Roland Garros
Paris é uma cidade cheia de atrações, mas, em maio, começo da primavera, todas as atenções se voltam para um local próximo ao Bois de Boulogne; e não é para ver a exuberância dos parques parisienses
VOCÊ JÁ FOI A ROLAND GARROS? Não? Já foi à Paris? Não também? Então, se um dia tiver a oportunidade, vá, pois não se arrependerá. Em uma cidade neoclássica, já repleta de encantos, joga-se um Grand Slam mágico. Nas quadras de Roland Garros, em Porte d'Auteuil, nas costas do grande parque Bois de Boulogne (um dos preferidos dos parisienses), no 16e arrondissement, é possível conhecer a essência do jogo no saibro.
A terra batida do Aberto francês (cujo nome é uma homenagem ao famoso aviador) é centenária. Apesar de ser o último a ter se juntado aos Grand Slams (em 1981), Roland Garros completou 120 anos em 2011. E dentro dessa longa história, o torneio já tinha visto muita coisa, mas, novamente, abriu espaço para novidades, como a primeira chinesa a ganhar um Major desde que o tênis nasceu e a consagração de um espanhol como o maior tenista de saibro de todos os tempos, superando marcas lendárias.
RESULTADOS FINAIS SIMPLES Rafael Nadal (ESP) v. Roger Federer (SUI) 7/5, 7/6(3), 5/7 e 6/1 DUPLAS Max Mirnyi (BLR) e Daniel Nestor (CAN) v. Juan Sebasti an Cabal (COL) e Eduardo Schwank (ARG) 7/6(3), 3/6 e 6/4 Andrea Hlavackova (CZE) e Lucie Hradecka (CZE) v. Sania Mirza (IND) e Elena Vesnina (RUS) 6/4 e 6/3 Casey Dellacqua (AUS) e Scott Lipsky (USA) v. Katarina Srebotnik (SLO) e Nenad Zimonjic (SRB) 7/6(6), 4/6 e 10-7 JUVENIL Bjorn Fratangelo (USA) v. Dominic Thiem (AUT) 3/6, 6/3 e 8/6 Ons Jabeur (TUN) v. Monica Puig (PUR) 7/6(8) e 6/1 Andres Artunedo Marti navarr (ESP) e Roberto Carballes Baena (ESP) v. Mitchell Krueger (USA) e Shane Vinsant (USA) 5/7, 7/6(5) e 10-5 Irina Khromacheva (RUS) e Maryna Zaneca (UKR) v. Victoria Kan (RUS) e Demi Schuurs (NED) 6/4 e 7/5 |
Este campeonato parece mais "incrível" a cada ano, com novas histórias, com partidas de tirar o fôlego. Ainda assim, ele fica em Paris. Basta subir ao ponto mais alto da quadra central, Philippe Chatrier, para ver, à esquerda, sobre as árvores do Bois de Boulogne, o maior símbolo da cidade e também da França. A onipresente torre Eiffel parece um farol (e à noite, com tantas luzes, quase se torna um de fato) a atrair para os sublimes encantos de parques, praças, ruas, avenidas, museus, igrejas, restaurantes, monumentos...
Então, mesmo que você seja o maior fã de tênis que já existiu no mundo, não há como resistir às tentações de Paris. Nem mesmo os tenistas conseguem e não é raro vê-los passeando pela cidade com a família nos horários livres. A Revista TÊNIS também esteve em Paris para acompanhar Roland Garros e aproveita aqui para fazer uma brincadeira e comparar os principais personagens e eventos do torneio com as grandes atrações da cidade.
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A TORRE Para Roland Garros, Nadal é como a torre Eiffel para Paris. Ela é visível de quase todos os cantos da cidade. Feita com uma estrutura inabalável, somente se percebe sua grandiosidade ao chegar perto e ver o tamanho da vigas de aço que sustentam suas poderosas pernas. Diante dela, estende-se o longo Champ de Mars para que nada fique em seu caminho ou ouse obstruir essa visão magnífica. Mas nem seria preciso, já que nada é capaz de lhe fazer frente. |
O HOMEM DA TERRA
Número um em jogo e mais do que isso, o título de "Rei do Saibro". Antes de Roland Garros, Nadal perdeu duas nais seguidas de Masters 1000 para Djokovic e, diante do embalo do sérvio, parece que pouco poderia ser feito para ele se consagrar como novo líder do ranking no Aberto francês.
Depois de um susto na primeira rodada e outros jogos titubeantes em Paris, parecia claro que o espanhol tinha mesmo perdido a con ança em seu piso predileto e ia entregar tudo de bandeja para Djokovic. Ledo engano. O campeão se mostrou quando preciso e amealhou seu sexto título em Roland Garros, igualando o número de conquistas de Bjorn Borg. Este era o número que faltava para o "Touro" ser nalmente reconhecido como o maior da história sobre essa superfície tão cheia de nuances.
MARCHA VERMELHA
Demorou, mas a China, que parece querer mesmo dominar o mundo como nos tempos antigos, deu o primeiro passo para mandar no tênis. Na Li, que já havia deixado 1 bilhão de pessoas ansiosas quando chegou à final do Australian Open deste ano, sagrouse, em Paris, a primeira tenista asiática a vencer um Grand Slam.
Como na Austrália, a chinesa soltou o braço sem medo e, aproveitandose desse momento em que o tênis feminino anda sem tenistas realmente capazes de ditar as regras, marcou seu nome na história e, com isso, chamou de nitivamente a atenção de um dos maiores mercados do mundo para este esporte. É preciso ficar de olho, pois a vitória de Na Li pode representar uma grande revolução.
LOUVRE Bilhões de pessoas. O mais famoso museu do mundo atrai gente sem parar e é o que se espera que aconteça após o título da chinesa Na Li. Dentro daquelas paredes há milênios de história contados através de pedaços de pedra, pano, quadros, relíquias que remontam ao começo da humanidade. São tantas as obras-primas que é difícil escolher uma só para ver e é impossível ver tudo de uma só vez. |
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FORZA ITALIANA
Novamente a trintona Francesca Schiavone rumou à nal de Roland Garros. Vê-la jogar é sempre interessante, pois ela é uma das poucas tenistas que se dá o direito de ousar em quadra. Alguns maldosos dizem que a beleza de seu jogo é inversamente proporcional aos seus dotes físicos. Mas a verdade é que, em uma superfície "sinuosa" a italiana sabe mostrar seus dotes. Desta vez, contudo, sentiu a pressão por defender o título.
Mas a massa italiana que invade Paris nessa época não viu somente Schiavone. Viu também um jovenzinho atrevido e marrento alcançar as quartasde nal. Fabio Fognini tem fama de ser mala desde os tempo de juvenil. Extremamente habilidoso, sua empá a, muitas vezes, atrapalha seu desempenho. Desta vez, com um pouco de sorte aliada à competência, o garoto foi longe. Nas quartas, fez um dos jogos mais incríveis do torneio contra Albert Montañes e ganhou no quinto set, por 11 a 9, sofrendo de cãibras terríveis e ainda assim salvando match-points impiedosamente. Tamanho desgaste, porém, fez com que desistisse da partida contra Djokovic na semi.
NOTRE DAME Já que a Itália é o centro do catolicismo, nada melhor do que citar a Notre Dame para falar dos italianos. A igreja, que remonta ao século XI, impressiona. Seu estilo é predominantemente gótico, mas com traços românicos; uma mistura de esti los que surpreende. Sua grandiosidade é marcante, seus vitrais maravilhosos e, para aqueles que vão à missa aos domingos de manhã, o som do seu órgão - capaz de preencher cada canto da nave - é inigualável. |
IMPRESSIONISTAS O local que hoje abriga o museu d'Orsay já foi uma estação de trem, tanto que o relógio, exuberante quando visto de dentro, ainda faz questão de marcar a hora com precisão. Nas galerias, obras que remontam o trajeto dos impressionistas, dos artistas que viriam o modificar todo o conceito de arte até então existente. E Federer não seria um desses artistas? |
NÃO DUVIDE
Roger Federer está acabado? Cada vez que essa dúvida surge na cabeça dos fãs, o suíço faz questão de provar o contrário. Sua chave em Roland Garros não era das mais fáceis e, ainda assim, ele mostrou incrível e ciência para chegar à semifinal, quando enfrentou o invicto Novak Djokovic, que vinha de 41 jogos sem perder em 2011. A partida entre eles foi a melhor do torneio e uma das melhores do ano e provou que o suíço é, sim, capaz ainda de apresentar um tênis tão impecável quanto em seus melhores momentos. E quando ele joga assim, ninguém é capaz de vencê-lo.
Contudo, para "azar" de Federer, ele enfrentou seu nêmesis na final e, mais uma vez (já é a quarta em finais de Roland Garros), o saibro prova que a aplicação tática e a força mental são armas mais importantes do que o apuro técnico e a improvisação. De qualquer maneira, o suíço não está morto.
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CHAMPS-ÉLYSÉES A mais famosa avenida de Paris tem um pouco de tudo. Ela começa na Place de la Concorde com seu obelisco egípcio e suas fontes e termina na praça Charles de Gaulle, onde está o Arco do Triunfo. Em pouco menos de 2 quilômetros de comprimento, encontram-se algumas das principais lojas de marca do mundo. |
ESTAMOS CRESCENDO
Alguns talvez tenham se decepcionado com as campanhas brasileiras em Paris. Até mesmo Bellucci se disse desapontado após a derrota para Gasquet. No entanto, há pontos positivos. O primeiro é que Bellucci, apesar de tudo, vem crescendo como tenista e percebe-se que falta um "clique" para que seu jogo comece a render frutos ainda maiores do que os já vistos.
Depois, nossos duplistas, mesmo tendo perdido antes do esperado, são respeitados e temidos. Por fim, tivemos cinco juvenis disputando a chave de Roland Garros. Mesmo que eles não tenham ido muito longe, isso mostra que estamos chegando. Não nos esqueçamos de uma máxima recorrente no tênis: da quantidade vem a qualidade. Vamos aguardar.
SACRÉ COEUR A basílica de Sacré Coeur fica no ponto mais alto de Paris em meio a um bairro boêmio e festi vo. Para alcançá-la, há grandes escadarias. Sua arquitetura românica e bizanti na é fascinante. De lá, tem-se uma vista privilegiada da cidade. Talvez assim esti vesse se sentindo Djokovic. Mas, deve-se lembrar que a vista do alto da torre Eiff el ainda é mais surpreendente. |
"VENCÍVEL"
Estava tudo programado. Djokovic estava invicto no ano. Nem mesmo Nadal havia conseguido vencê-lo em sua superfície predileta. Facilmente o sérvio alcançou a semifinal de Roland Garros. Faltava uma vitória para igualar o recorde de John McEnroe de 42 partidas sem perder no início de uma temporada. Mais do que isso, uma vitória para o tão sonhado número um do mundo.
O palco estava montado. Tudo pronto. Do outro lado da quadra estava um adversário que Djokovic já havia vencido três vezes neste ano. Todavia, foi nesse momento tão especial que se deu a derrota. Única. Porém a mais dolorida de todas. O sérvio certamente assumirá a ponta do ranking em 2011, pois tem jogado como nunca se viu antes, mas perdeu uma oportunidade de se consagrar.
Publicado em 17 de Junho de 2011 às 06:26