Ano novo, tenista novo
O começo de um ano pode ajudar os praticantes de tênis a traçar novas metas
Quem nunca pensou em começar o ano ingerindo menos calorias e se exercitando mais? Nosso país tropical favorece esse tipo de resolução de Ano Novo – imagine o sujeito na neve pensando em ingerir menos calorias? Difícil. Por aqui, nessa época, há muito mais pessoas andando nas praças, praias e parques. Mas maravilha mesmo seria esse tipo de resolução fosse incorporada para o ano todo.
Os profissionais do tênis também possuem suas resoluções de Ano Novo. Graças ao conhecimento científico, os treinadores e preparadores físicos planejam quatro grandes picos de desempenho para o ano, pois um jogador não consegue dar o máximo de performance física e mental 365 dias seguidos. Os grandes picos coincidem com os torneios nos quais os tenistas se sentem mais confiantes, em seu piso favorito, e que os ajudarão a subir no ranking mais rápido.
Os tenistas amadores eventualmente não jogam tantos torneios para fazer esses “quatro picos de performance”. Ou, no caso dos infanto-juvenis, eles podem estar ainda em fase de construção de uma base física sólida para aumentar o repertório motor e prevenir lesões futuras na fase do alto rendimento. Mas todos os tenistas podem e devem ter metas a alcançar: o caminho para atingi-las é o mais divertido e é o que dá razão para continuar jogando.
A meta a atingir pode ser simplesmente: “este ano quero aprender a jogar”. Você pode pensar: “Assisti ao Aberto da Austrália na televisão, gostei da coisa. Nunca peguei numa raquete e quero me iniciar no esporte”. Hoje, com o sistema Play and Stay – três velocidades de bola (vermelha, laranja e verde) e quadras de tamanhos proporcionais –, pode-se trocar bolas desde a primeira aula. Ou seja, é muito mais fácil, saudável e divertido começar a jogar atualmente.
Quem já foi contaminado com o vírus do tênis pode ter algumas metas mais, digamos, sofisticadas. “Quero aprender um approach, um lob, um slice”. Excelente. Mas vamos deixar mais claro que tipo de metas você pode escolher para seu tênis em 2015.
Metas técnicas e táticas
O ensino do jogo de tênis mudou muito. Há cerca de 40 anos, os professores procuravam aperfeiçoar os golpes dos alunos pensando principalmente em sua técnica ou “forma”. Bater bonito era a meta. Resultado? Os alunos até podiam bater bonito, mas, na hora do jogo...
Atualmente a forma continua tendo sua importância, claro, pois rebater de modo eficiente e elegante diminui a incidência de lesões músculo-tendinosas. Mas as boas aulas de hoje em dia partem da tática (em que lugar da quadra estou, para que lugar da quadra adversária quero direcionar minha bola) para que se aprenda a técnica (que movimento preciso realizar para atingir esse objetivo tático).
Sim, o movimento para rebater um forehand alto de defesa não é o mesmo movimento para executar uma curtinha. Então, pensando em que tipos de armas faltam ao seu jogo – backhand de aproximação, passadas de forehand, bolas profundas nos golpes de base dos dois lados etc –, elencar quatro competências para aprender este ano é um bom ponto de partida. Isso vale para qualquer nível de jogador.
Metas físicas
Muitos tenistas amadores, que levam o tênis a sério, têm pouco tempo para se dedicar à atividade física e acabam apenas jogando, sem preparar o corpo para tal. E a empolgação vai crescendo, a carga de jogos vai aumentando, até que... Aparece aquela dor no ombro ou no cotovelo, que não sai de jeito nenhum. Se a técnica dos golpes vai bem, a dor só pode ser causada por uso excessivo sem o fortalecimento necessário. Mas cheque primeiro a técnica.
O tenista também pode perceber que tem perdido jogos por estar com menos resistência do que seu adversário. Ou está sem a velocidade necessária para subir à rede em tempo de se posicionar adequadamente; ou para chegar às curtinhas. Ou ainda, ele melhorou bastante o backhand, mas gostaria que fosse mais potente. Finalmente, pode sentir pouca agilidade para as trocas de direção que o jogo exige, ou pouca flexibilidade para alcançar bolas longe do corpo.
O tênis moderno tem atingido níveis de excelência física impressionantes. A rapidez do jogo se deve tanto à evolução dos equipamentos como à preparação física. Avalie quatro competências físicas que estão segurando sua evolução e invista nelas. Um bom profissional de Educação Física com conhecimento de treinamento físico para o tênis poderá ajudá-lo a alcançar essas metas.
Metas emocionais e mentais
Já sabemos que a dupla falta em pontos importantes, no caso dos tenistas amadores, tem muito mais chance de ser um problema técnico (saber executar) do que psicológico. No entanto, claro que aquela dupla-falta de Novak Djokovic na final de Roland Garros em 2014 foi uma questão mental.
Fazendo uma análise do seu ano tenístico de 2015, pense naquelas derrotas mais doídas. Com o distanciamento do tempo e da emoção, procure lembrar se foi devido a aspectos físicos (“Nossa, no final do jogo eu estava sem forças”) ou táticos (“Demorei a descobrir que o backhand era seu melhor golpe”). Mas será que a derrota se deu por razões emocionais ou mentais?
Mente e emoções estão tão intimamente relacionadas que fica difícil separar em categorias, mas vamos tentar. Os aspectos cognitivos ou mentais estão ligados aos mecanismos de percepção e interpretação do ambiente, e os emocionais ao que sentimos conforme interpretamos essas percepções. Receber e rebater uma bola depende de percebermos rapidamente para onde ela irá. A maneira de rebatê-la poderá ser afetada pelas nossas emoções, pois o estado emocional afeta a performance.
Então, dentre as competências mentais, podemos relacionar antecipação do golpe adversário, tempo de reação, pensamento estratégico/hipotético e concentração/foco na bola e na estratégia de jogo. Dentre as competências emocionais, podemos escolher coragem, paciência, tolerância às frustrações, assertividade, vontade e alegria em jogar.
"Perdi vários jogos por não ter tido coragem de mudar a estratégia do jogo”. “Perdi porque aquele erro bobo me deixou tão furioso que não consegui acertar mais nada depois”. “Demorei em perceber que minha adversária era canhota”. “Não tive paciência para trocar bolas e construir a jogada até aparecer uma oportunidade clara de ataque”. “Faltou assertividade para chamar o juiz depois de tantas bolas garfadas”.
Um profissional especializado em psicologia desportiva pode ajudar bastante durante a identificação e aquisição dessas e de outras competências emocionais, mas, muitas delas, você pode identificar e começar a trabalhar com seu treinador ou parceiro de treinos. O importante é ser bem específico e sincero consigo mesmo para chegar ao ponto que realmente está impedindo sua evolução no esporte.
Faça fácil
Quaisquer que tenham sido suas conclusões sobre as competências a serem desenvolvidas em 2015, é preciso que elas sejam realistas. Se você joga apenas uma vez por semana com um professor, e é um aluno iniciante ou intermediário, escolher quatro competências técnico-táticas está de bom tamanho. Você já consegue ter instruções duas vezes por semana e joga torneios? Pode escolher duas competências técnico-táticas, uma mental-emocional e uma física. Jogadores de alto rendimento com treinos diários, preparação física e acompanhamento psicológico – mesmo que o treinador de quadra exerça também essa função – podem trabalhar quatro metas em cada uma dessas áreas.
Publicado em 30 de Dezembro de 2015 às 10:32