Experiência

A dualidade da força

O que vale mais: a força da juventude ou a sabedoria dos anos?


Quem nunca perdeu para um "tiozinho" na vida que atire a primeira pedra. A situação pode variar um pouco, mas é sempre assim: Você, todo pomposo, do mais alto pedestal da "arrogância" de sua juventude - que naquele momento de sua vida significa que é eterna -, entra em quadra para jogar contra um "senhor", cujos cabelos já levemente grisalhos e os golpes não tão fluidos deixam-lhe ainda mais confiante na vitória. A partida inicia e logo a sua altivez e prepotência parecem se justificar. Aces, winners, golpes que não voltam para o seu lado da quadra. Aquele adversário, a quem o tempo puniu com os anos, parece indefeso diante de seu arsenal, cuja principal arma é a força. Porém, de repente, os aces parecem diminuir. Os winners também rareiam. As jogadas de efeito somem. E você se vê lutando para não perder o jogo.

"O que aconteceu?", talvez você se pergunte. Do seu lado da quadra, você está certo de que nada mudou. Sua virilidade pueril continua a mesma. O que mudou, contudo, é sua cara de empáfia, que, aos poucos, vai se transformando em um desespero aflitivo e que pode, no fim, tornar-se uma vergonha sem tamanho.

"O que aconteceu?" Seu "senil" oponente, que jamais voltará a ter as jovens pernas e braços musculosos de outrora, apresenta um tênis "indecifrável" para você. Subitamente, os seus golpes já não são mais efetivos e, para cada acerto, você acumula o dobro ou o triplo de erros.

"O que aconteceu?". Quando a partida termina e você vê que perdeu o jogo para aquele "senhor", talvez (na verdade, quase com certeza) seja esta a pergunta que ainda estará martelando a sua cabeça.

ELE SABE O CAMINHO

A resposta está exatamente naquelas cãs (talvez seja bom explicar aos mais jovens: cãs é um termo antigo para designar cabelos brancos). Aquele "tiozinho" já não tem mais a velocidade e a agilidade que você, na flor da idade, apresenta. Seus golpes são mais suaves, os movimentos mais curtos e, às vezes, mais lentos. Contudo, há algo que fez com que o jogo dele seja quase mortal para você: a experiência.

O que isso significa? Ele pode não ter golpes potentes, mas sabe usar a sua força contra você. Ele não é veloz, mas conhece todos os atalhos da quadra. Ele pode não definir os pontos, mas sabe jogar com a sua cabeça para que você cometa os erros que ele precisa.

Se você é daqueles que sempre joga com outros garotos de sua idade e está acostumado a bater nas bolas que vêm com o peso do topspin, a primeira coisa que ele fará será jogar bolas completamente sem peso, flutuando, para o seu lado da quadra. O que você fará? Mandará todas no alambrado.

Assim que você se ajusta a essa artimanha, ele descobre outro ponto para explorar. Então, se você é daqueles garotões que usa aquelas empunhaduras muito viradas, à la Rafael Nadal, seu adversário "veterano" vai variar bolas baixas e altas, sempre tirando-a de seu ponto ideal de contato. Na verdade, ele vai jogar aqueles slices - que você bem sabe o quão complicados são de tirar do chão - que farão com que você se canse mais e não lhe permitirá uma bola de ataque efetiva. Por outro lado, ele, quando necessário, também vai levantar bolas que passarão sobre os postes de iluminação, para que você não o ataque novamente ou ele se recupere de uma bola muito angulada.

Tão logo você descubra um antídoto para isso, um novo problema aparece. De repente, seu oponente "ancião" parece estar sempre nos lugares certos. Quando você bate na bola, ele já está lá esperando no canto exato da quadra. É, meu caro, ele desvendou seu padrão de jogo e está fazendo algo que todos os treinadores pedem para que você faça: antecipar-se. Ok, não fique se culpando por isso também. São poucos os jovens que conseguem ter uma boa leitura do jogo. Esta qualidade geralmente só aparece com a idade, ou seja, com muitos anos de quadra.

Nesse sentido, seu oponente "decrépito" ainda parece ter "escondido" o jogo, pois, do nada, é capaz de mudar de tática de um ponto para o outro ou mesmo durante um ponto, alternando bolas sem peso com topspin, slices com chapadas, bolas fundas com curtas, drives de fundo com jogo de rede. Sim, meu jovem, a idade parece fazer com que ele também adquira aptidão para atuar de diferentes formas, coisa que você não está acostumado de tanto jogar com seus coleguinhas somente do fundo da quadra.

Há ainda outro problema a enfrentar: o jogo mental. Você quer definir as coisas rapidamente? Ele freia o ritmo, toma mais tempo para sacar e para receber. Você não gosta de conversa ou brincadeiras? Ele aproveita os intervalos entre os games ou mesmo entre os pontos para falar algo, seja um elogio à sua jogada viril bem sucedida, seja uma jocosa depreciação à própria condição de "velho" que o impede de ser mais competitivo - obviamente tudo estudado, planejado para tirar você do sério.

QUE A FORÇA ESTEJA COM VOCÊ

Enfim, é preciso reconhecer que a sua juventude lhe traz vantagens físicas, mas que é necessário juntá-las com aptidões mentais para vencer com a tranquilidade que você acha que deveria ocorrer sempre. A força de sua juventude tanto é uma arma sua quanto dele. A sabedoria é o que se busca nestes confrontos e é a chave para uma vitória sem perturbações.

Então, não menospreze, pois isso certamente fará seu adversário mais forte. Jogue com paciência, apesar de isso ser difícil na sua idade, e a determinação de quem está jogando contra alguém do mesmo nível; assim a partida tende a ser mais fácil de suportar mentalmente e uma eventual derrota pode ser encarada sem uma lamentação excessiva. Esteja preparado para qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Um oponente mais velho e mais "sábio" (para não dizer manhoso) saberá como lutar contra qualquer tipo de arma que você lhe apresentar e fará tudo para anulá-la.

Por fim, lembre-se: é diante dos inimigos mais poderosos que os mais fracos lutam melhor, pois a sua sobrevivência não depende de suas forças, mas de sua audácia e astúcia. Como diz Sun Tzu, "não se deve pressionar um inimigo desesperado", pois ele lutará com a coragem do desespero. Então, como lembra o mestre chinês: "bons guerreiros atraem o inimigo a si; não são eles que atacam o inimigo".

Arnaldo Grizzo

Publicado em 21 de Outubro de 2009 às 08:49


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