O que fazer para as crianças serem tenistas taticamente mais eficientes?

Descubra como funciona a divertida alternância entre dinâmicas cooperativas e opositivas

Susana Silva em 28 de Julho de 2016 às 10:56

Folheando uma revista de tênis brasileira dos anos 1980, deparei-me com fotos de aulas de tênis em grupo e das chamadas “clínicas” – cursos intensivos com duração de dois dias a uma semana – que eram sucesso na época, com filas enormes de tenistas esperando sua vez de bater na bolinha. Imaginem, nos dias de hoje, se alguma criança ficaria quieta em uma fila com dez pessoas, para rebater apenas uma ou duas bolas e voltar para o final, esperando de novo sua oportunidade de rebater...

Interessante notar como a pedagogia do ensino do tênis mudou desde então, acompanhando a evolução pedagógica do processo ensino-aprendizagem em todas as modalidades esportivas. De um ensino tecnicista baseado em repetições e orientações do professor – para que os movimentos ficassem tecnicamente perfeitos –, surgiu uma geração de tenistas que sabia bater na bola, mas que não entendia como jogar o jogo de modo taticamente plausível. Agora, porém, vem tomando corpo uma pedagogia baseada em partidas, na qual os alunos entendem taticamente como o jogo funciona desde o começo do aprendizado.

Ora, se comprovadamente o ensino do jogo partindo da tática para se chegar à técnica vem dando bons resultados – e é impressionante a qualidade das partidas em quadras vermelha e laranja protagonizadas por crianças “criadas” no sistema Play and Stay, é preciso dizer que não são apenas as bolas e as quadras reduzidas as chaves do sucesso. A maneira como o tênis é ensinado faz muita diferença.


Dinâmicas
E aí entram as tais dinâmicas cooperativas e opositivas. Nas aulas para crianças, recomendamos fortemente os trabalho em grupos, pois as possibilidades e as variedades táticas geradas por cada elemento da turma os deixarão mais inteligentes. Explico: se em uma aula individual a criança recebe sempre as mesmas bolas enviadas controladamente pelo professor, na aula em grupo, ela receberá bolas diferentes de muitas crianças e precisará desenvolver sua percepção do voo da bola rapidamente para se posicionar bem para rebatê-la.

Além de as habilidades perceptivas serem desenvolvidas, as habilidades interpessoais também evoluem mais rapidamente. Por meio das dinâmicas, as crianças aprendem desde cedo que, para jogar bem, é preciso praticar e, para praticar, é preciso cooperar, é imprescindível a ajuda do outro. Somando-se a isso, podem aprender o que é jogar com alguém, e não contra alguém: eu posso querer vencer meu adversário, mas não preciso considerá-lo meu inimigo. As rivalidades podem continuar existindo, mas uma grande carga emocional pode ser poupada quando a criança entende que os reais adversários estão dentro dela mesma. Mas isso é assunto para outro artigo.

Do ponto de vista técnico, o fato de a própria criança aprender a lançar bolas (com a mão ou com a raquete, o chamado “autolançamento” ou “saque por baixo”) na direção de um alvo no solo para o colega rebater, gera maior controle do próprio corpo e aprendizado dos movimentos dos golpes biomecanicamente mais eficientes. Simples assim.

Na prática
Vamos ver como essas dinâmicas funcionam na prática, passo a passo:

Detalhes
Os passos 2 e 3 devem ser feitos em ordem de dificuldade de habilidades, a saber:

Em todos os passos, de 1 a 4, o rodízio de posições entre as crianças em aulas, festivais e disputas é altamente recomendável, para que experimentem cooperar e competir com companheiros diferentes.

Em equipe
As atividades cooperativas e opositivas podem ser feitas também por equipes: se há 12 crianças em seis quadrinhas vermelhas, seis delas formam um time, seis, outro. Nesse caso, as atividades de “bater o recorde” podem contabilizar as trocas de três duplas versus as trocas das outras três duplas.

Esse esquema cooperativo “lançar-rebater” pode ser feito nas aulas para aprendizado dos golpes de fundo, dos voleios e também do saque. No caso da aula de saque, o movimento de arremesso por cima da cabeça na direção de um alvo é um excelente educativo para que o braço dominante entenda como irá se comportar e, de quebra, a outra criança pratica a devolução (arremesso ao alvo – rebater ao alvo – agarrar).

Em todas as dinâmicas, sejam elas cooperativas ou competitivas, o professor deve imprimir uma contagem para que as crianças saibam que dupla ou time ganhou, quem perdeu, e efetuar os rodízios para as próximas atividades. Em grupos grandes, a disputa pode ser feita por tempo, com uma rodada de experiência, uma valendo e uma revanche. Ou então as crianças podem revezar suas posições em exercícios/joguinhos que vão até 4 (quem fizer 4 pontos vence, para já acostumá-las com a contagem do 15, 30, 40 e Game).

Exemplificando essa contagem: em um exercício no qual um aluno lança ao alvo e o outro rebate, o ponto para a dupla acontece quando o ciclo é completado: lançamento, rebatida e recepção da bola depois de um quique. Ou, cada bola dentro do arco, seja do lançador ou do rebatedor, marca um ponto.

E o professor, depois de organizar as crianças na atividade, faz o quê? Fica libre para observar e dar feedback de qualidade sobre os critérios técnicos do golpe que é o tema daquela aula.

Os bons professores são excelentes criadores de tarefas: combinam habilidades de percepção, de deslocamento e de rebatida em progressões cada vez mais desafiadoras, de maneira que as crianças possam interagir com autonomia. As boas tarefas motivam as crianças, permitem que o professor possa observá-las atentamente e fornecer informações para que o desempenho delas melhore.

Sim, queremos que as crianças se divirtam, compreendam o jogo o mais cedo possível, e disputem pontos, mas sem perder a técnica de vista jamais.

 

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