Entrevistas
Gaúcho de 63 anos falou sobre o auge de sua carreira, transição, tênis feminino e muito mais
Crédito: Green Filmes
Marcos Hocevar sem dúvida foi um dos melhores tenistas de simples do Brasil. O gaúcho chegou ao ranking #30 da ATP Tour, disputou os Grand Slams e encarou os melhores tenistas da época como John McEnroe, Ivan Lendl, Guillermo Vilas, Stefan Edberg, entre outros.
Jogando simples, conquistou dois vice-campeonatos em São Paulo, no Brasil, e Kitzbuhel, na Áustria. Nas duplas, foi campeão de Buenos Aires, na Argentina, ao lado de João Soares e vice-campeão também com Soares no saibro argentino e chegou na final em Viena, na Áustria, com Cássio Motta.
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Hocevar protagonizou uma grande carreira no tênis profissional em uma época onde poucos tenistas tinham equipe no circuito. Marcos, por exemplo, viajava pelo mundo sozinho, sem técnico, preparador físico, etc.
Com toda sua experiência, o ex-tenista participou do Encontro Internacional da CBT e conversou com a Revista Tênis sobre o momento do tênis brasileiro e outras histórias interessantes. Confira o bate-papo:
O que você está achando do Encontro Internacional da CBT?
Em primeiro lugar, eu estou achando algo inédito, me parece um sonho. Eu sempre sonhei com a ideia de unir todos - todos mesmo! - que trabalham com tênis, que jogam, com experiências e pessoas jovens, técnicos que estão iniciando a carreira, técnicos que já passaram.
Ou seja, é muito importante para o tênis. Isso deveria até ser copiado por diversas confederações, é um grande exemplo. Com essa diretoria da CBT, que eu prezo muito, é importante que se saliente assim, dentro da própria Confederação, com o presidente Rafael [Westrupp], com o Eduardo Frick [Gerente de Eventos e Alto Rendimento] e com o Luiz Peniza [Coach na ADK] formam um trio maravilhoso para todos aqui. Esses três nomes são importantes para a união de todos esses atletas e técnicos.
Thomaz Koch e Marcos Hocevar. Crédito: Green Filmes
O que significou para você essa troca de experiência com os mais novos?
Eu aprendi muito com eles. Além de dar alguns conselhos, achei importante porque eu aprendi com eles. Com essa troca de mensagens e de experiências, existe sempre um crescimento constante. Isso foi o que aconteceu aqui. Tanto por parte dos técnicos quanto por parte dos atletas.
O que você achou estrutura da CBT aqui em Florianópolis?
Eu acho importante a Confederação ter suas quadras. Sempre foi um grande sonho e agora está se concretizando. Eu acredito que vai ajudar muito o tênis e principalmente o fato de serem em quadras duras. Hoje em dia acontece em diversos países um número enorme de torneios nesse tipo de quadra.
Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira?
Eu me sentia muito bem nos torneios importantes, como os Grand Slam. Joguei todos eles. O máximo que cheguei em todos foi a terceira rodada. Me marcaram também as experiências em torneios na Europa. Semifinal em Barcelona e Gstaad, final em Kitzbuhel, semifinal no Paris indoor. Diversos torneios importantes, mas eu tinha um quesito especial de me sentir bem em todos, que era também uma coisa que desde a infância eu pretendia.
Mesmo com as dificuldades, fui galgando ano a ano e foi um pouco inversa a minha situação. Eu vim para Porto Alegre como treinador e a partir daí passei a mesclar três coisas: estudo, ensino de tênis e treinamento. Eram três turnos duros e, além disso, ainda tive que fazer o quartel. Após todas essas situações eu saí do Brasil tentando, com o dinheiro que eu consegui como técnico, viajar para os Estados Unidos e a partir daí comecei a jogar o circuito.
João Zwetsch, Daniel Melo, Marcos Daniel, Marcos Hocevar e Guga. Reprodução CBT
Como é ter uma marca tão expressiva (#30) no ranking de simples?
Eu me sentia muito orgulhoso, principalmente pelo fato de me falarem: "Puxa! Tu não és brasileiro". Eu sou brasileiro e tenho muito orgulho de levantar a bandeira em todas as situações fora do meu país. Naquela época a ideia era de que no Brasil o tênis não figurasse porque não era muito popular e não passavam os jogos na televisão. Não se tinha muita informação. Felizmente tivemos um número #1 do mundo e com muito orgulho e satisfação a gente pode dizer que o Brasil tem muito tênis sim.
Como você avalia o momento dos simplistas no circuito da ATP?
Eu acredito que com todo esse esforço, envolvendo CBT, técnicos, e capacitação, que é uma coisa importante, vai funcionar. Mas volto a repetir: o ponto básico é a popularização e com certeza muito mais quadras para a prática. Dificilmente se constrói o tênis sem ter onde ser praticado. O esporte fica limitado aos clubes. Quanto mais quadras, melhor para o tênis brasileiro.
Falta incentivo do governo e das prefeituras locais para termos mais quadras públicas?
É importante porque se tu olhar em todos os outros esportes, principalmente nas escolas, temos uma quadra de vôlei, uma de basquete e de futebol. Sempre. Só com a prática e a popularização teremos resultados.
Paulo Cleto, Thomaz Koch, Rafael Westrupp e Marcos Hocevar. Crédito: Green Filmes
O que representa para você ver caras como o Bruno Soares na elite do circuito mundial de duplas?
Primeiro que eles (duplistas) são extremamente profissionais e trabalharam especificamente na dupla. Isso é uma coisa que "inédita". Mas é importante salientar que houveram diversos grandes duplistas nas outras gerações como Thomaz Koch, Edison Mandarino, Carlos Kyrmair, Cássio Mota, entre outros. Não desmerecendo a dupla atual, mas todos eles tiveram participação importante no tênis mundial.
Como você enxerga o tênis feminino brasileiro ao longo dos anos?
Eu vejo uma importância enorme em ter toda essa estrutura aqui. Vimos aqui que o pessoal está levando mais consideração o papel do preparador físico, isso é muito importante no feminino. No exterior se vê meninas fortes, rápidas e que atuam com uma velocidade enorme. Tudo isso irá acrescentar no tênis, mas volto a repetir: necessitamos mais popularização, mais gente jogando e desse grupo enorme surgirem boas jogadoras. Já é difícil para os países que tem Grand Slam encontrarem boas tenistas, imagina no Brasil.
Premiação no jantar de encerramento do Encontro Internacional CBT. Crédito: Green Filmes
O que você está achando do momento dos tenistas juvenis?
Nós sempre tivemos ótimos jogadores no juvenil. Acho muito legal isso que está acontecendo, da mudança do próprio ranking mundial em que haverá um espaço maior entre os 100 melhores juvenis do mundo justamente para atingir essa fase de transição. Isso será mais importante para os juvenis, que terão mais oportunidades de entrar em torneios profissionais. Essa transição é um pouco complicada então dando mais oportunidades para os juvenis, teremos com certeza melhores tenistas no profissional.
O que você observou do nível dos juvenis aqui no Encontro?
Eu achei ótimo. Tem muito a melhorar ainda, mas eu vi bons tenistas, dedicados, constantes, buscando ouvir os conselhos de tantos bons técnicos que temos aqui e seguindo a linha de decisão, de melhorar tanto sua parte técnica quanto a parte física.
Publicado em 18 de Dezembro de 2018 às 15:41
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