Regras do Tênis
Saiba se este tipo de serviço, considerado por muitos uma prática antiesportiva, é legal
Foto: Divulgação/ATP
Em 1989, Michael Chang causou espanto tanto em seu adversário, ninguém menos do que Ivan Lendl, quanto na plateia francesa de Roland Garros ao executar um saque por baixo e vencer um ponto crucial na partida. Na época, Chang tinha apenas 17 anos e se tornou o campeão mais jovem da história do Aberto da França (recorde que detém até hoje). A torcida apoiou a audácia do jovem.
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Dez anos depois, contudo, na mesma quadra, Martina Hingis resolveu usar a mesma tática na final contra Steffi Graf. Descontente com a arbitragem e com o comportamento da torcida francesa, a jovem suíça sacou por baixo para se defender de um match-point e, assim como Chang, teve sucesso, vencendo o ponto. No entanto, a plateia não perdoou a ousadia, vaiando-a por achar que a atitude refletia sua falta de espírito esportivo.
Por fim, esses dois saques por baixo entraram para a história. Cada um a seu modo. Mas o que diz a regra a respeito desse controverso golpe?
Segundo o livro de regras da Federação Internacional de Tênis (ITF) em seus tópicos 16 e 17, que tratam sobre o serviço, o sacador deve ficar atrás da linha de base na metade da quadra oposta à do recebedor e pode lançar a bola com a mão em qualquer direção para então golpeá-la com a raquete. Para ser válido, o serviço deve passar sobre a rede e quicar no quadrado diagonalmente oposto antes que o recebedor a devolva.
Ou seja, em momento algum a regra diz com que tipo de movimento o golpe deve ser feito, apenas que a raquete deve acertar a bola que precisa passar sobre a rede e cair na correta área de saque da quadra adversária. Feito isso, seja lá com que técnica, o ponto está valendo. Ou seja, o saque por baixo é legal.
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Hoje, o saque definitivamente não é apenas uma forma de iniciar o ponto, mas um dos pilares do jogo. Alguns acreditam que, por isso, o saque por baixo é apenas mais uma alternativa válida para vencer o ponto. No entanto, há muita controvérsia em torno de sua utilização, pois ele é visto como um truque, uma dissimulação, uma artimanha, coisas que nunca foram bem vistas no tênis, que prima por ser um esporte de respeito entre os adversários.
Talvez por isso, esse tipo de saque não seja treinado e sequer incentivado pelos professores. Antes de entrar na discussão entre ser legal e ético, devemos, primeiramente, voltar no tempo e falar sobre a história e a evolução do tênis.
Apesar de hoje ser um golpe raramente usado e suscitar tantas polêmicas, o saque por baixo era comum nos primórdios do tênis. Em vez de cerca de 1 metro de altura, a rede tinha mais de 1,2 m, o que dificultava qualquer outro tipo de saque – que, até então, era apenas uma forma de iniciar o ponto e não uma arma como atualmente. Ainda assim, já na segunda edição do torneio de Wimbledon, em 1878, A. T. Myers já foi visto sacando por cima da cabeça, em um movimento que evoluiria com o tempo e que se tornaria padrão.
Ainda assim, ele é válido. Há alguns tenistas que, por vezes, utilizam-no, como o australiano Nick Kyrgios. Mas, se você pensa em sacar por baixo, saiba que poderá ser aclamado como Chang ou hostilizado como Hingis, e isso não depende de você, mas da interpretação de sua intenção por seu oponente.
Publicado em 4 de Novembro de 2016 às 11:29