Quem tem medo da popularização do tênis?
Por Suzana Silva em 29 de Agosto de 2014 às 00:00
O tênis pode ser uma ferramenta educativa fantástica e é possível trabalhar com grandes grupos de modo seguro e interativo
DEPOIS DAQUELE COMENTÁRIO infeliz sobre o tênis, proferido pelo então Presidente da República em 2010 para um garoto no Rio de Janeiro (“Tênis é o esporte de burguês, #*#*! Por que você não pratica natação?”), usarei meu par de óculos cor de rosa para diminuir a visibilidade dos preconceitos alheios e escolherei chegar à conclusão de que tudo não passou de ignorância. Ignorância não no sentido pejorativo, mas em seu sentido original de ignorar ou desconhecer os fatos. Sou ignorante em vários assuntos, aliás, mesmo naqueles nos quais me considero “assuntada”, reconheço minhas limitações. Mas, vamos lá.
Todos os pais e mães que podem proporcionar um esporte para os filhos pensam em natação por motivos de segurança em primeiro lugar: querem poder ir à praia ou a uma piscina e não ter medo de deixar os filhos brincar na água. Em um segundo momento, ficam sabendo por professores e pediatras que natação é excelente para a saúde, pois trabalha o corpo harmoniosamente e fortalece a capacidade respiratória de seus praticantes. A natação não é um esporte presente nas escolas brasileiras devido aos altos custos de manutenção das piscinas; mas há centros aquáticos em muitos municípios, rios, mares, e os preços acessíveis das escolas particulares fazem da modalidade um dos esportes mais praticados pelas crianças brasileiras.
O primeiro contato da criança com esportes na escola acontece com o “quarteto de ferro”: futebol, voleibol, basquetebol e handebol. Coincidentemente ou não, em todos esses esportes, o Brasil já foi campeão mundial (o título do handebol demorou mais, mas esse é assunto para outro dia...). Então, por que o tênis não pode entrar no currículo das aulas de Educação Física ou nos cursos extracurriculares também? A meu ver, professores de Educação Física que atuam em escolas ignoram o fato de que o tênis pode ser mais uma ferramenta educativa fantástica e que é possível trabalhar, sim, com grandes grupos de modo seguro e interativo, com a moderna pedagogia do Play & Stay.
Coordenadores pedagógicos de cursos de graduação em Esporte e Educação Física ignoram que há professores de tênis formados capazes de conduzir a disciplina “Tênis de Campo” com maestria. Professores de tênis ignoram que o meio escolar e acadêmico representa mais uma frente de trabalho e uma grande oportunidade para nosso esporte crescer cada vez mais. Nossa modalidade está mais organizada do que nunca no Brasil, e as universidades, mais abertas. Precisamos ocupar esse espaço. Nunca estivemos tão preparados para assumir essa tarefa, com cursos de capacitação para o “Tênis Escolar” sendo realizados em todo o Brasil, e com toda a informação dos centros mais avançados de tênis disponível na internet.
O tênis é um excelente formador de caráter, de pessoas fortes, além de extremamente divertido
Mas, vamos supor que nós, praticantes, professores e atletas de tênis ainda não saibamos vender bem o nosso peixe. Não sabemos ainda convencer as escolas e universidades de que nosso esporte é interessante e que pode ser uma disciplina afinada com a proposta pedagógica de cada instituição de ensino. Imaginei tabular uma pesquisa comparando o tênis com outros esportes mais populares nas escolas brasileiras, naquilo que desenvolve em seus praticantes física, mental e emocionalmente. O quadro ficaria mais ou menos como na tabela ao lado*.
Uma observação atenta dá uma ligeira vantagem ao tênis, pois:
1. O tênis possibilita vivências individuais, em duplas ou por equipes. Mesmo nas disputas individuais, o atleta precisa trabalhar em equipe para chegar lá, pois não há como praticar sozinho;
2. No tênis praticado individualmente, todas as ações táticas são disparadas e executadas pela mesma pessoa, o que exige dela concentração total o tempo todo, reações rápidas, agilidade e antecipação sem precedentes; além de um condicionamento físico que lhe permita cobrir toda a extensão da quadra;
3. Um tenista pode planejar sua estratégia geral de jogo previamente com o treinador ou parceiro de treinos, mas, durante a partida, deverá necessariamente tomar suas decisões sozinho e sofrer todas as consequências;
4. Emocionalmente, nas disputas de simples, o tenista enfrentará os desafios e precisará se recuperar a cada ponto por meio de suas forças interiores (claro que ele pode também chamar a torcida para si...). Não dá para culpar o parceiro, nem para se esconder em falhas alheias;
5. No tênis, os jogadores não podem “fazer cera” ou marcar “gols de mão”;
6. Respeito e fair-play fazem parte do DNA do esporte, desde sua criação pelos nobres da Idade Média. Mas será que respeito é bom só para os “burgueses”?;
7. Por essas e outras razões, nosso esporte é excelente formador de caráter, de pessoas fortes, além de extremamente divertido.
Uma das responsabilidades de todos os profissionais envolvidos no tênis e também de seus aficionados é primar pelo desenvolvimento do esporte no Brasil e no mundo. Já disseram por aí que quem ama, cuida. Com argumentos fortes, podemos conseguir mais espaço para o nosso esporte favorito em praças e parques públicos, escolas públicas e particulares, clubes, academias, e conquistar cada vez mais praticantes e maiores públicos para prestigiar torneios profissionais e amadores.
Ter sido criado em castelos europeus confere ao tênis uma aura de realeza, mas, atualmente, esse jogo pode ser praticado em qualquer lugar, por qualquer pessoa, e o número de projetos sociais com tênis e de projetos de tênis em escolas brasileiras não nos deixa mentir. Nada a temer, a não ser a ignorância.
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* A tabela publicada não reflete pesquisa científica formal, apenas a opinião da autora.