Joelho
O relato de um tenista amador em sua tentativa de retorno às quadras depois de uma cirurgia no joelho
"A escolha parece clara: ir para a cirurgia mesmo com o fantasma do que aconteceu com meu pai, ou desistir do meu esporte favorito."
Meus olhos abrem, amanheceu. Lembro do que aconteceu ontem. Debaixo das cobertas, tento mexer o joelho. Ai. Ele dói ainda mais hoje. Meu primeiro passo fora da cama confirma isso: estou oficialmente machucado.
No dia anterior, estava bem, mas tive que sair correndo do tênis para uma reunião e não tive tempo de alongar. Cheguei no escritório, sai do carro e o joelho estava tenso, com se tivesse enferrujado nessa curta viagem. E ele doía. Coloquei gelo durante o dia e fui para a cama esperando que uma boa noite de sono pudesse ajudar. Não ajudou. Então agora, pela primeira vez na vida, preciso parar com o tênis completamente.
Depois de um mês, uma caminhada leve ainda dói. Experimento uma fisioterapia de cinco vezes por semana durante três meses, além de todos os suplementos e badulaques imagináveis, desde barbatana de tubarão. Nada ajuda. Então vou para o médico e faço uma ressonância magnética. Ele me diz que o menisco está rompido e provavelmente deve ser operado. Ele esquadrinhou essa conclusão rápida e casualmente, o que me deixou irritado. Disse que ia pensar no assunto.
Farei qualquer coisa para evitar a operação. Dez meses antes, perdi meu pai depois de uma trágica série de eventos que aconteceu no hospital. Quando ele foi reparar uma válvula cardíaca, um dos tipos mais seguros de cirurgia de coração, teve um AVC - dias depois, quando ajustaram sua medicação, teve outro. Logo depois, deixado desatendido na enfermaria, ele teve uma parada cardíaca quando um catarro ficou preso em seu tubo traqueal. Ele nunca deixou o hospital.
Procurando uma maneira de curar a mim mesmo, consultei minha amiga Alexis, da época da New Age, que sugeriu experimentar altas doses de pó de colostro, uma superproteína encontrada no leite que mamíferos (mas o que é vendido é o de vaca) produzem logo após darem a luz. Ela disse que isso ia "reiniciar" o processo de cura da mesma forma que reiniciamos os computadores para ajudá-los a se autoconsertar. Parecia louco, mas ela não tinha como explicar melhor. Depois de alguma pesquisa, descobri que ninguém atesta o que disse, mas isso não ia doer. E ela sempre me pareceu esperta e meio que um bruxa boazinha.
Alexis é contra a cirurgia também, dizendo que se algo valioso (por exemplo, o menisco) está rompido, você não o corta, você o costura. Simples, lógico, e o oposto do que os médicos lhe dizem.
Depois de três semanas de colostro, incrivelmente, começo a sentir o joelho bem. O médico estava errado. Adorei isso. Então, vou para uma consulta previamente agendada com uma especialista em medicina esportiva. Ela sabe sobre o colostro, mas diz que tem algo melhor. Trocamos o procedimento para a sua mistura de glucosamina e condroitina. Sou como um cavalo no portão de largada, pronto para pegar a minha raquete novamente.
Duas semanas depois, em uma aula de spinning, sinto uma estocada dura como se algo cedesse no joelho. Saí mancando, curvado. Depois disso, ele enfraquece, endurece e sempre dói. Com o tempo, fica pior. Fico cansado apenas de andar e fico meio coxo. Não me vejo recomeçando com o colostro, mesmo assim penso no que teria acontecido se tivesse continuado com ele e nunca mudado de remédio. A escolha parece clara: ir para a cirurgia mesmo com o fantasma do que aconteceu com meu pai, ou desistir do meu esporte favorito.
Fui parar no tênis competitivo já tarde. Tive um pequeno flerte com ele quando era criança - sou destro, mas rebatia com a esquerda no beisebol, o que se traduziu em um backhand de duas mãos bastante sólido. No treino, derrotei alguns jogadores top do ranking, mas em uma dúzia de torneios da federação até 14 anos que disputei, perdi na primeira rodada todas as vezes. Logo, outra atividade adolescente chamou a atenção. Rock and Roll era muito mais legal do que ouvir os gritos do Sr. "A", meu treinador, então troquei minha Jack Kramer por uma guitarra elétrica e deixei o cabelo crescer. Eram os anos 70.
Na faculdade, formei uma banda e fomos muito bem, até que mudamos para Los Angeles e brigamos. Rompemos, eu tentei o cinema, fiquei como aprendiz por nove anos antes de finalmente me tornar um produtor. Os primeiros dois filmes nos quais trabalhei foram bem, Três é demais (comédia) e O sexto sentido (drama), pelo qual recebi uma nomeação para o Oscar.
"O médico vem e mostra as fotos da artroscopia. Macabro. Lá está, em branco e preto, o menisco rompido, ligamento, cartilagem, como numa pintura de Jackson Pollock."
Na premiação, a possibilidade de ter que subir ao palco para fazer um discurso me aterrorizava. Senti-me com 13 anos, estava novamente no Port Washington Classic, antes de um grande jogo. Não sei porque o sucesso profissional não resolveu as antigas questões que aqueles torneios levaram à tona. O que todas aquelas derrotas significaram? No grande momento, por que eu não crescia e jogava todo o meu potencial? Acabou que foi a noite do filme Beleza Americana, fui poupado do teste e por mais bizarro que pareça, o alívio superou a frustração.
O próximo filme, Corpo Fechado (com Bruce Willis), foi rodado na Filadélfia, e, para ficar em forma, voltei a pegar na raquete de tênis. Era um bom esporte para quando se está na estrada - encontre um treinador na cidade e pronto. Meu jogo estava melhor agora também. Com menos pressão, ia mais para as jogadas. Nos meus melhores winners, meu professor lá, Eric Riley, ficava excitado e dizia: "Mendel rima com Lendl". Joguei um torneio federado até 40 anos. Perdi na primeira rodada.
No entanto, o amor pelo jogo estava de volta, dessa vez para o bem. Lembro de falar com meu irmão Dick sobre isso - de como nunca havia um dia ruim. Não importava o que acontecia fora da quadra, vencer, perder, jogar bem ou terrivelmente mal, tênis sempre era ótimo. Amava apenas estar lá e sempre aprendendo, sabedor de que havia novos progressos a fazer. Você é sortudo, disse Dick, em ter uma atividade tão alegre. Ele queria ter uma também.
Depois do filme seguinte, Os excêntricos Tenenbaums, eu estava esgotado. Precisava de um tempo depois das loucuras e do estresse de viver com a mala na mão. Então resolvi tirar um ano de folga - meu estilo de vida é modesto o suficiente para essa ideia funcionar até que eu voltasse ao trabalho.
Inspirado no livro de Dave Rineberg sobre o desenvolvimento das irmãs Williams, decidi empenhar meu tempo com o tênis. Era a oportunidade com a qual todo jogador sonha e me senti abençoado por ter isso.
Comecei a procurar um treinador. Conversei com alguns, incluindo Ronald Agenor, um havaiano que tinha acabado de sair do circuito. Ele havia vencido Agassi três vezes e sido 20o do mundo. Ele mal falava. Quando batemos, ele me trouxe para a rede e soltou bolas tão pesadas na minha direção por tanto tempo que meu braço ficou anestesiado. Claramente, ele estava me testando. Ele parecia sério, quando não, mal. Mas, ao contrário do Sr. "A", do colégio, dessa vez, adorei.
Acontece que Ronald não era vil, ele tinha uma explosão. Treinar tempo integral era ótimo - altos, baixos, risadas. Depois de seis meses, joguei um torneio até 40 anos e venci facilmente cada adversário. Minha primeira vitória, doce. Tirei o mico das costas. Subi para o número 18 entre os tenistas da minha idade e fui jogar o campeonato nacional. Estava vivendo um sonho, comendo, dormindo e respirando tênis.
Quando o ano terminou, voltei para o trabalho, mas continuei jogando. Sem o condicionamento e com mais trabalho na cabeça, machuquei o joelho pela primeira vez. Mas, com um bom aquecimento e alongamento, fiquei bem por dois anos. Então veio o dia em que não me alonguei, o dia em que não melhorei e que a saga toda começou.
"Mas, depois de seis semanas, meu joelho ainda está muito inchado. Peço ao cirurgião para dar uma olhada, mas ele diz que é normal, que estarei correndo em um mês."
A cirurgia é amedrontadora. Mesmo no melhor caso, vai haver muletas, fisioterapia, além de eu estar rodando um novo filme, que será feito fora do país em breve. Não é uma época muito conveniente para ter a perna cortada. Nunca é uma boa época. Mas eu tinha saudade do tênis. Alguns podem chamar de hobby, mas, para mim, era mais do que isso. E eu era jovem demais para ficar mancando em um futuro previsível.
Decidi ir em frente. Vestir aqueles pijamas de hospital é humilhante. Ficar com um intravenoso no braço também não é agradável. Eles rasparam os pelos dos meus joelhos e marcaram no esquerdo "não" e no direito "sim" com uma caneta para assegurar que nenhum erro fosse cometido. Reconfortante. Então, uma espera interminável. Ela lhe dá tempo de pensar. Sinceramente espero viver saudável e fazer o que for possível para evitar ter que voltar ao hospital, exceto para ter meus filhos. Minha amiga Lisa ajudou a passar esse tempo. Finalmente, eles vieram. Deitei de costas na maca, olhei para o teto, luzes fluorescentes passando em direção à sala de cirurgia.
Meus olhos se abrem novamente, agora no quarto do hospital. Há uma faixa sobre meu joelho. O médico vem e mostra as fotos da artroscopia. Macabro. Lá está, em branco e preto, o menisco rompido, ligamento, cartilagem, como numa pintura de Jackson Pollock. Claramente, a barbatana de tubarão não ia curar aquilo. Tento me levantar. Estranhamente, consigo colocar peso nele. Ele diz que com 10 semanas de fisioterapia estarei como novo. Vou de muleta para o carro e digo a Lisa que isso talvez não seja tão ruim.
A cirurgia é amedrontadora. [...] Vestir aqueles pijamas de hospital é humilhante. Ficar com um intravenoso no braço também não é agradável.
As paredes do CATZ Instituto de Fisioterapia de Pasadena são forradas com fotos de atletas que eles ajudaram - David Beckham, Oscar De La Hoya, Misty May-Treanor. Faço três dias por semana, mais uma terapia aquática. Adoro. Mantas quentes, ultrassom, máquinas de estímulo elétrico. Depois de um ano sem poder fazer muita coisa, estou lá de novo. Levantando ferro. Fazendo trabalho de perna. Lado a lado com outros atletas, alguns mais seriamente machucados, estamos tentando voltar. Meu lado atleta está voltando depois de um longo inverno.
Mas, depois de seis semanas, meu joelho ainda está muito inchado. Estou atrasado na recuperação. Peço ao cirurgião para dar uma olhada, mas ele diz que é normal, que estarei correndo em um mês. O telefonema termina logo, ele me trata como um banana, já estou fora do seu escopo.
Duas semanas depois, meu joelho ainda está inchado, e meu fisioterapeuta A. G. sugere que eu estimule meu trabalho de pernas. Tem certeza? Cautelosamente manobro entre os cones, esperando vir a dor. Não vem, então aumento um pouco o ritmo. Ainda me sinto bem. Depois de um ano, fazer esses movimentos sem dor é como estar voando. Duas semanas depois, vou para a esteira, alternando um minuto de corrida com um de caminhada. Tudo bem. O cirurgião me descartou, mas ele estava certo - ouço a raquete chamando...
Na primeira aula em quadra, não me mexo muito, mas, como é bom estar de volta. O cheiro das bolas, a simplicidade de quicar, bater, quicar, bater. A vibração familiar no pulso e no braço. E mais, o som de uma bola bem batida.
Na semana seguinte, tento me movimentar mais, mas a perna simplesmente não vai. Ela fica para trás, relutante. A. G. tenta aumentar os estímulos, mas meu joelho começa a doer novamente, tanto quanto antes da cirurgia. Dói a semana toda, e na semana seguinte também. Penso, "ah não, não funcionou". Já passam três meses da cirurgia e voltamos ao ponto de partida. Estou na Europa para o novo filme. Sinto-me enganado. Eles lhe vendem isso na operação, e quando não acontece, quando você consegue falar com o médico, ele lava as mãos e diz: "O que você quer que eu diga? Geralmente funciona".
Em Londres, não há tempo para fisioterapia; acordamos às 5 da madrugada e ficamos em pé até altas horas. Tento fazer alguns exercícios, mas a esteira ainda causa muita dor. É um mês deprimente, então voamos até a Itália para filmar. Meu joelho não está melhorando, mas pelo menos a comida sim.
Lá, um dia depois do trabalho, tento correr na praia ao pôr do sol. No pior dos casos, será uma caminhada. Começo e me sinto surpreendentemente bem, então continuo. E continuo. Termino correndo 40 minutos sem dor. Incrível. Sinto-me bem no dia seguinte.
Simples assim, em duas semanas, lá estou eu no saibro, batendo bolas com um adversário, correndo, sentindo-me livre.
Pessoas que passaram por cirurgia já tiveram as lições pelas quais passei. A recuperação é mais longa do que você imagina. O progresso não é linear, ele acelera e cessa em seu próprio ritmo. Mesmo quando você faz as coisas certas, e você precisa fazer, é uma jornada imprevisível e, apesar de todo o apoio, ela é solitária. É o seu corpo que está em jogo, e o de ninguém mais. Você precisa lutar por ele com o amor e a paixão que ele merece e simplesmente esperar pelo melhor. Para mim, funcionou. Sou um dos sortudos.
Voltando no tempo, sou grato pela lesão. Ela me forçou a enfrentar a medicina moderna novamente, reforçando os dogmas de uma boa decisão - ir para algo positivo em vez de fugir com medo. Ainda estou aprendendo como me preparar fora da quadra - condicionamento, recuperação, massagem, sono, nutrição, não apenas para o tênis, mas para a vida.
Agora, estou de volta fazendo o que amo, trabalhando com filmes - até colocamos uma dupla engraçada em Missão Madrinha de Casamento - e, nos dias de folga, indo para as quadras, indo sem medo para os dois lados, nos dois joelhos, sentindo-me abençoado, deleitando com o que meu irmão admirava, o que para mim é uma alegria especial que somente o tênis traz.
From Tennis Magazine. Copyright 2012 by Miller Sports Group LLC. Distributed by Tribune Services
Publicado em 22 de Janeiro de 2013 às 13:58
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