Tática consiste em simular mentalmente as experiências vividas em uma determinada atividade, como um saque no jogo de tênis
por Laurent Olivier Abes em 21 de Agosto de 2019 às 12:34
Foto: Divulgação/Wimbledon
A mentalização vem sendo sistematicamente estudada há apenas duas décadas no âmbito do esporte. No entanto, vários atletas famosos já usaram algum tipo de mentalização para melhorar a sua performance. Nomes como Jack Nicklaus, Jean Claude Killy, Dwight Stones, Chris Evert são alguns dos exemplos mais conhecidos.
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A mentalização pode ser definida como "a simulação mental, consciente, planejada e repetida de experiências, incluindo ações motoras, estratégias e outras experiências sensoriais utilizando todos os sentidos".
De acordo com inúmeros relatos empíricos de atletas bem sucedidos, a mentalização da jogada a executar ou a tática de mentalizar a estratégia que será aplicada proporcionam uma melhora no desempenho. Além disso, há muitos relatos de estudos de caso trazendo evidências da eficiência da mentalização tanto para melhorar a performance esportiva, como para auxiliar no tratamento de doenças.
Foto: Divulgação/Wimbledon
Há vários fatores que parecem determinar o quanto a mentalização pode melhorar o desempenho e deve-se estar sempre ciente deles:
De acordo com estudiosos da psicologia do esporte, quando imaginamos uma tarefa motora, podemos gerar na memória informações que são semelhantes às que surgem numa experiência real.
Assim, o efeito de eventos imaginado sobre nosso sistema nervoso central, pode ser parecido com o que ocorre numa ação motora. Exemplificando, quando sonhamos que um cão enorme está correndo atrás de nós, acordamos suando, com a frequência cardíaca e respiratória aceleradas. No entanto, era tudo fruto de nossa imaginação.
Foto: Divulgação/Australian Open
Como já foi dito anteriormente, psicólogos do esporte afirmam que ela auxilia no desenvolvimento das habilidades psicológicas. Além disso, ela melhora a aquisição e prática de habilidades esportivas, podendo aperfeiçoar sua técnica e até mesmo corrigir possíveis erros.
Também, é utilizada para adquirir e treinar estratégias, para controlar a dor e lesões, pois o atleta pode seguir treinando mentalmente durante a reabilitação, tentando evitar que ele sinta pena de si mesmo, e facilite a recuperação. Finalmente, o atleta pode usá-la para descobrir ou resolver problemas.
Existem dois tipos: interna e externa.
A mentalização interna refere-se à execução de uma habilidade de um ponto de vista interno da pessoa, ou seja, ela vê somente o que veria se realmente estivesse realizando a tarefa (como se uma câmera estivesse na sua cabeça). Dado que essa visualização é feita do ponto de vista do atleta, ela enfatiza a sensação.
O segundo tipo de mentalização, a externa, refere-se a uma visualização do ponto de vista de um observador, como se a pessoa estivesse assistindo um filme dela mesma.
Há dois aspectos importantes para uma maior eficiência da mentalização, a nitidez e a capacidade de controle. Essas se desenvolvem através da prática e sem elas torna-se muito difícil visualizar tarefas com realismo.
Foto: Divulgação/Wimbledon
A nitidez é essencial para criar uma imagem que retrate a realidade com precisão. Deve-se dar atenção a todos os detalhes do cenário, dos movimentos e das situações. Existem exercícios para melhorar a nitidez, começando com coisas familiares (sua casa, mobília, etc.), passando depois a visualizar a quadra ou campo, enfim o cenário da competição.
O segundo aspecto, a capacidade de controle, é a habilidade de manejar, de moldar as imagens como a pessoa bem entender, sem ter interferência de outras imagens. Neste caso também existem exercícios específicos para melhorar este fundamento.
Ela pode ser usada antes e depois de treinos, com duração de aproximadamente 10 minutos, focalizando a atenção no que será trabalhado no treino (antes) e fazendo uma rememorização das habilidades trabalhadas, para criar imagens mais claras e detalhadas (depois).
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Também deve ser aplicada antes e durante as competições, revendo as diferentes estratégias, refrescar sua memória com relação às ações motoras que serão realizadas (antes), fortalecer a fotocópia e a memória muscular das habilidades bem-sucedidas e avaliar e corrigir possíveis pontos negativos (depois).
Além disso, pode-se mentalizar durante intervalos, principalmente em esportes com descansos, como tênis, ou nos intervalos entre os tempos de jogo, como no futebol, no basquete, entre outros. Finalmente, pode ser usada na recuperação de lesões.
Laurent Olivier Abes é formado em Educação Física e Mestre em Psicologia. Atua no tênis em Florianópolis desde 1994. Foi membro do Núcleo de estudos em Tênis de campo e do Laboratório de Educação Cerebral na UFSC. Sócio fundador da empresa Mental tennis, que oferece aulas e treinamento de tênis para crianças e adultos de todos os níveis.
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