Bom momento dos jovens tenistas brasileiros e números expressivos da nova geração nos enchem de esperanças
Tiago Fernandes foi campeão do Australian Open juvenil em 2010 e já apresenta bons resultados entre os profissionais |
A CRÍTICA É SEMPRE A MESMA: não soubemos aproveitar o "efeito Guga". Não investimos na base. Não criamos novos jogadores. Isso está sempre martelando na cabeça de todos os que vivem acompanhando o tênis nacional. É como um fantasma. Um assunto que sempre volta à tona. Chega a cansar.
Diversas vezes ouvimos dos especialistas que um grande ídolo demora de 10 a 15 anos para "gerar frutos". Guga deixou o tênis em 2008 e pairou no ar um medo terrível de que nunca mais fôssemos ter alguém despontando no circuito. Aí, veio Thomaz Bellucci. Um top 30 e que trabalhando com Larri Passos, esperase que consiga muito mais do que isso.
Bruno Sant'anna é um dos destaques do ranking juvenil em 2011 e, logo no começo da temporada, conquistou o importante torneio de Casablanca |
Mas Bellucci não parece ser um fenômeno como Guga. Mas não é de fenômenos que se faz o tênis. Não é assim que se monta uma base. Bellucci é o começo de uma geração que parece vir para renovar o tênis brasileiro. Uma prova disso aconteceu na primeira semana de abril, no Challenger de Recife. A nova geração se mostrou e, aos poucos, começa a despontar, e pode, sim, encher de esperanças o futuro do tênis no Brasil.
A campanha surpreendente de Tiago Fernandes, primeiro brasileiro a vencer um Grand Slam como juvenil - no Australian Open de 2010 -, serviu para mostrar que o jovem alagoano, de apenas 18 anos, não era somente mais um dos inúmeros exemplos de brasileiros que triunfaram entre os garotos e fracassaram entre os prossionais. Jogando no Nordeste, próximo de casa, levantou a torcida ao longo de toda a semana e ficou com o vice.
Chega de perguntar quando teremos um novo Guga. Devemos torcer para que alguns de nossos jovens estejam entre os melhores do mundo
Além dele, outros nomes de respeito da nova geração também se destacaram, como Guilherme Clezar, que perdeu nas quartas-de-final justamente para o contemporâneo Tiago Fernandes, e Bruno Sant'anna, que venceu o carioca Fernando Romboli, cinco anos mais velho, e também caiu diante de Fernandes.
Thiago Monteiro venceu a Copa Gerdau e está perto do top 10 do ranking ITF juvenil |
RENOVAÇÃO
Mas afinal, o que realmente o torneio pernambucano nos mostra? Como avaliar se apenas um torneio pode refletir o momento atual do tênis no Brasil? Na verdade, para tomar qualquer tipo de conclusão, a melhor maneira de fazer uma boa análise é olhar os números, e hoje eles jogam a favor da garotada brasileira.
Atualmente, o país conta com 82 jogadores com pontos no ranking da ATP, um número respeitável. Mas, mais impressionante ainda é olhar a idade destes tenistas, o que mostra uma renovação que não se observa em algumas das principais potências do tênis mundial. Desses 82 ranqueados, 39 possuem menos de 20 anos, o que equivale a 47% do total. Outros 20 têm entre 20 e 23 anos, idade do número um do País, Thomaz Bellucci, o que representa outros 23% do total. Sendo assim, apenas 30% dos tenistas brasileiros com ponto na ATP hoje têm mais de 23 anos, um número que ressalta a presença massiva de jovens talentos despontando no circuito.
Muito desse cenário se deve ao extenso número de torneios Futures que atualmente são disputados no Brasil, que, no ano passado, só perdeu para a Espanha em quantidade de competições desse porte. Jogando em casa, os meninos brigam por seus primeiros pontos como profissionais sem ter de viajar, o que facilita, e muito, os primeiros passos na carreira.
#Q#NÚMEROS A NOSSO FAVOR
João Sorgi destacou-se no Circuito Cosat e também está entre os 15 melhores juvenis do mundo |
Mas será que essa renovação é uma tendência mundial ou o Brasil pode se orgulhar de possuir números expressivos? Pensando nisso, resolvemos comparar as idades dos tenistas brasileiros com ranking ATP com jogadores das principais potências do tênis mundial na atualidade, como Espanha, França, Argentina, Sérvia e Croácia, e também com nações que possuem uma história enorme na modalidade, como Estados Unidos, Austrália, Rússia e Suécia.
E, para nossa surpresa, o Brasil, dentre todos esses países, é o que possui a maior porcentagem de atletas com menos de 20 anos entre os representantes no ranking da ATP.
O único que chega perto dos nossos expressivos 47% é a Rússia, com 46%. Argentina e Austrália, com seus 39%, também apresentam bons números, enquanto potências como Espanha (32%), Estados Unidos (31%), Suécia (26%) e França (25%) já podem começar a se preocupar.
BRASILEIROS NO TOP 100 ITF JUVENIL 11° - Thiago Monteiro |
Em números absolutos, entre as nações citadas, o Brasil só tem menos garotos abaixo dos 20 anos no ranking da ATP do que a Argentina, com 41 meninos (ver mais detalhes nos grácos). E esse bom momento não é refletido apenas no tênis profissional. Com muita tradição no tênis juvenil, o Brasil continua entre as maiores potências na categoria, e hoje pode se orgulhar de ser o país com mais representantes entre os 25 melhores juvenis do mundo no ranking da Federação Internacional de Tênis (ITF), com Thiago Monteiro (11°), João Sorgi (12°) e Bruno Sant'anna (14°).
Acrescenta-se a esses bons números o título de Tiago Fernandes na Austrália em 2010, já citado, e a recente conquista de Sant'anna no tradicional torneio Casablanca Junior Cup, no México, que tem a mesma pontuação do que torneios Grand Slam no ranking juvenil.
PAÍSES COM TENISTAS NO TOP 25 ITF JUVENIL Brasil - 3 Reino Unido, Croácia, Bélgica , Austrália , Espanha e EUA - 2 República Tcheca, Bolívia, Áustria, Filipinas, Eslováquia, Equador, Holanda, Sérvia, Ucrânia e Chile 1 *Rankings de 11 de abril de 2011 |
FUTURO COM PÉS NO CHÃO
Claro que se considerarmos o cenário do tênis brasileiro como uma pirâmide, ainda estamos muito longe de apresentar bons resultados na parte de cima, no topo. Hoje temos apenas dois tenistas no top 100, Thomaz Bellucci e Ricardo Mello, sendo que um deles, Mello, já passou dos 30 anos. Mas, na base, que representa muito de nosso futuro, estamos cada vez mais fortes, o que nos enche de esperanças para os próximos anos.
Além de promessas, muitos desses meninos hoje já podem ser considerados realidade, estão trabalhando duro e logo podem trazer grandes resultados. Se vamos ter um novo Guga nas próximas temporadas? Não é essa a pergunta a ser feita, pois um gênio, como Guga, Nadal e Federer, não surge todos os anos, em todas as esquinas.
A pergunta agora é: teremos quantos jogadores com condições de estar entre os melhores do mundo? Vamos aguardar que o trabalho sério de treinadores e organizadores de torneios dê resultado e, assim, teremos muito a comemorar.
Publicado em 4 de Maio de 2011 às 11:42