Portar-se bem em quadra, passar uma imagem positiva que demonstre confiança tanto para o adversário quanto para si mesmo. O quão importante é isso? Como incentivar uma postura vencedora desde a infância?
NESTE ÚLTIMO CARNAVAL, muitos paulistanos puderam assistir e torcer pelo tenista número um do Brasil, Thomaz Bellucci, durante o Brasil Open. Na partida de quartas-de-final, contra o argentino Leonardo Mayer, a grande torcida presente "empurrou" o brasileiro para a vitória. Mas o que essa torcida quer "ver" em Bellucci para poder, finalmente, amá-lo?
Talento é o que não falta. Disposição e vontade para trabalhar também não. O que não gostamos de "ver" em Bellucci é a imagem que, às vezes, projeta: cabeça baixa, raquete baixa, olhar perdido. Em contrapartida, o que gostamos de "ver" em Rafael Nadal, apenas para citar um exemplo: seu andar firme, raquete alta, olhar concentrado e matador.
Colocamos "ver" entre aspas, pois, ao presenciarmos uma experiência ou acontecimento, o órgão dos sentidos que predomina em nossa percepção é a visão. Mas, decodificamos essa mensagem visual em outros elementos, chegando a conclusões sobre como a pessoa sente ou pensa através da imagem. Ao vermos Bellucci com a cabeça baixa, balançando a raquete, decodificamos: "Xi... Ele já perdeu", ou "Ele não tem cabeça".
Como a ciência da programação neurolinguística nos ensina, pensamento, emoções e linguagem corporal estão intimamente relacionados e, para provar o que estamos falando, peço que o leitor fique sentado com os olhos fechados em uma cadeira confortável e comece a pensar em uma cena particularmente feliz da sua vida. Como se sente?
Em contrapartida, pense um pouquinho em algo que acha que está funcionando bem errado no seu dia-a-dia, ou em uma desgraça recente, pessoal ou coletiva. Entre fundo na experiência, ouvindo os sons, sentido os odores, colorindo bem a imagem. Muda bem a sensação interna e a sua postura na cadeira, ou não?
A boa notícia é que os pensamentos mudam nossa postura e a imagem que projetamos para o mundo e vice- versa. Ao mantermos nossa postura altiva, a cabeça erguida, o andar firme, a respiração funda e tranquila, nossos pensamentos tenderão a se conectar com as soluções, com processos mais positivos, com a esperança e a coragem.
Essa "imagem positiva" pode e deve ser incentivada desde a infância, juntamente com um ambiente interno (leia-se emoções e pensamentos) construtivo. Ao incentivar que as crianças resolvam os problemas táticos que cada jogo de tênis - ou exercício dado em quadra - apresenta, já daremos um grande passo nessa direção.
Os professores e pais também devem ensinar à criança que jogar a raquete no chão, falar mal, repreender-se, além serem condutas antidesportivas, também mostram ao adversário sua fraqueza e falta de controle e, assim, o oponente só cresce em confiança.
Claro que há momentos no jogo em que o tenista extravasa suas emoções, tanto de frustração e raiva como de vibração. Mas ele deve treinar como administrar suas emoções tão bem como treina o saque e a direita.
Também recomendo que a criança entenda que ela é sua maior torcedora e incentivadora em quadra. Ela deve se incentivar a cada ponto, se aplaudir nas boas jogadas ("Vamos!"), deixar passar rapidamente as más jogadas (virando as costas), enfim, desenvolver sua própria força mental e emocional. Em seu ambiente interno só pode haver espaço para pensamentos construtivos a seu próprio respeito - e para o pensamento tático adequado para cada situação. Esse é o universo do jogo.
Além do mais, a criança deve aprender a se virar sozinha. Quantos jogos poderão ser acompanhados pelos pais ou pelo próprio professor? Nadal com seu fiel tio Tony é uma exceção absoluta no circuito. O cara é tio, treinador, amigo, está com ele desde pequeno.
Mais uma palavra sobre cabeça baixa. Também decodificado pela programação neurolinguística, o movimento dos olhos nos revela qual sistema sensorial está sendo usado pela pessoa. O olhar para baixo e para a direita indica que a pessoa está acessando suas sensações corporais (sistema cinestésico). O olhar para baixo e para a esquerda indica que está acessando seu diálogo interno, ou seja, a conversa consigo mesma (para pessoas canhotas o lado do olhar pode mudar).
Enfim, voltar o olhar para baixo não necessariamente mostra que a pessoa está desanimada, mas pode indicar que ela está acessando sensações físicas de dor ou cansaço, ou conversando consigo mesma. É por isso que os preparadores mentais orientam os tenistas a manter o foco e o diálogo interno positivo olhando para as cordas da raquete ou para as linhas da quadra.
Então, o que aprendemos ao ver tenistas cabisbaixos em quadra? Estamos nós também em nossa vida diária dentro e fora das quadras mantendo um diálogo interno construtivo? Podemos melhorar nossa postura enquanto percorremos as ruas da nossa existência? E, finalmente: se pudermos aprender isso, porque não Bellucci?
UM exercício simples pode ajudá-lo a ter uma melhor postura:
Durante o treino ou jogo recreativo, coloque 20 pedacinhos de papel em um dos bolsos do seu shorts. Cada vez que fizer um comentário negativo sobre si mesmo, coloque um papelzinho no outro bolso. A meta é terminar o treino com os 20 papéis no bolso inicial.
Publicado em 30 de Março de 2012 às 08:21