Instrução Educação a Distância
Uma questão sempre aflige os jovens tenistas (e seus pais): é possível jogar tênis e continuar estudando?
HÁ VÁRIOS EXEMPLOS de meninos ou meninas que, desde que fazem as primeiras aulas no clube, demonstram habilidade para o tênis. Elas se destacam e, logo, o professor mais atento antevê um futuro promissor. Não é surpresa que ela comece a participar de torneios e venha a se aventurar muito cedo pela rotina de viagens, deixando de lado um aspecto primordial de seu crescimento: os estudos. O mesmo pode acontecer com o jovem de 17, 18 anos, que termina o Ensino Médio e já debanda o foco total para a transição do circuito profissional, como se não existisse mais necessidade de estudo depois dessa etapa.
Conciliar a rotina de treinamento e competições de um tenista com a escola já foi empecilho para muitos ex-jogadores, que interromperam sua formação acadêmica por priorizarem o esporte. Mas hoje, ser esportista não é desculpa para deixar de lado os estudos. Mesmo quem viaja com frequência para os torneios, vê que há um esforço das federações e confederações para que o circuito não atrapalhe a formação intelectual. Até quem já terminou o Ensino Médio há bastante tempo, não pode mais reclamar da falta de oportunidades.
É o exemplo de Bruno Soares, melhor duplista do Brasil de todos os tempos, que começou, em 2013, a fazer faculdade a distância. Para ele, vale a regra “nunca é tarde demais para aprimorar o conhecimento”. E o mineiro tem consciência de que, com raras exceções, a carreira no esporte é curta. É preciso, portanto, mudar o conceito de que para dar certo no tênis, é preciso abrir mão do estudo, afinal educação e esporte podem muito bem andar juntos.
Há 10 anos, Soares começava sua carreira no circuito profissional e se dedicava exclusivamente à rotina diária de preparação de um atleta. Com isso, não pôde dar continuidade à formação acadêmica após o término do Ensino Médio, lembrança que ainda o perturba. “Quando tinha 20 anos, não existia a possibilidade [de conciliar os estudos com o tênis]. Ou fazia faculdade ou jogava tênis. Um dos meus grandes arrependimentos foi não ter feito uma faculdade nos Estados Unidos. Na época, foi difícil tomar essa decisão, mas optei por ser tenista”, conta.
O prestígio conquistado no circuito, com os grandes resultados desde 2012, fez com que o duplista ganhasse maior visibilidade e sua conta bancária aumentasse. Só que nada disso tirou o foco do mineiro em encarar novos desafios, principalmente voltar aos estudos uma década depois. E se comparecer às aulas com frequência é uma tarefa inviável para o jogador de 31 anos, fazer uma faculdade a distância se tornou uma ótima sacada.
No meio do ano, Soares começou o curso de marketing pela universidade Estácio de Sá, e teve que iniciar um ritual diferente comparado aos anos anteriores para conseguir estudar o conteúdo das disciplinas nas horas vagas. “Hoje tenho a possibilidade de conciliar as duas coisas e estou gostando bastante de estudar. É um sofrimento [risos], porque não é fácil voltar à rotina dos estudos, inclusive tive provas nesse final de ano. É um desafio novo, mas acrescenta demais para a minha carreira, além da parte tenística”, opina.
O curso de Marketing pela Estácio tem duração de dois anos, sendo que o limite para a conclusão é o dobro do tempo, entre períodos cursados e trancados. Soares, como todo bom mineiro, não tem pressa para completar seu ciclo na faculdade e afirma que a principal meta vai bem além de qualquer data limite. “Se eu apertar o ritmo, dá para fazer em dois, dois anos e meio, mas faculdade a distância é difícil, é complicado sobrar tempo livre para estudar. Não tenho meta para acabar em três ou quatro anos. O mais importante é que quero aprender, tentar sugar tudo que o curso me oferece”, explica.
Se Soares não teve a oportunidade de cursar uma faculdade a distância na época em que concluiu o colegial, o mesmo não aconteceu com Flávia Araújo, que atualmente está cursando “Business Management” na Universidade de Arkansas, nos Estados Unidos. A paulistana conseguiu se programar a fim de ter tempo para treinar e estudar nas horas vagas.
A tenista, hoje com 20 anos, lembra que o ensino superior sempre esteve em seus planos, independentemente do cansaço e todo comprometimento com os treinos. Dessa maneira, Flávia mergulhou na ideia de fazer o curso de Administração na Universidade Paulista (UNIP). “Naquela época, passava o dia inteiro nas quadras do Centro de Treinamento Kirmayr (CTK), na academia, fazia Pilates, aulas de inglês e, no meu tempo livre, entrava no site da UNIP para realizar minhas tarefas do curso e acompanhar as palestras online, participava de quiz e até de projetos em grupo”, detalha.
Assim como acontece com Soares, as provas de Flávia eram agendadas e realizadas no polo onde ela estava matriculada, no caso, em Serra Negra. A atleta comparecia à unidade e retirava as apostilas no começo de cada bimestre para estudar as matérias.
Segundo a jogadora, o ritmo não era menor do que o apresentado nas quadras, em que se empenhava para conseguir boas notas para impressionar os “olheiros” das universidades americanas. “Que eu me lembre, a média era seis. Era a mesma regra para todos e a faculdade não dava nota de graça só por eu ser atleta. Tinha que fazer por merecer. E sempre busquei tirar o máximo possível”, explica.
O tênis competitivo sempre pareceu não combinar com estudos, mas, com os cursos de educação a distância, é possível até mesmo se formar na universidade
Se atletas têm, hoje, a chance de cuidar também da formação superior com os cursos a distância em faculdades, a recíproca é verdadeira também para quem ainda está no colégio. Henrique Leal, de 15 anos, já tem certo o plano de tentar a sorte no tênis, mas não cruza os braços para sua formação básica, principalmente pelos conselhos da mãe Luciana, que o lembra de que “os estudos vêm em primeiro lugar”.
No segundo semestre de 2013, o jovem atleta optou por uma escola que oferece a opção dos cursos apostilados, processo pelo qual acompanha o conteúdo escolar através de apostilas fornecidas bimestralmente pelo Colégio Avanço, de São Paulo. Dessa maneira, ele pode fazer os trabalhos em casa e ter as matérias disponíveis que cairão nas provas ao final de cada bimestre.
Mesmo depois de tanto tempo no circuito profissional, Bruno Soares não desistiu de fazer uma faculdade e se formar
Para Henrique, a incompatibilidade de horários e o desgaste na locomoção da escola para a academia onde treina foram os principais motivos que o fizeram escolher essa nova alternativa de estudo. “Antes, minha aula acabava às 13h10 e a aula no clube começava às 14h. Não dava tempo de chegar. Agora venho treinar e volto para casa de ônibus. Minha mãe não precisa me buscar na escola e me trazer para treinar”, conta.
Em uma família que preza pela educação, Luciana, mãe de Henrique, confessa que foi um choque de realidade o momento em que o filho decidiu tomar o caminho que o afastava dos estudos. Porém ela diz que a maturidade do garoto foi tão surpreendente, na certeza do que quer para a sua vida, que não retrucou em apoiá-lo. “O Henrique quer ser tenista. E chegou um momento que ele não conseguia mais treinar quatro horas, e estudar outras quatro horas por dia. Tivemos que procurar um caminho alternativo para o estudo não convencional, em que ele pudesse treinar e garantir o diploma do Ensino Médio. Porque, se amanhã ele resolver que quer estudar ou trabalhar com o meio do tênis, ele tem essa possibilidade”, opina.
Henrique reforça a declaração da mãe, reiterando que os estudos também podem lhe garantir outras opções viáveis se não der certo com a carreira no esporte: “Vou treinar para ser profissional, mas sempre tem a segunda opção. Fazer faculdade fora, algo que já comentei com minha mãe e com meu técnico e não deixa de ser uma possibilidade”.
A Revista TÊNIS entrou em contato com o Colégio Avanço para descobrir as particularidades da rotina de alunos que têm situação parecida com a de Henrique, quais são as principais normas da instituição e o que ela oferece para amparar o estudante.
A escola realiza quatro provas ao longo do ano (uma a cada bimestre), com datas previamente agendadas. Caso o aluno não atinja o mínimo de presença legal, ele deverá se submeter obrigatoriamente às aulas de reposição. Quanto às notas, se o aluno não alcançar a média bimestral (no caso, nota 5), ele passa pelo processo de recuperação com prova e trabalho. Ao término do último bimestre, não obtendo a média anual de 5, ele passará pela recuperação final, com avaliação.
Os cursos da instituição são presenciais, mas há a possibilidade do curso apostilado para esportistas, artistas, portadores de afecções congênitas ou adquiridas etc, assegurados por lei, que devem comparecer aos plantões de dúvidas (que funcionam diariamente na escola após o horário normal), ir às aulas para entregar os trabalhos bimestrais e fazer as provas. Vale lembrar também que é permitido aos estudantes as atividades didáticas organizadas em diferentes meios que utilizem tecnologia de informação como internet e email.
Flávia Araújo se formou regularmente no Ensino Médio com aulas presenciais, mas confessa que o processo não foi simples devido ao foco também no tênis desde cedo. A paulistana recorda que chegou a faltar um mês seguido nas aulas, mas o suporte do colégio foi fundamental para que ela conseguisse dividir bem suas tarefas no esporte e na escola. “Durante o meu Ensino Médio no Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida (CONSA), todos os profissionais me ajudaram com estratégias de estudo, revisão de matérias, calendário de provas e até mesmo atividades por email. Foi um processo bem exigente, mas conseguimos superar todas as adversidades”, destaca a tenista, que, hoje, é destaque em sua universidade nos Estados Unidos.
Com isso, seja ainda na adolescência, seja durante a vida adulta, o tenista deve ter um foco: ir em busca da formação. Estudar é mais que uma tarefa obrigatória. É uma contribuição para o amadurecimento pessoal e profissional. Bruno Soares, assim como dá o exemplo dentro de quadra, concorda que o sucesso do atleta vai muito além do que ele fez pelo esporte. “Hoje, estudar a distância ficou tão fácil que não existe o porquê de não fazer. Todos deveriam passar por isso, porque acrescenta demais na vida profissional. Hoje estou estudando marketing e jogando tênis. Consigo assistir a uma aula na Ásia, Europa... Se tenho dúvidas, mando email para o professor e ele me responde. Se tivesse essa possibilidade há 15 anos, teria feito. Estou pensando também na minha vida pós-carreira no tênis”, encerra o destaque do tênis brasileiro em 2013.
Boas opçõesSe assim como Bruno Soares, você tem interesse em fazer um curso a distância, no portal do Ministério da Educação (MEC) encontram-se os cursos e as instituições credenciadas em todo o Brasil. São universidades públicas e particulares que garantem um sucesso de formação. Basta acessar |
Publicado em 1 de Fevereiro de 2014 às 00:00
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