Psicologia

Quando a cabeça pesa

Quais os principais fatores psicológicos na formação de um atleta ser um vencedor


Ron C. Angle/TPL

ASSIM COMO NA VIDA DE MODO geral, para obtermos sucesso devemos, em primeiro lugar, amar aquilo que fazemos, em segundo, nos dedicarmos, e, em terceiro, ter vontade de crescer, de nos tornar cada vez melhores. Mas e o talento, onde ele entra nessa equação?

Ele é importante, é claro. Mas, sem paixão, transpiração e competitividade, o sucesso não aparece. Bernardo Rezende, o Bernardinho, técnico da seleção brasileira de vôlei, é categórico - em seu livro "Transformando suor em ouro" - ao afirmar que o atleta de sucesso é aquele que ama o que faz, que se dedica (transpira) e que tem a capacidade constante de superação (quer sempre melhorar, atingir novas metas). Na vida de um atleta isso significa que, se ele ganha um jogo, não supervaloriza essa vitória, mas pensa no jogo seguinte. E da mesma forma se comporta em relação a um campeonato, seja um Grand Prix ou uma Olimpíada, por exemplo.

Formar a base
Mas, como se faz para chegar nesse nível mental? Como se dá esse processo no tênis? Primeiramente, por meio do conhecimento do esporte e do estímulo que é dado à criança, ela desenvolverá o gosto por aprender a jogar e a melhorar cada vez mais. Os pais e o técnico terão papel fundamental, pois deverão motivar a criança na prática do dia-a-dia. Na realidade, a base do início da construção de um tenista que se tornará profissional é a relação tenista - técnico - família. Será necessário que se estabeleça uma parceria, em que haja cooperação, confiança e objetivos em comum. Tudo terá que ser bem planejado para se alcançar as metas desejadas.

O tenista que tiver essa base terá uma grande vantagem em relação aos demais. E aí, tudo se tornará mais fácil. Melhorar um golpe para alcançar um resultado eficiente, desenvolver táticas de jogo para melhor enfrentar determinados adversários e se fortalecer mentalmente para lidar com situações de jogo adversas serão desafios a serem atingidos. O trabalho será estimulante por mais desgastante que possa ser. No entanto, tudo isso só será possível se o tenista realmente tiver um perfil para competição. E que perfil será esse?

A personalidade do "vencedor"
Existem vários estudos acerca da personalidade de um vencedor. Testes são aplicados com o objetivo de fazer um diagnóstico do perfil do atleta e, com isso, poder trabalhar as dificuldades e reforçar os comportamentos adequados ao sucesso. O vencedor, como a própria palavra diz, é aquele que "vence a dor". No esporte, é aquele que é capaz de superar as dificuldades, como, por exemplo, um treino extenuante, uma bronca, uma desvantagem no jogo, uma derrota inesperada ou uma lesão que o impeça de jogar por algum tempo. Isso se chama resiliência.

O campeão deve ter uma autoestima suficientemente boa para lidar com as próprias falhas. Deve ser capaz de reconhecê-las com humildade para que possa persistir com seus objetivos na rotina de treinamento e nos torneios futuros.

O pensamento positivo é outro ponto que deve ser salientado no perfil do vencedor. Ninguém chega a lugar algum se não acreditar que pode chegar lá. O campeão sabe que pode chegar aonde pensou em chegar. É óbvio que o caminho a ser percorrido é grande. É um processo que não se faz de um dia para o outro. Ele é construído com o tempo. Portanto, nada de pressão em excesso. O tempo de amadurecimento e a experiência da vida é que darão conteúdo de fato ao campeão.

Opostos
Tomemos como exemplo de campeões Andre Agassi e Roger Federer. Eles se colocaram diante das diferentes dificuldades encontradas de maneira brilhante. E justamente por isso fizeram história no tênis. Cada um deles tem um contexto de vida. Agassi nasceu nos Estados Unidos e é filho de um ex-soldado iraniano de família pobre. Federer nasceu numa família de classe média na Suíça. Portanto, são pessoas nascidas em países diferentes, com culturas distintas e que tinham possibilidades de desenvolvimento diversas no esporte.

Agassi tinha o pai severo que, no início, ministrava o seu treinamento. Depois, com muito esforço, o garoto foi treinar na academia do Nick Bollettieri. Federer se desenvolveu dentro de uma estrutura muito mais tranquila, tanto na parte familiar quanto no suporte para poder desenvolver seu tênis. Agassi dizia que não gostava de jogar, mas era obrigado pelo pai. Ele teve que superar inúmeras dificuldades para chegar aonde chegou. Tornou-se um obstinado por vencer. Federer, apesar da base familiar mais "amigável", por sua vez, teve que aprender a controlar seu temperamento perfeccionista, pois não aceitava errar, para chegar aonde chegou.

O fato é que ambos tinham objetivos em comum. Ambos tinham a força de vencer, a capacidade de sobrepujar o "quase impossível". Agassi conseguiu transformar sua raiva e rebeldia em coragem para lutar e vencer. Federer com todo seu talento percebeu que também podia errar e ser consagrado como o melhor jogador de todos os tempos. Incontestavelmente, esses campeões são pessoas especiais.

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Ron C. Angle/TPL

Quando tudo se equipara, a cabeça faz a diferença
A psicologia do esporte no Brasil, embora ainda recente, tem trazido bons resultados, auxiliando e intervindo na tríade (tenista, técnico e família). Seu papel fundamental é o de facilitar o relacionamento dessa equipe (que pode agregar também o fisioterapeuta e o nutricionista, por exemplo), avaliar o desempenho do atleta tanto nos treinos quanto nos campeonatos e utilizar técnicas e mecanismos de controle e reforço do comportamento para obtenção de melhores resultados.

Quando se atinge os níveis mais altos, a diferença ocorre na parte psicológica


Nos países onde o tênis tem uma estrutura de apoio, a psicologia esportiva é bastante utilizada. Os melhores jogadores do mundo sabem que a diferença no tênis, quando se atinge o topo, não está mais na parte técnica-tática, nem física, mas fundamentalmente, na parte psicológica.

A performance do atleta está diretamente relacionada à maneira como psicologicamente ele está se colocando em determinados momentos da partida. Cada um lida com as inúmeras variáveis que poderão interferir em seus jogos da forma como estão preparados para resolver esses problemas.

O tempo na vida de um tenista, como de qualquer pessoa, não é linear e nunca será. O aprendizado de um campeão é o somatório dos tempos vividos. É o tempo feliz de todas as suas conquistas e, principalmente, o tempo dolorido das suas decepções, dificuldades e derrotas. O que ele fará com tudo isso dependerá dele mesmo, de seus valores, crenças e de tudo que foi adquirido.

Da redação

Publicado em 21 de Outubro de 2011 às 10:02


Instrução - Mental

Artigo publicado nesta revista