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Guillermo Vilas responde: por que ótimos juvenis não vingam no profissional?

Segundo melhor do mundo em 1975, argentino dá lição sobre dedicação ao esporte


Muitas pessoas perguntam por que juvenis com grande potencial não alcançam lugares de destaque na carreira profissional. Dentro das inúmeras razões, para mim, há algo que é o principal empecilho no caminho e revelo aqui uma história para explicar.

Uma vez, jantando com o lendário Guillermo Vilas, ele confessou a tristeza que sentia ao ver a falta de interesse e envolvimento dos juvenis que estão em um trabalho de alto rendimento e supostamente dedicam seu tempo e apostam suas fichas no tênis como futura profissão. Com ar de desânimo, ele disse: “A grande diferença é que nós éramos tenistas e eles estão tenistas”. Pedi para ele elaborar um pouco mais seu raciocínio, e então completou: “Ser tenista é viver o tênis intensamente, pautar seu dia a dia e envolver o tênis em todos os aspectos da vida, treinar, comer, conversar e observar tênis. Estar tenista é ser algumas poucas horas por dia. Como então podem afirmar que tênis é a coisa mais importante das suas vidas?”.

Ouvindo suas palavras transportei para a minha vida de treinador e relembrei como meus jogadores e eu nos comportávamos. Lembrei dos anos e anos de circuito, em que o tênis era e ainda é o foco dos nossos dias: treinar duro, assistir aos “bons” treinando, chegar ao clube do torneio e só sair depois de ter visto todos os jogos, conversar e procurar extrair o máximo de coaches com mais experiência, procurar estar a par de tudo o que estava acontecendo nos quatro cantos do mundo, compartilhar e aproveitar. Aquele era o nosso mundo e quanto mais tempo nele, melhor.

Hoje os jogadores querem dominar o jogo, mas esquecem que o domínio vem pelo conhecimento, e este vem pelo estudo. Estudar para conhecer, conhecer para dominar. Para mim, há duas grandes fontes do saber: observar e perguntar, que infelizmente são cada vez menos procuradas. A maioria dos tenistas se comporta como se já soubesse todas as respostas.

Voltando a Vilas, ele me contou que pedia, por carta, conselhos a Rod Laver (canhoto como ele) e que seu treinador, Ion Tiriac, tinha um caderno onde constavam as características principais de todos os seus possíveis rivais – e ele estudava isso minuciosamente.

Sei que os tempos mudaram, mas que grande contraste. Quem sabe nossos treinadores tenham a força de inspirar esses meninos a viver, sentir e se deixar envolver verdadeiramente pelas maravilhas do nosso esporte. Sei também que não é a única solução para melhores resultados, mas sei que é um bom caminho.

Walter Preidikman

Publicado em 21 de Dezembro de 2016 às 14:03


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