Instrução Infanto-Juvenil
Dicas para montar uma agenda de competições adequada para os seus objetivos
CALENDÁRIO, ESTE É O ASSUNTO principal de todas as viradas de ano. Avaliar os êxitos, a evolução e planejar os próximos passos para formular um calendário é essencial em cada etapa do processo de evolução de um tenista.
Mas a vida não é feita apenas de êxitos e conquistas e saber avaliar metas não atingidas e contratempos é uma tarefa muito importante dentro do processo evolutivo. É claro que todos nós preferimos fazer calendários baseados em progressões e muitos acreditam ser este o objetivo do planejamento. Porém, a experiência diz que todas as ações e planejamentos, quando baseados em resultados e metas, possuem dois caminhos igualmente importantes: a progressão e a regressão.
Retroceder, por vezes, é a maneira mais rápida e garantida de se chegar a um objetivo. Outras vezes, avaliações ou balanços estratégicos podem identificar vantagens em caminhos diferentes mesmo para jogadores que supostamente tenham o mesmo nível. Vamos então utilizar alguns exemplos para servir de base de reflexão e estimular o diálogo entre jogadores, treinadores e pais.
Os gráficos abaixo descrevem os calendários de dois grandes jogadores da atualidade, Novak Djokovic e Andy Murray durante a adolescência e demonstram o objetivo na evolução do tipo de competição.
Repare que, aos 13 anos, Djokovic já disputou um torneio com pontos para o ranking ITF de 18 anos e, aos 14, nenhum, que demonstra, por alguma razão, um pequeno retrocesso.
Murray, aos 13 e 14 anos, disputou apenas um torneio por ano de 18 anos. Aos 15 anos, seis e, aos 16 anos, 16 torneios do tipo ITF (18 anos).
É muito importante lembrar que esses “jovens” atletas, como a maioria dos tenistas infantojuvenis, disputam cerca de 25 torneios por ano – algo entre 20 e 30 – para manter um bom ritmo competitivo e poder mesclar vários tipos de competição. Aqui estão apontadas as prioridades complementadas com torneios estaduais e nacionais.
Mesmo jogadores como Rafael Nadal, número 1 do mundo, podem optar por um período de “regressão” para autoavaliação e reaquisição de confiança, como ocorreu no início deste ano. Os torneios que ele disputou na América do Sul serviram para uma avaliação da capacidade física e para readquirir ritmo competitivo para as grandes competições.
Agora, com realidades mais palpáveis, vamos exemplificar algumas opções diferentes na escolha das competições de jovens brasileiros.
Vamos usar como primeiro exemplo a ascensão do jovem Lucas Kogachi, que de campeão estadual se tornou campeão sul-americano. O atleta terminou sua última temporada na categoria 12 anos como melhor jogador do estado.
Quais são as metas e objetivos a curto e médio prazo? Colocá-lo entre os melhores jogadores de seu país no primeiro e segundo anos da categoria 13 e 14 anos (no caso entre os três melhores do Brasil) e classificá-lo para o campeonato Sul-americano.
Sem contratempos, tudo correu como planejado e o jovem Lucas sagrou-se campeão sul-americano de 14 anos por equipes pelo Brasil.
Neste exemplo, o jovem Alberto Mello, que sofreu um grave acidente, saiu de atleta rebaixado de categoria a número 1 do estado. O jovem terminou a categoria 12 MB como um dos principais tenistas de sua idade (nesta categoria). Após sofrer um acidente e ficar oito meses parado, o atleta, que havia obtido média para subir de categoria (14 MA), teve seu caso analisado a pedido técnico e foi “rebaixado” para a categoria 14 MB com a finalidade de readquirir ritmo para atuar na 14 MA. O balanço final mostra que a decisão foi acertada empregando um “retrocesso” forçado para trazer de volta um atleta para a elite de sua idade.
No caso, o atleta abriu mão de jogar na categoria 14 MA, terminou o primeiro ano (13) entre os melhores de sua categoria (2º da 14 B) e no ano seguinte (2013) chegou a número 1 do estado da 14 MA.
Analisaremos o caso de Jonathas Sucupira, que saiu de um retrocesso no nível de competições aos 15 anos para ser campeão brasileiro de 18 anos. O atleta já disputava torneios nacionais aos 14 anos e, por ter resultados abaixo do ideal e por precisar, sofreu mudanças severas em sua técnica. Teve uma regressão no tipo de competições, aumentou seu número de jogos, obteve bons resultados e atingiu o nível dos melhores jogadores de sua idade no país.
Após uma mudança radical em sua técnica, o atleta teve um desvio estratégico de calendário passando a disputar torneios estaduais de classe, aumentou seu número de jogos e vitórias, melhorou sua autoconfiança e tornou-se campeão brasileiro de 18 anos e campeão sul-americano.
Vejamos o caso das atletas Marina Danzini e Flávia Araújo, que passaram dos torneios estaduais às finais profissionais. Duas atletas treinadas pela mesma equipe, com nível técnico e físico aproximado, porém com experiências muito diferentes. Uma das atletas já competia e apresentava bons resultados desde os 11 anos e, a outra, um ano mais velha, iniciou sua participação em competições aos 14 anos. Aos 16 anos, uma necessitava de desafios e desenvoltura internacional e a outra, de autoconfiança e motivação com bons resultados.
O gráfico da página seguinte comprova que o calendário é extremamente individual. Com trajetórias diferentes as duas jogadoras atingiram, aos 19 anos, um bom nível de atuação e experiência para se lançarem ao profissionalismo.
Flávia Araújo e Marina Danzini: nível técnico similar, porém trajetórias diferentes
Os gráficos apresentados demonstram trajetórias com “progressões e regressões calculadas” e “regressões forçadas ou induzidas”, buscando exemplificar que os atletas, principalmente os mais jovens, necessitam de vitórias como estímulo, mescladas com novos e progressivos desafios.
Embora o calendário seja algo muito individual, aponta-se um trajeto mais parecido entre parte dos grandes jogadores. Em tese, o atleta que obtiver nível para chegar antes aos “melhores” torneios, desenvolverá uma base mais sólida de experiências e um ritmo elevado.
Sendo assim, no último gráfico, apontaremos uma “matriz” com uma sugestão no número e no tipo de torneios que os jogadores infantojuvenis poderiam utilizar como referência e variar para cima ou para baixo em função das avaliações feitas por sua equipe técnica.
Pense com carinho e realismo, mas sem deixar o otimismo de lado, calculando a evolução do primeiro para o segundo semestre de cada ano. Leve sempre em consideração a velocidade no desenvolvimento natural do atleta, respeitando as suas características físicas pessoais, já que o “estirão” ocorre em momentos diferentes e implica não só em coordenação, força e velocidade, mas também no raciocínio e discernimento.
O planejamento facilita a avaliação. Gaste um tempinho formulando o calendário, exclua suas datas comemorativas, procure organizar bem as sequências de torneios intercalando duas ou três semanas de competição com uma ou duas de descanso/lazer. Agora, inclua esse calendário em sua agenda anual como um roteiro primário e procure segui-lo o mais fielmente possível.
Publicado em 26 de Dezembro de 2013 às 00:00
Quem vai brilhar em 2014?