Conheça e entenda o passo mais importante da movimentação do tênis
Elson Longo em 16 de Setembro de 2016 às 15:35
O tênis é um esporte em constante evolução. Das muitas transformações vistas nos últimos tempos, a mais contundente foi a movimentação. A cada década, os jogadores foram se tornando mais rápidos, resistentes, intensos e com melhores técnicas para realizar seus deslocamentos.
O jogo de pés foi, com o tempo, tornando-se cada vez mais complexo em padrões motores, configurando tipos de passos exclusivos para cada direção e distância a ser percorrida. O treinamento sistemático e específico para a incorporação dos diferentes tipos de passos tornou-se elemento imprescindível nas rotinas dos jogadores. O treinamento técnico, que outrora estava confinado aos golpes, transbordou para o âmbito da movimentação.
Buscando-se categorizar os diversos passos do tênis, usou-se as distâncias como o primeiro parâmetro de diferenciação. Foram atribuídas três distâncias: curta, média e longa. A distância curta compreende até três metros de onde se encontra o jogador. A média está entre três e seis metros, e a longa é definida para mais de seis metros percorridos pelo tenista.
No diagrama, a linha amarela representa um deslocamento de até três metros. Como este deslocamento pode ser em qualquer direção, ela acaba criando uma área circular, representada pelo círculo vermelho. A essa área dá-se o nome de primeiro anel de movimentação. Ela simboliza todos os deslocamentos possíveis em até três metros de distância. A segunda linha, roxa, está relacionada com os deslocamentos entre três e seis metros. Surge o segundo anel de movimentação, representado pelo anel circular azul. Nessa área residem todas as possíveis movimentações de três a seis metros. De forma análoga, a linha preta significa os deslocamentos com mais de seis metros, além do segundo anel. Surge o terceiro anel de movimentação que é composto por qualquer movimentação com mais de seis metros (na figura representado pedagogicamente pela área amarela, sabendo que este último anel não tem limite definido).
Cada um desses anéis de movimentação comporta um grupo de passos específicos que varia, em muitos casos, segundo a direção adotada. A pergunta mais importante é: qual seria a porcentagem de bolas golpeadas em cada um desses anéis? A resposta é capaz de nos guiar com precisão em qual desses setores seria o mais importante do ponto de vista da movimentação. E essa resposta é um tanto inusitada: 10% das bolas são golpeadas a mais de seis metros do jogador, 10% são golpeadas entre três e seis metros e 80% são golpeadas em até três metros de distância. Isso implica que, de cada dez bolas rebatidas, o jogador se desloca até três metros em oito bolas. Por essa razão, fica evidente que a movimentação curta é a mais importante, pois engloba a maioria dos golpes executados.
A pergunta seguinte, após essa conclusão, surge rapidamente: como seria a técnica de movimentação para distâncias curtas? Seguramente, como essa é a zona mais importante, o tipo de passo associado a ela seria, com certeza, o mais importante do tênis. E a reposta é “duplo ritmo”.
Célula primordial dos deslocamentos no tênis, o duplo ritmo é um tipo de passo nada natural. Sua criação não possui data exata, situa-se por volta do fim da década de 1970, mas sua autoria é bem definida. O treinador colombiano, Pato Alvarez, radicado na Espanha, foi o criador dessa ferramenta. Aos poucos, mais e mais tenistas trataram de incorporar esse passo e, atualmente, ele permeia uniformemente os jogadores de elite do tênis.
O duplo ritmo é um deslocamento feito através dos pés, e não das pernas. O jogador estabelece uma base, com os pés mais separados que os ombros e, impulsionando simultaneamente com os dois pés ao mesmo tempo, promove um pequeno salto na direção desejada. Nesse processo, os pés praticamente não alteram sua separação. Dessa maneira, as pernas em si não mudam sua posição, mas o jogador se move. Utiliza-se a musculatura da parte baixa da perna, a articulação do tornozelo e a musculatura e tendões dos pés.
A sequência de fotos ilustra um exemplo de um passo duplo ritmo. O leitor deve estar surpreso pela sutileza desta movimentação. Para quem esperava um passo grande, terá que se contentar com o tamanho diminuto. Como é um passo direcionado às distâncias curtas, ele cobre pequenos deslocamentos, mas confere enorme precisão. Como a bola está perto, o jogador busca precisão através desse passo no estabelecimento das distâncias de golpeio. Mas por que um passo tão antinatural é a melhor opção para distâncias curtas?
Multidirecional
Não importa a direção, o jogador pode usar o duplo ritmo para mover-se em direção à bola. Não tem que usar passos diferentes se a bola está à direita ou à frente. Um só passo para qualquer direção. Isso confere respostas de movimento instantâneas.
Grande equilíbrio
O tênis é um esporte de precisão. Dessa forma, o equilíbrio é fundamental. Se estamos com a base das pernas mais aberta que os ombros, estamos bem equilibrados. Assim, o duplo ritmo confere grande equilíbrio, uma vez que, durante toda movimentação, a base fica maior que os ombros.
Precisão
Devido à sua pequena amplitude, o jogador consegue executar vários duplos ritmos enquanto a bola percorre sua trajetória. Essa grande frequência de pequenos passinhos permite ao jogador ir ajustando sua distância à bola, estabelecendo o espaço correto para golpeá-la perfeitamente. Essa característica confere ao duplo ritmo o nome alternativo de “passos de ajustes” muito usado no dia a dia pelos treinadores.
Ajuda a preparação do golpe
O leitor atento e detalhista deve ter percebido, no conjunto das fotos, que, enquanto o jogador faz um duplo ritmo, sua raquete está em movimento para trás, realizando a preparação do golpe. Note onde está a raquete na primeira foto e compare com a última. Essa constatação evidencia uma das propriedades mais importantes em um jogador: a coordenação de pés e mãos. O tenista deve ir armando o golpe enquanto se desloca para rebater a bola. Ao contrário do que alguns possam pensar (que o jogador se movimenta para depois preparar o golpe), a movimentação e a preparação são eventos simultâneos. Pela grande estabilidade que o duplo ritmo confere ao tenista durante a movimentação e pelo fato de as pernas praticamente não alterarem sua posição em relação ao jogador, esse passo proporciona grande conforto à parte superior do corpo para realizar a preparação do golpe.
Rápida transição para a fase de carga
As pernas possuem duplo papel para o jogador. Primeiro, elas são responsáveis pelo deslocamento. Segundo, é nelas que se inicia o processo de realização do golpe. Existe um momento muito importante na produção de golpes, em que o tenista finda sua movimentação, estabelecendo a distância de golpeio, e cria a base para golpear a bola. Ele posiciona os pés e flexiona as pernas estendendo-as em seguida (sem pausa) para impulsionar o quadril e tronco para a realização da batida. Essa ação de flexionar as pernas denominamos de carga. A carga é fundamental para a geração de potência, pois é a primeira fonte de energia de um golpe. Portanto, criar a base de golpeio é crítico para se conseguir a participação das pernas no processo de execução da batida. Como no duplo ritmo, as pernas já estão separadas, há grande equilíbrio e precisão, o processo de estabelecimento da base para a carga fica muito ágil. Os pés já estão praticamente na configuração da base de golpeio possibilitando ao jogador rapidamente usar as pernas. Imaginem um jogador correndo para golpear uma bola. Em um determinado instante, ele terá que diminuir a velocidade e reorganizar os pés em uma base. Isso leva tempo e nem sempre é possível. Por isso, alguns tenistas, sob pressão de tempo, golpeiam correndo, não aproveitando a contribuição mecânica da energia das pernas para o golpe. Na sequência de fotos, podemos ver essa transição em detalhes.
O mais importante
Um passo pequeno em tamanho, dotado de uma coordenação bem específica, nada natural e que requer muito treino. Apesar de ser tão atípico, nele se inicia a maioria dos golpes. Esse é o duplo ritmo, o passo mais importante do tênis.
Nas imagens 1 e 2, o jogador está na parte mais alta em relação ao solo de um duplo ritmo, aterrissando no chão; nas imagens seguintes, já estabelecendo a base de golpeio (imagens 3 e 4). Em seguida, na imagem 5, continua descendo, criando a carga para o golpe. Ao chegar no final da carga, as pernas se estendem, impulsionando o quadril e o tronco, auxiliando o movimento da raquete para frente, como visto nas imagens 6, 7 e 8. É incrível a sincronia entre o final da carga e o “turning point” (instante em que a raquete deixa de ir para trás e começa a ser acelerada para a frente). O duplo ritmo permeia a preparação, o final da carga está sincronizada com o final da preparação e, finalmente, a extensão das pernas inicia o movimento da raquete para a frente.