Chega de malandragem

Como você quer ficar conhecido no circuito? Que tipo de relacionamento pretende plantar no meio tenístico? O tênis sempre foi um esporte de cavalheiros, então, porte-se como um


Ron C. Angle/TPL

Para você que já é um competidor, ou mesmo para os que ainda estão iniciando uma carreira, algumas reflexões são muito importantes e podem determinar mudanças ou reforçar conceitos sobre o tênis. Embora ele seja um esporte com muitos adeptos, o grupo a que você pertence é pequeno, restrito e, certamente, o acompanhará por muito tempo. Diante disso, surge a questão: "Como você quer ficar conhecido no circuito (ou clube, academia etc) e que tipos de relacionamentos pretende plantar?". O tênis é um esporte de cavalheiros e, por isso mesmo, suas regras são extremamente passíveis de transgressão. Assim, podem ser facilmente utilizadas como uma forma desonesta de se vencer pontos e até partidas. Imagine que você esteja jogando contra um espertalhão que responde atacando todos os seus saques. Quando você erra um primeiro serviço e ele acerta uma boa devolução, faz de conta que não viu que a bola foi fora e pede o ponto a seu favor. E, infelizmente, assim o terá.

Evite más influências
Esta seria apenas uma das "malandragens" que faz alguns jogadores vencerem pontos que não merecem. Esse tipo de adversário é mais conhecido como "garfador" e é muito mal visto por jogadores, árbitros, técnicos etc. É bem verdade que, por trás dos "espertinhos", tem sempre a influência de uma "escola" ou um técnico, que provavelmente também não são bem vistos no meio. Esses figurões certamente não têm boa reputação e normalmente não duram muito tempo no circuito.

Algumas vezes, os responsáveis por tais atos são os pais que, ao descobrirem tais fragilidades no sistema, acham que essas são as melhores maneiras de se defender contra transgressores, tornando-se um deles. Mas, um aviso: ficar conhecido como "malandro" tornará sua vida muito mais difícil no futuro.

Exemplo e lição
Durante uma partida da Federação Paulista, vimos uma atleta que vencia por 6/2 e 1/0, quando a adversária espertinha cantou "5/4" após a virada. Claro que não houve acordo e o árbitro foi chamado. Você sabe como funciona a regra em caso de dúvidas na contagem?

O árbitro tentará conseguir um consenso e fazer com que os jogadores relembrem os pontos jogados, ordem dos games vencidos etc. E, não conseguindo o entendimento entre as partes, fará voltar o jogo até o momento em que os dois concordem na contagem mais avançada. Isso mesmo! Injusto! Mas não há outro jeito.

No caso citado, a espertinha sabia que o primeiro set esteve 2/1 a seu favor. A atleta que estava ganhando, obviamente, concordou, mas sabia que não havia perdido mais nenhum game na primeira parcial. Resultado: o árbitro, sem ter o que fazer, seguiu a regra e orientou que elas reiniciassem a partida a partir do ponto em que elas concordavam. O jogo voltou a partir do primeiro set e o autocontrole da atleta prejudicada já havia ido para o espaço. Foi uma dura lição. Para aqueles que pensaram: "Nossa, que boa idéia!", esqueça! Tal conduta não vale a pena. Qual o caminho a seguir? Qual a melhor linha de raciocínio? É exatamente esse ponto que discutiremos aqui.

Adversário sim, inimigo nunca!
Se você ouve de pessoas importantes na sua vida frases como: "Se ele roubar, roube também!"; "Na hora importante, bola na linha é fora!"; ou outras coisas do gênero, desculpe, mas seu conselheiro nunca viveu o tênis de alto nível e não está preparado para ajudá-lo a chegar lá. Alguma vez você ouviu seu pai dizer: "Roubaram o meu carro e vou sair para roubar outro"?

Então, no que diz respeito ao caráter, é a mesma coisa. Roubar um centavo ou um milhão é o mesmo gesto. Por isso, não importa quando ou contra quem, bola na linha é boa. Ponto do oponente. Siga em frente e lembre-se, bola boa é sempre boa.

Fotos: Ron C. Angle/TPL
A "tática da toalhinha" já está manjada!

Respeite para ser respeitado
Saiba que algumas atitudes o transformam, involuntariamente, em um "malandro", e isso certamente não vale a pena. Algumas "manhas" já viraram senso comum entre os jogadores, principalmente no tênis competitivo. Utilizá-las não quer dizer que você é mais esperto e experiente que o adversário, mas, sim, que está usando de artifícios nada legais e que mostram até certa falta de confiança em seu próprio jogo.

Abaixo, apontamos algumas atitudes comuns em jogos competitivos. Se você está acostumado a fazer esse tipo de coisa, aconselhamos a deixar estas artimanhas de lado. Agora, se você costuma sofrer com adversários que tomam essas atitudes, preste atenção aos antídotos para não ser prejudicado.

Casos:
Toalhinha
Com exceção das competições por equipes, se você se inscreveu em um torneio, deve saber que, durante a partida, você fica incomunicável. Ou seja, ninguém deve falar, ajudar ou dar dicas durante os jogos; nada além de aplaudi-lo e incentivá- lo.

Atitudes como levar sua toalhinha e colocar na grade em frente ao seu treinador, professor, acompanhante, ou amigo, é algo "manjado", só você não sabia. Na verdade, na maioria das vezes, embora ofendidos com o desrespeito, o técnico, pai ou acompanhante do adversário tentarão ignorar sua má atitude, pois se seu "conselheiro" tem essa cara de pau, as instruções provavelmente não farão tanta diferença a seu favor.

Antídoto
Esteja atento ao entrar em quadra! Caso algum "tagarela" fora dela não consiga ficar de bico fechado, você, jogador, deve chamar o árbitro e pedir para que ele tome uma providência. Os pais, por mais que fiquem irritados (com razão) com o desrespeito, não devem tomar atitudes ou se dirigir ao intruso durante a partida. Chamem um árbitro e peçam ajuda.

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Fotos: Ron C. Angle/TPL
Em caso de dúvidas sobre placar, o árbitro é obrigado a achar um consenso

Atendimento médico
"O jogo está difícil? Você está muito cansado? Chame o fisioterapeuta e dê uma boa enrolada!". Amigo, essa é outra daquelas malandragens que só enganam a mamãe que está sentada do lado de fora da quadra. Esta é uma das atitudes mais antidesportivas que existe. É sinal de fraqueza, busca por uma desculpa para uma provável derrota ou uma tentativa de desvalorizar e tirar o mérito do adversário. O "malandro" finge dores, cãibras e contusões. Durante o atendimento, se contorce no banco, faz algumas caretas e - no caso dos mais dramáticos - até grita. Após tudo isso, sai do banco e corre como um leopardo para ganhar o próximo ponto.

Depois? Volta a fazer careta e coloca a mão no membro "dolorido".

Desculpe, não se exponha! Ninguém está acreditando em você, nem o seu próprio técnico, que terá que fingir que acredita por que não existe um exame (ainda) que possa comprovar que você não está sentindo as dores acusadas. Em caso de dores verdadeiras, pare o jogo! Não corra riscos de comprometer semanas ou meses de sua carreira agravando torções, estiramentos, distensões etc. Cãibras excessivas também podem trazer complicações sérias posteriormente. Nesses casos, insistimos, pare o jogo!

Fotos: Ron C. Angle/TPL
O foot-falt é muito comum entre os tenistas amadores. Porém, alguns espertinhos usam e abusam desta "arma" para se beneficiar

Antídoto
A primeira posição a ser tomada - quando seu adversário demonstra dores, manca, chora, mas continua em quadra - é respeitar a decisão dele e tentar manter-se concentrado e jogar o seu melhor. Pense que, se ele julga que pode vencê-lo manco, você deve provar o contrário. Mesmo que seja malandragem, ele está demonstrando fraqueza. Então, tente não se irritar com a atitude e dê 110% nos pontos importantes. Acima de tudo, mantenha a concentração!

Foot-fault
Um dos golpes mais decisivos do tênis é o saque - que é baseado em um ângulo de tangência para ser realizado com perfeição. Daí, a relevância do foot-fault (ou invasão da quadra) antes do serviço. Alguns jogadores cometem erros no lançamento da bola e acabam por fazer um foot-fault, até por falta de fiscalização da arbitragem. Porém, como sempre, há aqueles que cometem esses "erros" sempre nas horas importantes e tiram proveito dessa irregularidade. Uma das mais desonestas de todas, já que o recebedor só saberá que isso está acontecendo se alguém de fora o informar, pois é impossível enxergar um "foot-fault" do outro lado da quadra.

Por isso, se você - sem pensar em quanto está errado ao usar esta artimanha - a utiliza como uma tática, saiba que está sendo muito desonesto e exercitando uma fraqueza. Isso significa que você não confia em seu saque realizado de maneira honesta e regular. Se você ouviu este conselho ou instrução de outra pessoa, abandone-a, pois ela - além de ter um caráter questionável - não acredita em seu verdadeiro potencial e não confia em você.

Práticas terríveis
A seguir, destacamos uma pequena lista com algumas "manhas" já manjadas no mundo do tênis. Mais uma vez, fica a orientação para não usá-las nem em último caso.
- Cantar a contagem errada;
- Cantar "let" ao tomar um ace;
- Apontar marcas erradas no saibro;
- Enrolar na toalha, durante o saque do adversário;
- Devolver o primeiro saque do adversário no meio da rede para mandar o pegador retirar;
- Não declarar (ou aceitar) que a bola deu dois quiques no seu lado da quadra: o "not-up";
- Dizer que não tocou na rede, quando realmente tocou - especialmente nas partidas de duplas;
- Interromper a concentração do adversário entre o primeiro e segundo saque;
- Pedir para ver uma marca só para incomodar o oponente;
- Vibrar ostensivamente contra seu adversário;
- Pedir um let injusto;
- Derrubar objetos pessoais de porte obrigatório propositalmente, buscando o "let";
- Insultos, xingamentos ou ofensas. Estas são apenas algumas das maneiras de tirar proveito negativo de um esporte em que o próprio protagonista é também o jurado de suas atitudes durante o jogo. São atitudes que exprimem falta de senso desportivo, irregularidades e, o mais grave de todos, deslealdade.

Quem é que treina para ser malandro?
Ao mesmo tempo que algumas dessas artimanhas vão contra as regras e podem ser proibidas pelos árbitros, alguns outros aspectos dentro da lei costumam causar, erroneamente, irritações e reclamações dos tenistas. Porém, ao analisar o regulamento das competições, você verá que essas reclamações não têm fundamentos. Abaixo, apontamos alguns exemplos de atitudes que são amparadas pelas regras:

Banheiro
A regra é clara. Jogadores homens podem ir ao banheiro uma vez por partida, nas que são disputadas em melhor de três sets; ou duas vezes, nas de cinco sets (Grand Slam, Copa Davis etc). Já as mulheres, que sempre jogam em três sets, têm o direito de ir ao banheiro duas vezes.

Então, não se irrite com o pedido de seu adversário para ir ao banheiro. Este é um tempo previsto na regra. Porém, este pedido deve ser realizado no intervalo entre um set e outro, e não durante os sets. É claro que, em casos extremos, o árbitro poderá liberar a saída do jogador em meio aos sets, mas, se possível, não antes dos games de saque adversário.

Antídoto

Se você acha que seu adversário está saindo da quadra para ir ao banheiro só para dar uma esfriada no jogo, não se irrite e saia junto. Continue o "jogo" dentro e fora da quadra.

*Lembrete importante: Você não pode sair da quadra para ir ao banheiro ou vestiário para se refrescar, molhar a cabeça ou apenas descansar. Se isso for comprovado, você pode até ser desclassificado.

Fotos: Ron C. Angle/TPL
Se realmente estiver com problemas, pare o jogo e siga para outro torneio. Forçar a continuação na partida pode prejudicar o planejamento de toda uma temporada!

A regra do atendimento
O atendimento médico pode ser solicitado nas viradas de lado (games ímpares) e entre os sets. Para cada problema diagnosticado, o jogador pode ser atendido por três minutos na primeira chamada, e mais dois minutos em mais duas outras viradas.

Lembre-se: cãibras nos braços, pernas e quaisquer outros membros são o mesmo problema e só dão direito a um atendimento. Os fisioterapeutas podem avalizar o árbitro de que o jogador não está com problemas físicos e este pode sofrer os códigos de conduta.

*Importante: medicamentos não poderão ser entregues ou ministrados aos atletas por terceiros (pais, técnicos, torcedores etc). Solicite a ajuda do árbitro ou médico do torneio.

Problemas de força maior
Em problemas como falta de iluminação, chuva etc, os jogos serão interrompidos em meio a games pares (sempre que possível). Por isso, não adianta reclamar. Exceto em caso de um game muito longo e a luminosidade fique impossível, ou de uma forte chuva repentina, os árbitros só paralisarão as partidas nos games pares.

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Fotos: Ron C. Angle/TPL
Pessoas de fora da quadra podem entregar objetos ou comida aos jogadores
Lembre-se: você é responsável por sua torcida!
Fotos: Ron C. Angle/TPL
Não vale a pena ficar com má fama

Pode receber roupas, raquetes, comida
Algumas vezes, atletas, pais ou acompanhantes se irritam ao presenciarem cenas em que os adversários de seus acompanhados recebem roupas, tênis, raquetes e outras coisas de pessoas de fora da quadra. Essa bronca não tem razão de ser. Eles podem, sim, receber tais objetos, assim como comida, bebida etc.

Nem pense que, se seu adversário quebrou a corda de sua última raquete, ele terá que entregar o jogo. Ele pode e deve tentar conseguir outra, assim como um tênis estragado, roupa que rasga etc. Ele terá um tempo limitado (bom senso) para conseguir isso antes de ser penalizado pelo código de conduta por retardar a partida.

Material de consulta
Outra curiosidade que gera discussões é quando um jogador tira de sua raqueteira um texto, uma folha com lembretes ou algo do gênero. Ainda que sejam instruções específicas para a partida ou até um livro, desde que já estivesse de posse dele antes de entrar na quadra, ele poderá consultar, ler ou visualizar o conteúdo.

O que não pode é utilizar um celular ou outro objeto eletrônico que possa servir de comunicação momentânea para receber instruções ou ajuda em momentos específicos. Aí, os famosos "iPods", ou qualquer outro aparelho, ficam proibidos também durante as partidas, mesmo para ouvir música.

Torcida prejudicial
Lembre-se que você, tenista, é o responsável por todas as pessoas que ingressam em um clube ou academia para assistir seus jogos. Por isso, nada de levar bagunceiros para irritar o adversário ou torcedores muito acostumados com outros esportes - como futebol, por exemplo -, em que manifestações espontâneas e barulhentas são normais. Todos os atos de seus acompanhantes, sejam pais, técnicos ou torcedores, serão cobrados de você com o uso dos códigos de conduta.

Interpretação
No mais, lembre-se de que a situação de um árbitro - que não presenciou uma jogada, mas precisa decidir sob a interpretação do relato dos jogadores - é bem difícil. E se você está perdendo todos os pontos em que o árbitro foi chamado, talvez precise reavaliar sua comunicação e capacidade de relatar um acontecimento. Existem muito mais casos mal explicados do que árbitros parciais e desonestos.

Saber as regras é muito importante, principalmente para você mesmo não errar e para poder argumentar com os adversários e árbitros. Seja inteligente e expressese bem. Mas, lembre-se, a última palavra será do árbitro!

Carlos Omaki

Publicado em 24 de Junho de 2009 às 08:38


Comportamento

Artigo publicado nesta revista