Instrução tática
Explicamos a dinâmica da aproximação e selecionamos cinco dicas para você aprimorá-la
Foto: Divulgação/US Open
Muitos consideram o approach um blefe. Sim, ele pode funcionar como uma jogada ardilosa, que leva o seu rival ao erro, mas, na maioria das vezes, a aproximação à rede é, na verdade, uma tacada sem volta, é tudo ou nada, “all in”, como dizem no pôquer.
Uma das primeiras dicas táticas que todo professor de tênis dá aos seus alunos é: “Faça os approaches na paralela”. Eles costumam falar isso sem dar muitas explicações, apenas pelo fato de a questão ser extremamente óbvia. “Bata na paralela” e caso encerrado. Simples assim. Mas nem sempre é isso o que ocorre na hora do jogo, com muita gente optando por cruzar e subir à rede. Às vezes, com sucesso, porém, na maioria delas, sem.
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Por que os treinadores não se cansam de falar para que você faça os approaches paralelos? Há algumas boas razões. A primeira e mais óbvia é que, quando se bate na cruzada, você tende a chegar em posição de defender a rede com atraso e, ainda por cima, deixa uma metade inteira da quadra aberta para uma passada. Ou seja, é uma questão de geometria em que os ângulos e as distâncias a serem cobertas estão todos contra você.
Ao correr diagonalmente, você precisa cobrir uma distância maior para chegar ao ponto ideal de cobertura dos possíveis ângulos de passadas. Além disso, por ter de andar mais, geralmente você não estará tão próximo à rede quanto gostaria para fazer um bom primeiro voleio. Com a batida cruzada, a bola também fica por mais tempo no ar, dando mais tempo de reação para o oponente, que pode se posicionar melhor. Ou seja, o tempo e a geometria estão contra você e a favor do seu rival.
Foto: Divulgação/US Open
Outro fato é que, quando se faz um approach cruzado muito rápido ou muito distante da rede, você também fica vulnerável as passadas cruzadas, já que dificilmente conseguirá mudar de direção para alcançar a bola adversária. Lembre-se ainda que o trabalho de pernas é primordial para um bom voleio. Portanto, é muito mais fácil realizar um split-step (o famoso saltinho de antecipação) quando seu corpo está indo em direção à rede, ou seja, paralelo a ela. Quando se faz um approach cruzado, seu corpo está diagonal em relação à rede e esse desalinhamento faz com que você precisa ajustar o corpo para o voleio. Essa manobra leva tempo e costuma resultar em uma perda de equilíbrio temporária.
Por fim, se sua bola cruzada não for longa ou angulada o suficiente, quicando perto do meio da quadra, você estará em apuros no pior cenário possível. Diante dessa situação, seu oponente estará se movendo para a frente (em vez de para trás ou para os lados, como seria desejável) e terá diversas opções de passada.
Depois de todas essas explicações, fica claro que tentar approaches na cruzada sempre será algo temerário, quando não, ineficiente e pouco inteligente.
No entanto, o approach cruzado não pode ser de todo demonizado e evitado. Há, sim, poucas situações em que você deve tentar executá-lo, com cautela e bom planejamento. Para ter chance de sucesso, primeiro você deve bater na cruzada quando a quadra estiver aberta, e com o pensamento de realizar um winner ou quase isso, ou seja, uma bola forçada, garantindo que seu adversário, caso a alcance, não consiga uma boa resposta.
Depois, vale a pena fazer um approach cruzado quando seu rival possui uma deficiência muito notória em um de seus golpes. Dessa forma, se ele tiver uma esquerda terrível, você pode realizar uma bola cruzada na direção desse golpe, sem receio. Outra situação é quando você faz o approach no contrapé do oponente, especialmente contra aqueles jogadores que gostam de correr de um lado para o outro da quadra.
Mas lembre-se: a tendência é que esses momentos de approach cruzado sejam exceções no jogo e não uma regra.
Foto: Divulgação/US Open
Para tirar o melhor de seu approach na paralela, é preciso observar algumas recomendações:
1. Approaches são bolas profundas. A bola deve quicar a cerca de 1,5 metro da linha de base, assim você tem alguma margem de erro. Uma bola profunda lhe dá mais tempo para chegar à rede e, ainda por cima, reduz as chances de seu oponente conseguir uma passada cruzada, forçando-o a tentar um golpe mais arriscado na paralela, onde ele terá menos ângulo, pois você está bem posicionado. E, caso seu golpe caia bem perto da linha, ele ainda será obrigado a fazer quase um bate-pronto, perdendo potência e precisão.
2. Approaches são bolas velozes. Você não deve pensar neles como winners, mas como bolas mais velozes que vão atrapalhar seu rival. Você não quer cometer erros não forçados em approaches, mas também não quer dar bolas fáceis para seu adversário lhe passar. A frustração será a mesma em ambas as situações, portanto, vá firme para a bola.
3. Approaches são bolas de precisão. Você precisa fazer com que seu oponente desloque-se ao máximo. Suas chances na rede aumentarão muito se ele mal conseguir alcançar a sua bola.
4. Approaches são batidos com a bola na subida. Elas são bolas de ataque e você quer diminuir o tempo de reação do seu adversário.
5. Approaches podem ser batidos com slice. Especialmente no backhand, essa é uma ótima opção, pois a bola corta o ar rapidamente, quica e desliza na quadra, ficando baixa, especialmente em pisos rápidos. Tentar uma passada em bolas como essa é muito complicado. Esse tipo de approach é ainda mais indicado contra rivais que jogam com empunhadura Western.
Publicado em 27 de Setembro de 2019 às 07:00