Preparação Física/Fisioterapia
Saiba reconhecê-las para poder prevenir e tratar adequadamente
Dono de um estilo de jogo físico, o espanhol Rafael Nadal convive com as lesões. Na foto, registro do atendimento médico antes de precisar abandonar o duelo com o argentino Juan Martin del Potro na semifinal do US Open 2018. Foto: USTA/Darren Carroll
O número de praticantes de tênis vem crescendo consideravelmente nos últimos anos e, consequentemente, o número de lesões também aumenta. Elas podem resultar em diminuição do rendimento ou até afastamento da quadra e dos treinos por longos períodos. Por isso, é importante que todos os envolvidos (técnicos, professores, preparadores físicos, pais e atletas) tenham conhecimento das lesões mais frequentes e suas implicações para que seja possível um tratamento com qualidade.
Um estudo realizado em 2012 reuniu todas as lesões ocorridas em tenistas participantes do US Open desde 1994 até 2009 e confirmou a lesão muscular como sendo a mais frequente durante o torneio. A taxa de mazelas em membros inferiores foi superior às de tronco (coluna) e membros superiores, sendo o tornozelo a articulação mais acometida, seguida por joelho e pé.
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Uma revisão epidemiológica publicada em março deste ano teve o objetivo de investigar as principais lesões no tênis e ressaltou a dificuldade de se estabelecer um padrão para tal definição, pois cada estudo classifica o termo “lesão” de diferentes modos e avalia diferentes grupos de praticantes (por exemplo, atletas recreativos, amadores ou profissionais). Mesmo assim, esse tipo de estudo nos fornece informações valiosas que serão descritas a seguir.
Como dito anteriormente, a incidência e prevalência de lesões pode variar consideravelmente devido às diferentes definições para lesão, idade do grupo estudado, ou até mesmo pelo nível do praticante (recreativo, amador, profissional).
Em atletas de alto rendimento com idade inferior a 18 anos, a taxa de lesões varia de dois a 20 a cada 1.000 horas de prática do esporte. Quando considerados todos os níveis de atletas, a incidência de lesões é de três por 1.000 horas de prática, levando-nos a acreditar que atletas mais jovens sofrem mais lesões do que os que praticam há mais tempo o esporte devido à baixa experiência.
A maioria das lesões acontece em membros inferiores (entre 31% e 67%), seguido pelos membros superiores (20% – 49%) e por último, o tronco (3% – 21%). As regiões mais atingidas dos membros inferiores foram o tornozelo e a coxa, com a entorse de tornozelo sendo a mais específica ocorrida. Já nos membros superiores, o ombro e o cotovelo foram as articulações mais acometidas, com a epicondilite lateral sendo a mais prevalente.
Algo importante a se ressaltar é que a maioria das lesões em membros inferiores é de característica aguda e mais frequente, enquanto as em membros superiores são de caráter crônico com menor incidência.
O japonês Kei Nishikori passa por atendimento médico durante sua partida contra o sérvio Novak Djokovic no Australian Open 2019. Por conta da sequência de jogos longos, ele precisou desistir da competição. Reprodução: Twitter/Australian Open
O backhand com duas mãos pode ajudar uma criança em relação à força e também evitar o temido Tennis Elbow (cotovelo de tenista), mas tênis não é força e sim técnica. O backhand com duas mãos, quando executado com os braços encolhidos junto ao tronco, pode sobrecarregar a coluna a ponto de provocar uma fratura por estresse. Portanto, cuidado.
Um estudo com atletas de alto rendimento entre 12 e 19 anos mostrou que a dor no ombro está presente em 24%, aumentando em até 50% dos praticantes quando chegam à meia idade, ou seja, um número bastante expressivo e preocupante. Quando consideramos todos os níveis de atletas, as lesões de ombro variam de 4% a 17%.
Essas mazelas normalmente ocorrem por uso repetitivo e podem estar relacionadas com o movimento anormal da escápula, chamada de discinesia escapular; lesões do manguito rotador, que é um conjunto de músculos que atuam como a principal estabilização do ombro; ou pelo chamado GIRD (Glenoumeral Internal Rotation Deficit), que é a diminuição ou déficit do movimento de rotação medial do ombro dominante em relação ao membro não dominante. Por isso é importante para os fisioterapeutas conhecer tais fatores de risco para um tratamento compatível com as lesões de ombro.
A dor lombar (lombalgia) é muito frequente em atletas ativos, atingindo até 85% de praticantes de forma aguda ou crônica, podendo afastar o praticante das quadras e de torneios.
As causas da dor lombar são inúmeras, mas, quando falamos de tênis, o saque parece ser um dos principais fatores, devido à sobrecarga da coluna de forma repetitiva. Estudos mostram que o serviço com topspin sobrecarrega mais a lombar em comparação ao com slice (underspin) e ao flat (sem efeito). Por isso, ensinar o topspin para atletas muito novos pode aumentar o risco de dor e lesões lombares, como a espondilólise (fratura por estresse de uma parte das vértebras) ou espondilolistese (escorregamento vertebral).
Está entre as lesões musculares mais frequentes no tênis a da panturrilha, ou perna do tenista (tennis leg). Além dessas, as lesões dos músculos relacionados ao ombro, quadril e lombar também são frequentes.
A epicondilite lateral é uma das lesões mais comuns no tênis, caracterizada pela sobrecarga de tendões, principalmente em jogadores recreativos. Não há diferença entre gêneros, ou seja, homens e mulheres parecem ser acometidos na mesma proporção.
A incidência dessa lesão vai de 35% a 51% e, apesar de não estar cientificamente comprovado, acredita-se que ela ocorre em menor número de praticantes que realizam o backhand com as duas mãos, pois permite que a mão não dominante absorva mais impacto, diminuindo o risco de falhas mecânicas do punho.
Acredita-se que o uso de antivibradores diminuía a incidência de epicondilite lateral no tenista, no entanto, estudos não suportam essa hipótese. O que vem sendo associado a ela é a experiência do tenista, já que a prevalência é maior em praticantes menos experientes e que não possuem uma boa técnica.
As lesões de quadril correspondem de 1% a 27% de todas as lesões em tenistas. Estudos reportam incidência de 0,8 por 1.000 exposições e prevalência de 1,3 lesão a cada 100 tenistas juvenis competitivos.
O britânico Andy Murray sofreu com dores nos últimos anos que o fizeram cogitar a aposentadoria. Na foto, o bicampeão olímpico aparece esgotado durante sua estreia no Australian Open 2019. Foto: Photo: Ben Solomon/Tennis
Uma pesquisa investigou o tamanho de músculos do quadril em tenistas profissionais e encontrou diferenças no trofismo (tamanho) deles quando comparado o lado dominante com o não dominante do atleta. Foi possível observar que o lado não dominante possui músculos com maior trofismo, e que isso pode levar a dores no quadril a partir de bursites e tendinites. Concluindo, tenistas estão mais susceptíveis a lesões no quadril não dominante em relação ao dominante.
Além disso, foi encontrada uma correlação entre jogadores de tênis e osteoartrite (doença progressiva e degenerativa de desgaste da cartilagem óssea, popularmente conhecida como artrose) de quadril. Um grande estudo verificou que ex-atletas de tênis possuíam 250% mais sinais de desgaste do quadril em relação a pessoas que não praticavam esportes.
As lesões de joelho são muito frequentes no meio esportivo em geral, e no tênis não é diferente. Estudos chegam até a reportar que lesões no ligamento colateral lateral (LCL) e do menisco medial são mais frequentes no tênis em comparação a outras modalidades. A lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) também possui incidência relevante, com 10% a 13% de todas as lesões que ocorrem no joelho.
Além dessas mazelas, a dor patelofemoral (também conhecida como síndrome da dor patelofemoral – SDPF) e a tendinopatia patelar (doença do tendão patelar) são comuns em tenistas. Devido a essa alta incidência de lesões no joelho, diversos programas preventivos vêm sendo elaborados a fim de evitar que elas ocorram.
Existe grande polêmica em relação à participação no esporte e a osteoartrite de joelho. Enquanto alguns pesquisadores associam o esporte à degeneração precoce, outros afirmam que atividade moderada não está associada a essa doença.
Essa lesão possui uma incidência de aproximadamente 13% em atletas de tênis, afetando em maior parte o navicular (osso do pé), vértebras, metatarsos (osso do pé) e a tíbia (osso do perna). Atletas com idade inferior a 18 anos foram mais atingidos em comparação aos adultos. Diversas são as causas e, dentre elas, o erro de gesto esportivo, erro de pegada na raquete e sobrecarga de treinamento estão como principais fatores causadores que precisam ser corrigidos.
Existem alguns fatores de risco que podem predispor a lesões relacionadas ao tênis, mas, ao mesmo tempo, algumas características que são ditas como predisponentes para lesão não são comprovadas cientificamente. Então, vale comentar um pouco sobre esses fatores de risco.
Idade
Apesar de muitas pessoas acreditarem que indivíduos com a idade mais avançada têm mais chance de sofrer lesão, estudos comprovam que isso não verdade, até o presente momento.
Gênero
Acredita-se, por vezes, que as mulheres são mais frágeis do que os homens ou que os homens são mais expostos ao esporte e que isso contribui para surgimento de lesões, mas ambas as informações também não foram comprovadas. Assim, não existe predominância de lesões entre os gêneros masculino e feminino.
Volume/Intensidade de Treino e Jogo
A intensidade de treino está diretamente relacionada com o surgimento de lesões. Estudos mostraram que atletas com epicondilite lateral treinavam cerca de 8 horas semanais enquanto os que não tinham a lesões treinavam, em média, 5,5 horas.
Nível do Praticante
O nível do tenista não tem interferência no surgimento de lesões, no entanto, jogadores menos experientes sofrem mais lesões por estresse no punho e cotovelo devido à vibração gerada pela raquete, consequência de erros de técnica. Já os profissionais estão submetidos a uma carga maior de treinamento, o que tende a igualar a quantidade de lesões adquiridas em comparação aos mais novos.
Empunhadura
A empunhadura que o tenista utiliza na raquete pode influenciar no desenvolvimento de lesões no punho e mão. Em geral, as pegadas do tipo Western e semi-Western geram lesões de sobrecarga nos tendões que estendem o punho e lesões de cartilagem; enquanto a pegada do tipo Eastern leva a lesões de sobrecarga dos tendões do polegar e que fletem o punho.
Transmissão de Vibração
As propriedades das raquetes interferem na transmissão da vibração para os braços, porém não há estudos que comprovem que a vibração pode ter relação com o surgimento ou agravamento das lesões.
Tipo de Quadra
Estudos avaliaram o número de jogos interrompidos por lesões em partidas de Grand Slam e verificaram que os confrontos realizados em grama tiveram menores índices, enquanto os jogos em quadra rápida apresentaram maior número de partidas incompletas.
Sempre use uma corda sintética, fina e com tensão de, no máximo, 50 libras. Crianças deveriam usar 40 libras quando encordoadas em máquinas eletrônicas ou 45 libras quando encordoadas em máquinas analógicas.
Abrams GD, Renstrom PA, Safran MR. Epidemiology of musculoskeletal injury in the tennis player. Br J Sports Med. 2012 Jun;46(7):492-8.Referências Bibliográficas
Sell K, Hainline B, Yorio M, Kovacs M. Injury trend analysis from the US Open Tennis Championships between 1994 and 2009. Br J Sports Med. 2012 Aug.
Colaboradores:
Renan Higashi e Gustavo Toledo
Publicado em 6 de Abril de 2019 às 11:00