Lições de pai para filho: Pelo amor ao jogo
Judy Murray em 25 de Junho de 2013 às 12:53
Na infância dos seus filhos, é muito importante que eles se divirtam. Eles precisam amar o esporte e não vê-lo como uma obrigação ou possível carreira. Se o amor está lá na infância, o trabalho duro que é necessário para se tornar profissional não vai parecer tão difícil quando o momento chegar
SE VOCÊ ESTÁ SE PERGUNTANDO como uma mulher da Escócia - um país sem tradição no tênis, com um clima terrível e que não tinha muitas quadras indoor ou técnicos - conseguiu criar dois meninos para se tornarem tenistas profissionais... Posso assegurar, esse não era o plano.
Joguei tênis profissional por pouco tempo no começo dos anos 1980 e sempre amei o jogo, mas nunca tive em mente que guiaria os meus dois filhos, Jamie e Andy, para uma vida no tênis. Eu era uma representante comercial quando os meninos ainda eram bebês e comecei a ajudar nosso clube local como voluntária simplesmente para me manter ativa. Aprendi a como ser técnica alguns anos depois e venho fazendo isso nos últimos 20 anos.
Sou de uma família muito apaixonada por esportes e minha filosofia com os meninos era simples: praticar esportes com eles o máximo possível e deixá-los tentar quase tudo o que está disponível. Eles tentaram ginástica, squash, badminton, tênis, futebol, patinação no gelo, mini rugby, golfe e natação. Experimentar vários esportes - individuais e coletivos - na infância é primordial para desenvolver coordenação motora e para entender como praticar diferentes esportes de um ponto de vista tático. Você também faz muitas amizades. Dessa forma, é normal ver pais que matriculam seus filhos para suas primeiras aulas em um esporte - considero fazer isso na faixa dos oito anos - e as crianças têm uma boa ideia de que esportes querem tentar e focar. Andy jogou tanto futebol quanto tênis até os 14 anos; Jamie teve handicap 3 no golfe com 15 anos. E, apesar de ser verdade que você provavelmente tem que começar a jogar tênis muito novo para se tornar muito bom, não é preciso treinar como um profissional quando criança.
Muito do trabalho de um treinador hoje se tornou programado demais: você aprende a como bater na bola, mas nem sempre como jogar o jogo. Ouço e vejo muitos casos de crianças que, desde a infância, têm muito potencial, e rapidamente pais e filho aceitam um programa com muitas horas estruturais em quadra. Quando meus meninos eram jovens, eles jogavam no clube onde ensinei, e eles não jogavam apenas tênis, ou com crianças apenas da idade deles. Eles jogavam contra crianças mais velhas, mais novas e adultos, o que é muito importante para aprender como ler o jogo e saber lidar com diferentes tamanhos, idades e estilos diferentes de adversários. O tênis é um jogo de constante resolução de problemas, então essa área é muito importante. Você não aprende necessariamente tudo isso jogando só com crianças da sua idade.
Na infância dos seus filhos, é muito importante que eles se divirtam. Eles precisam amar o esporte e não vê-lo como uma obrigação ou possível carreira. Se o amor está lá na infância, o trabalho duro que é necessário para se tornar profissional não vai parecer tão difícil quando o momento chegar. Por outro lado, se o tênis se torna muito competitivo ou direcionado para resultados na infância, pode acarretar em infelicidade e ansiedade, e causar uma rejeição dos seus filhos em relação ao esporte. Isso é especialmente verídico se os pais se tornam muito obcecados a respeito das performances e resultados do seu filho.
Divertir-se é muito importante também para os profissionais. Agora, sou capitã da equipe da Grã-Bretanha da Fed Cup e, frequentemente, faço nossas jogadoras participarem de jogos malucos em quadra, como "quatro de cada lado da quadra". Você nunca é velho demais para curtir jogar tênis, e se divertir vai mantê-lo no esporte por mais tempo.
O problema com tênis entre pais e filhos é mais ou menos igual ao problema com os pais em geral: você nem sempre sabe se está fazendo a coisa certa para seu filho. É o seu papel criar oportunidades para eles, mas pode ser difícil julgar se essas oportunidades são realmente boas. Sei por experiência própria. Cometi um erro, e ainda me arrependo, com Jamie, que era um dos melhores juvenis do mundo aos 12 anos, atrás de Rafael Nadal e Richard Gasquet. Ele teve uma chance de entrar no programa de treinamento da LTA (Lawn Tennis Association, a entidade que gerencia o tênis britânico) aos 12 anos, mas o programa com o qual concordei foi alterado semanas antes da sua entrada. Ele, mesmo assim, foi e esteve infeliz; quando voltou para casa, ele não jogou tênis por seis meses.
Queria ter tido noção de que aquilo não seria uma boa opção para Jamie, principalmente numa idade tão jovem. Por causa disso, Andy não tinha interesse de sair de casa até que percebeu que estava ficando para trás em relação aos seus colegas. Quando ele foi para a Espanha, com 15 anos, aconteceu porque ele estava louco para ir - naquela altura, ele era amigo de Nadal e queria muito segui-lo. Ele era maduro o suficiente para morar longe de casa e fiquei tão feliz por ele ter tomado essa decisão, porque não podíamos criar um ambiente competitivo de treinamento na Escócia.
Se acontecer de seu filho ter um talento particular para o tênis, encontre alguém em quem você confia e que já fez isso antes. Toda criança e toda família é diferente, e há muitos caminhos para o sucesso no tênis, então você não precisa seguir o plano de alguma outra pessoa. Mas ouvir ajuda muito. Em esporte de equipe, muito do que as crianças talentosas precisam é organizado por um time ou uma liga. O tênis é diferente: é um esporte individual, e isso torna os pais incrivelmente importantes. Tente aprender com o máximo de pessoas que puder e, depois, faça o que você sente que é melhor. Muito disso é senso comum. O mais importante de tudo é ter certeza de que gosta disso - e assegurar que seus filhos aproveitem também.
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