com quão bom você é”, garante Federer. O suíço agora está a apenas dois Grand Slams do recorde de Pete Sampras. Se a “sorte” dele continuar assim...
Faltou a imitação final
Se Federer era Darth Vader, todos esperavam que Novak Djokovic encarnasse Luke Skywalker e, assim, o roteiro da final estaria mais do que pronto. Porém, o poder (principalmente mental) do suíço foi demais para o sérvio na decisão. Sempre bem-humorado, “Nole” até brincou com o fato de ter perdido várias chances na partida: “Meu próximo livro vai se chamar ‘7 Set Points’”. Ele perdeu cinco chances só na primeira parcial. No entanto, esta foi apenas a sua primeira final de Grand Slam e ele tem muito a aprender. O que aprendeu desta vez? “Que preciso ganhar os set points...”, ri.
Djoko foi uma das grandes atrações do US Open 2007. Sua irreverência fez com que fosse convidado a expor seus dotes de imitador na tevê, logo após a partida contra Moyá. O mundo todo pôde rir de sua personificação de Nadal e Sharapova.
“Ultimamente as pessoas estão me cumprimentando mais pelas minhas imitações do que pelo meu tênis...”, divertiu-se o sérvio. No entanto, durante as duas semanas de competição, ele revelou que não era capaz de imitar um único jogador: “O intocável, Roger. É muito perfeito para o meu estilo, não posso”. Pois é...
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Federer de saias
Se do lado dos homens há uma liderança incontestável, entre as mulheres, uma também vai se consolidando. No US Open, Justine Henin jogou um tênis soberbo. Como Federer, usou todas as armas possíveis: slices, saque-e-voleio (com 1,67m!), chip and charge, direitas potentes etc. Além disso, notou-se ainda o seu sorriso, algo que não era comum antes. Apesar de não apreciar Nova York e ser bastante reservada, a belga se mostrou feliz com a nova fase de sua carreira, em que ela tem interagido mais com o público e tem novamente aproveitado o suporte da família, com a qual se reconciliou após oito anos. Segundo ela, tudo isso lhe dá confiança para jogar em seu melhor nível. Mas, ao ser comparada com Federer, ela responde: “Roger é Roger. Ele é único”.
Svetlana Kuznetsova |
Henin foi demais
As beldades ficaram pelo caminho e a robusta russa Svetlana Kuznetsova voltou a fazer a final do US Open. Desta vez, encontrou uma adversária pequena e franzina, mas “à sua altura”, ao contrário de 2004, quando venceu a estonteante Elena Dementieva. Após a derrota para Henin, a russa reconheceu a versatilidade da belga: “Ela tem um jogo incomum. Todas as garotas contra quem joguei aqui jogam um tênis totalmente diferente...”
Nikolay Davydenko |
Falta de sorte “
O que faz de Roger um adversário tão duro?”, perguntou um jornalista na coletiva de imprensa. “Sorte. Acho que Federer é sempre sortudo. Algumas vezes eu tentava movimentá-lo da esquerda para a direita e ele jogava alguns pontos muito bons. Não entendo como ele pode...”, comentou o “azarado” russo Nikolay Davydenko após a décima derrota para o suíço e, pela terceira vez seguida na semifinal de um Grand Slam. Haja sorte!
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Anna Chakvetadze |
As tranças de Chakvetadze
A russa Anna Chakvetadze não é tão bela quanto a compatriota Sharapova e também não tem golpes tão potentes quanto a musa. Mas a menina apresentou resultados consistentes durante toda a temporada e já surge no top 5, com a semi nos Estados Unidos. Seu estilo variado, faz o críticos compararem-na a Martina Hingis.
David Ferrer |
Trabalhador
Para quem quase desistiu do tênis para trabalhar na construção civil (pois ganhava mais), chegar à semifinal do US Open e ser chamado por Federer de “o melhor devolvedor”, não é nada mal. Que o diga David Ferrer. Só resta agradecer: “Obrigado, Roger!”
Andy Roddick |
Desilusão
O jogo contra Federer nas quartas era decisivo. Andy Roddick estava extremamente concentrado. A torcida gritava: “C’mon, Kid! This is your day! (Vamos, Garoto! Este é o seu dia!)” E era. Ou, quase era... O norte-americano apresentou um tênis incrível, mas do outro lado havia um mágico, que realizava passadas com um simples movimento de pulso e anotava aces de segundo saque. “Joguei muito hoje. Joguei do jeito certo. Isso ajuda (a não ficar tão irritado com sua 14ª derrota para Roger), mas não significa que eu não esteja p... da vida”, lamentou Roddick.
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Ana Ivanovic |
Encantadora
Ana Ivanovic tem atraído uma multidão de marmanjos por onde passa. A garota é extremamente simpática e está sempre sorrindo. Solítica, costuma atender os pedidos dos fãs, desde que não sejam esdrúxulos, como o rapaz que lhe solicitou um autógrafo na testa. Em Nova York, perdeu nas oitavas.
Ana Ivanovic |
Ousada
Mesmo um pouco acima do peso, Serena Williams quis mostrar as suas formas arredondadas. Semanas antes, ela já havia posado para um ensaio sensual em uma revista. Sua ousadia, no entanto, parou nas quartas-de-final diante da delgada Henin.
Venus Williams |
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Força e Sutileza
Ao contrário da irmã mais nova, Venus Williams tende a ser mais comedida nas palavras e nos uniformes. Com um jogo agressivo e determinado, ela bateu as sensações sérvias Ivanovic e Jankovic, mas, como Serena, parou na esplêndida variação de Henin na semifinal.
Jelena Jankovic |
Prova de elasticidade
A esbelta Jelena Jankovic estava visivelmente cansada nas rodadas finais do US Open. Após dois jogos duros, não resistiu à potência de Venus nas quartas-definal, mesmo se esticando para valer. Contudo, ela ainda levou a partida para o tiebreak do terceiro set.
Rafael Nadal |
Faltou joelho
Logo na primeira partida, ficou claro o quanto os joelhos de Rafael Nadal sofreram durante a temporada. Mesmo sentindo dores, o espanhol continuou firme até as oitavas. Haja determinação! No fim, Nadal admitiu: “Não sinto meus joelhos!”
Tommy Haas |
Ecletismo
O alemão Tommy Haas protagonizou um dos jogos mais emocionantes do US Open. Nas oitavas, venceu James Blake no tiebreak do quinto set. O norte-americano também fez um jogo fantástico contra o francês Fabrice Santoro, na segunda rodada.
Novas caras
1- Agnieszka Radwanska
2- Agnes Szavay
3- Tamira Paszek
4- Ernests Gulbis
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Alguns nomes surpreenderam no US Open 2007. Primeiro, foi a vez de a polonesa Agnieszka Radwanska, que chegou a ser número um juvenil em 2006 após vencer Roland Garros. Ela eliminou a queridinha Maria Sharapova na terceira rodada. Infelizmente, os cristais Swaroviski do vestido da russa não foram suficientes para ofuscar a revelação polonesa. Por sinal, a irmã de Agnieszka, Urszula, segue a mesma trilha: foi vice-campeã da versão juvenil do torneio e é número um do ranking ITF.
Em seguida, foi a vez de a húngara Agnes Szavay entrar em cena ao vencer Nadia Petrova e alcançar as quartas.
Juan Ignacio Chela |
Em 2004, a garota esteve no Brasil. Foi vice do Banana Bowl e semifinalista da Copa Gerdau. Ela mal sabia falar inglês. No ano passado, a jovem terminou em 207ª na classificação da WTA, porém jogou boa parte da temporada com mononucleose. Recuperada, já está entre as 20 melhores do mundo e bastante desenvolta nas entrevistas coletivas.
Carlos Moyá |
Outra garota prodígio é a austríaca Tamira Paszek, pupila de Larri Passos. A menina também despachou cabeçasde- chave, como Francesca Schiavone e Patty Schnyder, antes de parar nas oitavas. “Mimi” começou o ano em 181º lugar e já aparece entre as 50.
Entre os homens, destaque para o letão Ernests Gulbis, de 19 anos e grande potência nos golpes. Filho de um rico investidor e uma atriz, o jovem ingressou no top 100 este ano após vencer dois Challengers. No US Open, deu uma aula em Tommy Roberdo para passar às oitavas, mas faltou manha diante do espanhol Carlos Moyá.
Experiência ainda faz a diferença
No começo do ano, Carlos Moyá ouvia perguntas sobre sua aposentadoria. Aos 31 anos, poucos acreditavam que ele ainda poderia jogar em alto nível. Mas ele provou que, sim, pode e foi às quartas. Será apenas o seu “canto do cisne” ou um novo recomeço?
Quem também usou de sua experiência para avançar no US Open foi Juan Ignacio Chela. O jogo bastante eclético do argentino o levou às quartas e de volta ao top 20.
Brasil na dupla e só
Nenhum brasileiro conseguiu se classificar para a chave principal de simples do US Open. Os dois juvenis, Henrique Cunha e Fernando Romboli, perderam na estréia. Mas o Brasil contou com Marcelo Melo e André Sá. Na primeira partida, eles venceram Guga, que fez parceria com Robby Ginepri. Na coletiva, o quieto Melo, estava ainda mais quieto, pois sabia da investigação por doping que só seria revelada depois da Copa Davis. Mesmo assim, ele e Sá fizeram mais uma grande campanha e chegaram às quartas.
Publicado em 18 de Outubro de 2007 às 14:19