Habilidades psicológicas também devem ser trabalhadas para melhorar o desempenho
Rodrigo Scialfa Falcão em 22 de Fevereiro de 2010 às 13:40
Na edição anterior você aprendeu que trabalhar as habilidades psicológicas é fundamental em um esporte como o tênis. Agora, sabendo de sua importância, vamos falar de como treinar isso. Então, um treino de habilidades psicológicas significa desenvolver competências que possam favorecer os atletas durante os treinos e competições para aumentar a performance.
Como o nome já diz, este treino referese à prática sistemática e consistente de habilidades mentais e psicológicas relacionadas ao desempenho esportivo. Vale destacar que esses aspectos estão acontecendo durante todo o cotidiano esportivo, mesmo que não tenhamos consciência deles. Mas antes ainda é preciso diferenciar habilidades psicológicas e métodos psicológicos. Habilidades são qualidades e aprendizagens a serem obtidas, métodos são procedimentos ou técnicas empregadas para desenvolver essas habilidades. Tal como as habilidades físicas, as psicológicas - como manter a concentração, regular os níveis de ativação e manter a motivação - necessitam de tempo, prática, repetição e conhecimento para que se possam melhorar o desempenho.
Vamos a um exemplo. Suponhamos que um jovem jogador de basquete (apenas para fugir do tênis um pouquinho), em um momento crucial de uma partida, tem a possibilidade de arremessar três lances livres e pode determinar a vitória de sua equipe. Seus arremessos nos treinos têm um aproveitamento superior a 85%. Porém, naquela fração de segundo, o jovem atleta lembra que sua equipe depende dele para vencer a partida, que seus pais estão presentes no ginásio e tem uma torcida barulhenta toda na expectativa de seu arremesso. Seus ombros enrijecem, sua respiração fica mais ofegante e a bola parece que pesa 20 vezes mais. E ele erra os arremessos. No treino seguinte seu técnico entende que ele deve arremessar mais para acertar nas horas decisivas. Será que é falta de treino de arremessos sua dificuldade? Ou é falta de habilidade psicológica nos momentos decisivos? Se no treino ele tem um aproveitamento excelente, por que nas competições ele peca?
Permanecer calmo sob pressão, manter a concentração diante das distrações e manter a confiança ante ao fracasso simplesmente não são inatos. Pelo contrário, são habilidades que necessitam de prática sistemática e integração com as capacidades físicas e outras habilidades. Veja o exemplo de Michael Jordan, que foi um gênio do basquete, o jogador mais completo desse esporte. Sua enorme competitividade era considerada como um dos seus principais atributos por seus adversários, que ainda diziam que seu traço mais impressionante era se manter calmo nos momentos mais agudos das competições.
Erros mentais
Todos os participantes de esporte e atividade física são vitimas de abatimento e de erros mentais, por exemplo:
1 Você se retira da quadra descontente após perder um jogo para um adversário tecnicamente mais fraco, em um jogo que você tinha grande possibilidade de ter ganho;
2 Você fica paralisado, sem ação em um momento crítico de uma competição;
3 Sua mente fica muito dispersa em um game em que você começa perdendo;
4 Você ficou deprimido porque não estava se recuperando rápido de uma lesão;
5 Você fica revoltado ou frustrado com seu desempenho e culpa a si mesmo quando não acerta as bolas da mesma maneira que faz nos treinos ou nos jogos amistosos;
6 Você não tem desejo ou motivação de se exercitar para melhorar seu saque. Estes exemplos são comuns e rotineiros. Os componentes mentais e emocionais frequentemente obscurecem e transcendem aos aspectos puramente físicos e técnicos do desempenho. Em qualquer esporte, o sucesso ou o fracasso de um atleta resulta de uma combinação de capacidades físicas e mentais.
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Reforço positivo
Um componente extremamente importante do processo de aprendizagem e que auxilia no treinamento de habilidades psicológicas é o reforço positivo. Reforço positivo é o fornecimento de uma recompensa para o indivíduo (são gestos, um aceno, um sinal de positivo, um sorriso, um elogio, palmas, um olhar mais expressivo) imediatamente depois de determinado comportamento adequado. Comportamentos que são reforçados tendem a ser repetidos, aqueles que não são reforçados tendem a se reduzir. Reforçadores que são controlados são chamados de reforçadores arbitrários ou eventuais, planejados ou programados, todos predeterminados pelo técnico ou treinador com o intuito de melhorar a performance.
Reforçadores não programados ocorrem no curso normal da vida cotidiana e são chamados de reforçadores naturais. No esporte, há dois tipos de reforçadores naturais. Um deles é o feedback sensorial inerente ao desempenho de uma tarefa. Esse tipo de recompensa envolve as sensações táteis, auditivas e visuais quando se realiza bem uma tarefa.
A "sensação" de quebrar o saque de um adversário, a visão de uma jogada de efeito que deu certo, a satisfação pessoal (sentimentos que ocorrem por esse acontecimento) quando joga-se da maneira planejada, a visão de uma bola de basquete passando pelo aro e o som da cesta. Todas essas consequências naturalmente reforçadoras não são programadas por ninguém, dependem de acontecimentos incontroláveis do esporte. Outro tipo de reforçador natural é a reação de terceiros. Uma saudação dos companheiros de time por uma boa jogada, o aplauso da torcida ao conseguir um ace no tênis, o grito da multidão ao ocorrer um try no rugby.
Quanto mais os atletas forem expostos aos reforçadores naturais associados à realização de uma habilidade, maior a probabilidade de que treinem essa habilidade por conta própria, pois os reforçadores naturais continuarão a ocorrer. Tirar o máximo proveito dos reforços naturais no ambiente esportivo é uma tática interessante para programar a generalização de uma habilidade dos treinos para as competições, mantê-la no longo prazo e auxiliar no desenvolvimento das habilidades psicológicas no esporte.