Enquanto durou
Deixar de ter aulas com o professor de tênis merece cuidados a fim de evitar mágoas
O professor (ou treinador) é figura quase imprescindível no aprendizado e evolução no tênis. Desde a aulinha semanal de iniciantes até os treinadores de competição, que acompanham tenistas em viagens, a relação com o professor envolve aspectos humanos. As horas partilhadas em quadra geram conversas, trocas de experiência e aproximação. Se perduram, migram para uma proximidade maior, transformando-se em amizades. Não é difícil encontrar um professor de tênis que é confidente, psicólogo, motivador e amigo de seus alunos. É um processo natural, pois, permeando o aspecto técnico da aula ou treinamento, há relações humanas se desenvolvendo.
Como tudo na vida tem seu tempo e ciclo, chega-se ao momento que os jogadores, por diferentes razões, acabam deixando um professor. Esse é um instante muito delicado para ambos. Alguns cuidados e procedimentos devem ser levados em conta para evitar mal-entendidos. É muito importante deixar um professor e levar consigo uma boa relação, uma amizade e boas lembranças. A seguir, listamos algumas dicas que podem ajudar nesse processo para que os bons laços se mantenham:
1. Comunicação
O grande vilão no processo de findar a relação profissional com o professor é a má comunicação. Primeiramente, reserve um tempo e escolha um local e hora apropriada para a conversa, para que se possa ter um bom diálogo. Use um tom de voz apropriado, levando em conta que, para alguns professores, pode ser uma notícia difícil de lidar. Procure olhar nos olhos do treinador, conferindo sinceridade e autenticidade. Remarque os pontos positivos do período que trabalharam juntos, agradeça e seja paciente em escutar o que o professor tem a dizer. Se estiver insatisfeito com um ou mais aspectos, relate isso a ele com delicadeza e apenas se for necessário e se sentir abertura para tal. Caso contrário, facilmente pode haver uma discussão, fugindo da solução conciliatória que o momento merece. Evite meios indiretos, como telefonemas, e-mails, mensagens de voz. Use esses recursos apenas em último caso, lembrando que uma ligação ainda é muito mais humanizada que uma mensagem por WhatsApp. Esse tipo de comunicação gera a sensação de descartabilidade no professor, dilui a conexão humana e pode ser confundida com ingratidão. Como essas práticas tecnológicas estão se tornando cada vez mais absolutas, não se pode perder de vista seus limites e empregos adequados.
2. Honre com as responsabilidades financeiras
Infelizmente, alguns jogadores aproveitam o momento de término com os serviços prestados para não pagar o que estava acertado. O clássico “fazer aulas até o meio do mês e sair sem pagar a mensalidade” é uma prática mais comum do que se pensa – quando não há contratos envolvidos. É difícil encontrar um professor que não tenha passado por essa situação. Ao fazer isso, o aluno está fechando uma porta, destruindo uma boa relação e está exposto a cobranças de todos os tipos, podendo ocorrer situações constrangedoras. Não é difícil perceber que mensalidade alguma vale esse tipo de situação. Cumpra corretamente com as responsabilidades financeiras e certifique-se com seu professor que está tudo quitado.
3. Não demore para dar a notícia
Assim que tiver claro e seguro que deixará as aulas, procure comunicar isso a seu professor, mesmo que ainda tenha que seguir um tempo com ele. Essa atitude revela transparência e sinceridade. Pode ser que quando você comunique sua saída tardiamente, o professor perceba que você já tinha isso em mente há tempos, criando um distanciamento.
4. Muito cuidade com a "fofoca"
Este é um dos grandes vilões no delicado processo de extinguir as aulas com seu professor. Após ter tomado a decisão, não comunique isso a outras pessoas antes de sentar e conversar com seu professor. Pode ser muito embaraçoso que ele venha a saber de sua decisão por intermédio de outros. Isso pode acarretar má interpretação e mal-entendidos. Algo ainda pior é expor a outras pessoas os motivos pelos quais você está parando de ter aulas, quando isso envolve questões inerentes ao professor, como metodologia, condutas ou qualidade técnica, por exemplo. Lembrando que a essência da “fofoca” é a distorção e a potencialização dos fatos, seguramente o que chegará ao seu professor é algo muito maior do que aquilo que você disse. Tentar remediar os fatos depois pode ser tarefa improvável. Portanto, tenha claro que, em situações delicadas, agir com discrição e conduta é imprescindível para o melhor desfecho dos fatos.
5. Apegue-se aos aspectos positivos
Por mais que você faça tudo perfeitamente, se, após deixar as aulas, falar negativamente de seu professor, tudo cairá por terra. Como já mencionado, isso acabará chegando ao seu treinador de forma distorcida, abalando uma possível boa relação entre vocês, podendo até levar a discussões. Mais grave ainda são os casos em que o aluno tenta influenciar os alunos que ficaram a sair. Isso jamais deve ser feito, pois implica em uma ação direta de prejudicar o professor. Cada um deve tomar suas decisões por conta própria, a partir de suas próprias perspectivas e experiências. Procure ver o lado bom de seu professor, os bons momentos, as qualidades e transmitir isso às pessoas após ter deixado as aulas. Isso tornará o professor grato, fortalecerá uma imagem positiva em relação a você e deixará sempre as portas abertas. No caso extremo de a experiência com o professor ter sido muito ruim, mantenha silêncio sobre o assunto. Os fatos falam por si só e será apenas uma questão de tempo para que as pessoas percebam que aquele não é um bom profissional.
6. Pratique a gratidão
Agradecer. Por mais delicado que seja o momento da despedida, nada fortalecerá mais a conexão entre você e seu professor que a expressão da gratidão. Quando o professor sente que é valorizado pelo que fez e é, experimenta a sensação de dever cumprido, que se sobrepõe a qualquer sensação de perda. Um olhar sincero, um abraço e relatar os bons momentos e o que você leva de positivo daquela experiência é muito gratificante para quem ensina. Quem expressa a gratidão sempre será lembrado com muito carinho pelos seus tutores.
7. Não procure se justificar
Tenha sempre em mente que o professor está oferecendo um serviço e que, apesar do aspecto humano que envolve as aulas de tênis, existe ali uma relação de cunho profissional. Dessa forma, o aluno tem todo o direito de findar o ciclo com aquele profissional quando achar conveniente e estiver dentro das condições contratuais. Portanto, evite sentimentos de culpa, pena ou remorso. Isso fará com que você tenha uma postura de justificativa perante seu professor no momento de terminar o ciclo. Quando isso ocorre, o aluno experimenta sentimentos ruins e tende a provocar no treinador certo desconforto. Seja objetivo: compreenda seus motivos, agradeça ao treinador, remarque seus pontos positivos e seja breve em dar satisfações. O cerne da conversa deve sempre ser os pilares positivos entre você e seu professor, não suas razões para terminar com as aulas.
8. Não seja reativo
Ao conversar com seu professor, pode haver reações emocionais por parte dele. Desde raiva até choro. É muito importante não se envolver no emocional do professor. Se ele ficar bravo e alterado, é fundamental manter a calma. Da mesma forma que, se ficar triste, você não deve se deixar abalar. Duas pessoas emocionadas têm menos chances de ter um desfecho coerente que quando ao menos uma mantém as emoções de lado. Lembre que, antes de tudo, existe ali um vínculo profissional.
9. Ponha em prática sua decisão
A maior prova que terminar a relação profissional com o professor não é tarefa simples é a presença de casos em que o aluno está insatisfeito, quer uma mudança, mas não o faz com medo da reação do treinador e do desconforto do momento do término. Algo difícil de conceber, mas que ocorre com frequência. Jamais seja refém de uma situação. Tenha em mente que o vínculo profissional sempre deve prevalecer perante os outros elementos. Haja de forma ética e transparente que tudo irá se encaixar.
10. Uma via de mão dupla
Tudo que foi explicado até agora também deve se aplicar aos professores. Eles devem ser transparentes, sinceros, gratos e honestos com seus alunos em todo o momento, inclusive no momento de findar uma relação. Deixar de lado emoções, fofocas, cobranças e revanchismos. Dar liberdade aos seus alunos para irem e virem. Ter os alunos vinculados pela qualidade do serviço, pelas virtudes pessoais e não por uma postura possessiva. Manter conexões positivas com os ex-alunos é o grande portal para que novos alunos venham, pois serão eles que falarão, com entendimento de causa, do trabalho do professor.
Fim de relação
O final de uma relação de serviço com o professor de tênis acaba sendo uma grande bifurcação entre estabelecer conexões positivas com alguém, ou criar afastamentos. Deve-se lembrar que os golpes ficam lentos e imprecisos com o tempo, os troféus enferrujam e acabam em algum armário do fundo da casa, mas aquela amizade com o professor, os bons momentos e os ensinamentos podem durar por uma vida e se fortalecerem. O tênis é jogado e ensinado por pessoas e a única divisão entre elas deve ser a rede no meio da quadra. Saiba dizer adeus… e volto em breve.
Publicado em 8 de Novembro de 2016 às 12:40
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