Instrução mental

“A obrigação é ganhar dele” E agora?

Como reagir quando você enfrenta um tenista melhor do que você? Como fazer para lidar com situações como essa?


VOCÊ SABE QUE SEU ADVERSÁRIO é teoricamente melhor que você. E agora, o que fazer? Esta questão pode ser respondida de diversas maneiras.

Poderia simplesmente dizer: jogo é na quadra e só termina na última bola. Você tem duas pernas, dois braços, uma cabeça e uma raquete, assim como seu oponente. Não se preocupe com a teoria, mas, sim, com a prática. Jogue o seu jogo e não se intimide pelo nome ou pelos resultados que ele tem. Muito simples e racional. Verdadeiro, nem tanto, porque existe principalmente o aspecto mental a ser considerado.

A psicologia do esporte trataria dessa questão com base na terapia cognitiva comportamental que acredita que a interpretação de uma situação influencia as respostas emocionais e fisiológicas de um indivíduo.

Pois bem, as primeiras perguntas a se fazer diante dessa situação é: “Que evidências você tem a respeito disso? Como esse adversário é melhor que você? Já jogou contra ele antes? Como foi o resultado?”

Esse tipo de questionamento é uma técnica chamada de “questionamento socrático”, que busca entender o que está se passando com o atleta. O que vem na cabeça dele quando pensa nessa situação? Qual é o seu “pensamento automático”? A partir daí, ele terá um sentimento que irá refletir no seu comportamento dentro da quadra e, consequentemente, no seu desempenho.

Então, por exemplo, a ansiedade ou o medo poderão desencadear uma reação fisiológica e, dessa forma, um comportamento que poderá ser:

  • Entrar na quadra sentindo um “frio na barriga”, suando muito e se colocando de cabeça baixa. Ou seja, com a autoestima ruim, o que o levaria a ter um desempenho abaixo do normal;
  • Estar consciente das dificuldades do jogo, mas conseguir se controlar e jogar o seu tênis, lutando e se esforçando para fazer o melhor possível;
  • Estar consciente das dificuldades do jogo e, se superar, tendo um rendimento ótimo e, consequentemente, surpreendendo o adversário e vencendo o jogo.

Preleção

Essa situação onde o jogador, na preleção de uma partida, escuta o técnico dizer: “Vai lá e entra sem pressão, joga solto, porque a obrigação de ganhar é dele”, é muito comum, mas não é cuidada da forma que merece ser. Isso pode parecer um bom conselho, porém, pode também atrapalhar o tenista.

Parece fácil, mas não é. Quem conversa com o atleta sobre os seus sentimentos com relação a um jogo ou a um adversário? Pode-se fazer um trabalho ou “treinar” esse atleta para lidar com esse tipo de situação? Claro que sim. Precisamos de investimento nesse sentido. O psicólogo deveria estar presente nas equipes de competição para dar suporte aos técnicos e jogadores. Uma situação aparentemente simples como essa deve levar em consideração a personalidade do atleta, sua história de vida e suas experiências em torneios.

Então, o psicólogo do esporte irá, a princípio, fazer uma anamnese do jogador, coletando características pessoais (tipo de personalidade), história familiar, dados do dia a dia e objetivos a serem alcançados. Posteriormente, será traçado um plano de acompanhamento desse atleta paralelamente aos treinos e as competições.

Como exemplo de outras técnicas cognitivas que geram um bom resultado, há o treino mental, que utiliza a visualização e a mentalização para melhorar o nível da ativação, atenção, habilidade de imaginação, concentração e formação de imagens e ideias positivas. Há ainda os cartões de enfrentamento, que são utilizados para interromper padrões negativistas. Também, o relaxamento muscular e mental, e a respiração que buscam o controle, a tranquilidade e a volta a um estado de concentração, atenção e motivação. Além disso, existem as técnicas de bio e neurofeedback, que permitem modificar uma resposta fisiológica em função da informação que se tem e de como isso pode variar de acordo com a preparação do atleta.

O tênis de competição é um esporte mental que exige mais do que se supõe. Se você é um tenista com características de uma pessoa disciplinada, que vai à luta, que é persistente, que gosta de desafios, está no caminho certo para ser um vencedor. Se você é um tenista que tem potencial, mas ainda faltam alguns degraus para ser um vencedor, doe-se mais e treine, porque pode chegar lá.  Agora, se o tênis é uma diversão, um lazer, um meio de fazer amigos ou uma atividade física realizada com a intenção de melhorar a saúde, relaxe e não se preocupe com resultados e com o que dizem a respeito de um adversário. O importante é o sentimento de ter tentado fazer durante o jogo aquilo que de melhor foi possível no momento.

Por Roberta Menezes

Publicado em 24 de Março de 2016 às 15:08


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